Por: Thomas Lanz
Há um ano atrás o rompimento de mais uma barragem da Vale deixou o país atônito. A tragédia foi muito grande tirando a vida de mais de 200 pessoas, fora os incontáveis prejuízos causados à população. Até hoje o sofrimento é grande pela demora dos embates jurídicos e administrativos.
Recentemente os principais dirigentes da empresa foram legalmente declarados culpados pela tragédia e esforços estão sendo despendidos pela nova administração para que as coisas melhorem do ponto de vista operacional, administrativo e da governança.
A governança, que tem como um de seus principais pilares o Conselho de Administração e seus comitês, está recebendo a atenção que merece por parte de seus acionistas conforme recentemente publicado. Mas vamos aos fatos.
Infelizmente existe até hoje a preocupação de se nomear conselheiros e membros de comitês segundo o seu bom relacionamento com o mercado financeiro. É isto que está sendo levado em em detrimento das reais necessidades para o preenchimento de cargo de conselheiros de uma empresa como a Vale.
A função primordial de um Conselho é zelar pelo bom desempenho da empresa, o seu desenvolvimento futuro, seu zelo pela sustentabilidade e responsabilidade social, a equidade e transparência nas informações frente a todos os seus stakeholders. Interessante seria, antes de preencher as cadeiras de um Conselho, mapear quais são as prioridades que merecem atenção por parte deste órgão. Se um mapa deste tipo fosse elaborado pelos sócios da Vale, a segurança e a sustentabilidade, além da gestão de riscos, encabeçariam a lista de perfis dos conselheiros a serem escolhidos. O que vemos, entretanto, na maior parte das empresas de capital aberto, é o preenchimento das cadeiras do Conselho por pessoas nomeadas pelos principais sócios, seguindo critérios de confiança, reputação, conhecimento teórico em governança e assim por diante. Infelizmente não são nomeados profissionais, com raras exceções, que realmente têm a vivência e a competência adquirida por anos de experiência. Em resumo, falta total equilíbrio na competência das pessoas escolhidas para formar o Conselho.
Há um ano atrás alertamos para o perfil de conselheiros e membros de comitês da Vale. Hoje, um ano depois, foi anunciado que a empresa está realizando uma dança de cadeiras entre os conselheiros, nomeando duas pessoas com amplo conhecimento na área de mineração para fazer parte do Conselho. Isso nos leva a crer que, muito em breve, a composição dos comitês, principalmente aqueles ligados à aspectos de segurança e questões ambientais, deverá ser reformulada.
A responsabilidade de qualquer empresa e em especial as grandes corporações é muito grande frente a sociedade e seus funcionários. É importante que o foco de atenção de um Conselho de Administração não seja apenas dirigido à valoração de suas ações no mercado, mas sim aos demais aspectos que merecem a devida atenção como questões de risco, sócio ambientais, desenvolvimento, responsabilidade social, etc. Um conselho equilibrado, formado por especialistas das mais diversas áreas certamente adicionará um grande valor a qualquer empresa.
Thomaz Lanz é fundador da Thomas Lanz Consultores empresa especializada em consultoria para empresas familiares e famílias empresárias em processos de governança corporativa, planejamento, sucessão familiar e profissional bem como mentoria para gestores de startups a empresas de grande porte.