O Presente dos Deuses
    Por: Gustavo von krüger

    Diz-se “presente de Deus” (ou dos Deuses), alguma coisa excepcionalmente favorável que caiu no colo de alguem, ou apareceu em algum lugar, sem que o beneficiário tenha feito qualquer esforço (aparente) para receber tal dádiva.  Às vezes vem em forma de um talento especial (Para música, ou para ganhar dinheiro), uma beleza única, ou, mais comumente verificado, um recurso natural que torna a economia de determinado lugar riquíssima. 

    Os árabes têm certeza de são o povo escolhido por Alah, porque colocou-os em cima de um mar de puro petróleo; o Rio de Janeiro foi premiado por uma pintura natural de excepcional magnitude; e por aí vai.

    A questão é que muito do que se chama “presente de Deus” é, na verdade uma feliz coincidência de um determinado desenvolvimento ou capacidade com algum elemento natural, que seja favorável naquele momento. Explico com um exemplo: O petróleo só passou a ser realmente importante, no momento em que a tecnologia de transporte descobriu o que fazer com ele. E nisso, o grande beneficiado foram os Estados Unidos, pois tinham petróleo abundante, uma indústria em ebulição, e gente que teve a sacada genial de fazer do automóvel a combustão, um produto de consumo barato. Os árabes, que se consideram abençoados, se beneficiaram por inércia, e quando o petróleo reduzir sua importância, o “presente de Deus” terá ido, sem que eles tivessem a menor influência sobre isso. Em resumo, “presente de Deus” é a transpiração de pessoas que aproveitam recursos à sua volta e os transformam em fontes de riqueza e criação de valor. Resultado do espírito empreendedor.

    Atenas, por exemplo, recebeu seu nome em uma disputa entre o deus dos Mares )Posseidom) e a Deusa da Sabedoria (Atena). Nesta disputa, cada um dos deuses presenteou a cidade ainda sem nome com uma dádiva: Posseidom deu uma fonte de água, simbilizando o domínio sobre os mares e sobre o comércio mediterrâneo, enauqnto a deusa Atena deu uma oliveira, significando a paz e a sabedoria. Bom…o resto é história, mas a cidade ficou com a paz e a sabedoria, (e passou a chamar-se Atenas), e de forma matreira dominou o comércio assim mesmo, pois estava numa localização excepcional, um porto no Mar Egeu, e com sabedoria pôde dominar o comércio no Mediterrâneo. Com isso desenvolveu-se cultural e tecnologicamente, sendo beneficiado pelos momentos de paz, deixando as obrigações militares com outras cidades mais vocacionadas à luta.

    Nisso, desembarcamos em nossa terra, nossa Minas Gerais, que foi agraciado várias vezes com seus “presentes dos Deuses”. Especialmente nossas cidades de Mariana e Ouro Preto. Ouro, Ferro, Alumínio, quedas d’água, rios navegáveis como nosso São Francisco, Nióbio, terras agricultáveis a perder de vista, cidades históricas e paisagens incríveis. Mas incrivelmente parece que ficamos sempre esperando a próxima safra de presentes divinos, ficando ao Deus dará (E algumas vezes ele vem e dá mais alguma coisa), pois aceitamos a dependência eterna dessas bençãos da natureza. E sentimos os efeitos quando elas falham. Parece que um efeito colateral de um “presente de Deus” é o entorpecimento do espírito empreendedor.

    Logo, é natural constatar que um ano depois que estouramos mais uma barragem de mineração, nossa economia caiu 1,24%, enquanto o Brasil experimentou a retomada do crescimento econômico de 1,2%. Ou seja, se a mineração pura e simples não funciona, Minas Gerais decresce. E não deveria ser assim, pois a mineração gerou riqueza por décadas, sem que essa riqueza tenha criado raízes. Na verdade, sequer a sede das mineradoras tem seu centro de decisões no estado.

    Se aproximamos ainda mais nossa lupa às cidades de Mariana e Ouro Preto, vemos dependência ainda maior, pois metade da economia e quase 60% do orçamento vem de atividades primárias, sujeita a ciclos ou pior, sujeitas ao acaso de uma tragédia que pode simplesmente desmantelar toda uma atividade produtiva da qual depende uma boa parcela da população.

    É lamentável, pois ambas cidades têm muito mais do que minerações. Têm gente (Capital humano), centros de ensino e pesquisa (Universidades e Institutos Tecnológicos), tradição urbana e industrial, terras agricultáveis e um parque turístico riquíssimo (Mais um “presente de Deus”, consequente dos primeiros anos de colonização da terra.

    Falta apenas que o espírito empreendedor acorde.