Movimentos de Cultura afro-brasileira ganham espaço em Ouro Preto

    A comunidade ouro-pretana, em especial a afro-brasileira, tem um motivo a mais para comemorar este início de ano. A Prefeitura realizou no sábado, dia 11 de janeiro, a entrega da obra de reforma e ampliação da Casa de Cultura Negra de Ouro Preto.

    O espaço, localizado ao lado da Igreja de Santa Efigênia, propiciará a realização de atividades sociais e educativas, e o fortalecimento da cultura e tradições do município, abrindo oportunidades e valorizando a história do negro na cidade.

    A casa passou por reforma e ampliação, ganhando um novo módulo e um anfiteatro na área externa.

    Para o prefeito Júlio Pimenta, “a Casa de Cultura representa tudo que há de importante na tradição ouro-pretana. A valorização da arte, da música, das manifestações culturais, enfim, de tudo que é produzido no município”.

    Francisco Ferreira Guimarães, conhecido como Mestre Batata, do grupo de Capoeira, endossa as palavras do prefeito. “A reforma e ampliação dessa casa é de muita importância, era o apoio que a gente precisava para realização de nossas atividades, e que nunca tivemos antes”, frisou ele.

    Segundo Kedison Guimarães, capitão da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, “a reforma e ampliação desse espaço  torna cada vez mais expressivos os movimentos de cultura negra na cidade de Ouro Preto.”

    A Casa de Cultura Negra de Ouro Preto é importante não só para o bairro Alto da Cruz, onde está inserida, mas para todos os bairros adjacentes, destaca o presidente da Associação de Moradores do Padre Faria, Efigênio Oswaldo de Souza, o Fijas. “Toda comunidade de Ouro Preto é beneficiada, principalmente os bairros Alto da Cruz e Padre Faria. O guardião da Casa é a própria comunidade. Conservando e cuidando todos serão bem atendidos.”

    A gestão da Casa será feita pela Diretoria de Promoção da Igualdade Racial e o espaço será ocupado pela Amirei (Associação dos Amigos do Reinado) e pelo Firop (Fórum da Igualdade Racial de Ouro Preto). O local abriga ainda as reuniões da Associação de Moradores do Alto da Cruz (AMAC).

    Entrega do certificado de bem imaterial

    Durante a solenidade de entrega da Casa de Cultura Negra, a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito recebeu o Certificado de Patrimônio Imaterial de Ouro Preto. Realizada em Ouro Preto há mais de 200 anos, tornou-se uma tradição da fé afrodescendente.

    “É de suma importância a preservação das manifestações culturais e religiosas da nossa cidade. A força destas manifestações vem da devoção, festa e religiosidade. Herança do nosso passado africano, está enraizada na nossa cultura, mantendo-se viva em Ouro Preto”, ressalta o secretário de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni. “Os dossiês foram feitos de forma colaborativa, com participação dos requerentes”, completou o secretário.

    Kátia Silvério, presidente da Amirei, fala da importância do momento. “Esse reconhecimento fortifica o reinado, reforça a nossa identidade como negros ouro-pretanos, dá visibilidade à nossa raiz africana dentro de Ouro Preto e traz dignidade para esse povo que construiu esta cidade”.

    Com esse reconhecimento, Ouro Preto tem agora seis registros como patrimônio imaterial: ofício das bordadeiras e rendeiras, os doces e a Festa do Divino Espírito Santo de São Bartolomeu, a Cavalhada de Amarantina e a Festa de Nossa Senhora dos Remédios de Santo Antônio do Salto.

    Bandeira de reinado forjada a ferro há 200 anos é entregue restaurada

    Para valorizar ainda mais a celebração, foi entregue totalmente restaurada uma bandeira de ferro forjada há mais de 200 anos e encontrada recentemente na capela das necessidades no Padre Faria. As imagens pintadas na bandeira são de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, todos negros.

    Este achado comprova que a tradição do reinado surgiu na antiga Vila Rica há mais de 200 anos. “Por ser feita em ferro fundido e no século XVIII, ela foi feita pelas mãos de quem conhecia o ofício. Naquela época, quem dominava isso eram os africanos de Benin, Gana e Burkina Faso, sequestrados pelos portugueses e trazidos para cá”, disse a historiadora, pesquisadora da cultura africana e diretora de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Ouro Preto, Sidnéa dos Santos.

    O trabalho de recuperação da bandeira foi coordenado pelo conservador e restaurador Aldo César de Araújo. “Fizemos a reconstituição pictórica de todas as áreas de perda. Fizemos o mínimo de intervenção possível, sem causar falso histórico. Todos elementos reintegrados já existiam na própria bandeira”.

    A relíquia não pode ser exposta constantemente ao sol e nem à chuva. Ela terá uma programação especial durante as próximas realizações do Reinado, evento que abre o calendário cultural de Ouro Preto, no mês de janeiro.

    Com estas conquistas, Ouro Preto abriu as comemorações dos 40 anos do título de Patrimônio Cultural Mundial da UNESCO, primeiro concedido ao Brasil, em 1980.

    Fotos: Ane Souz 

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