NOTA CONJUNTA SOBRE O CORONAVÍRUS
Um novo vírus que se espalhou a partir da região de Wuhan, na China, foi classificado inicialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como emergência internacional e, em 11/03/2020, passou a ser considerado uma doença pandêmica. Ele pertence à família dos coronavírus, um grupo que reúne desde agentes infecciosos que provocam sintomas de resfriado até outros com manifestações mais graves, como os causadores da SARS (sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave) e da MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). A confirmação, no dia 26 de fevereiro de 2020, do primeiro caso no Brasil de COVID-19 (coronavirus disease), nome com o qual a doença causada pelo novo vírus foi batizada, deixou a população brasileira em alerta, apesar de o Ministério da Saúde (MS) e autoridades internacionais afirmarem que não há motivo para pânico e que o Ministério de Saúde definiu a estratégia de contenção aos casos e seus contatos e medidas de vigilância epidemiológica nos indivíduos com sintomas respiratórios e em viagem para os países que apresentavam naquele momento com o maior número de casos.. Os números ao redor do mundo se atualizam diariamente, o que impede a quantificação precisa dos infectados. Todavia, de acordo com os dados disponíveis, já se alcançou um total acumulado de mais de 100 mil casos e mais de 4.000 mil óbitos pela COVID-19. A taxa de letalidade desse vírus foi estimada pela Organização Mundial de Saúde entre 0,5% e 3%, sendo mais alta na China e na Itália, e menor no resto do mundo. Esse novo organismo requer atenção, como todo vírus, apresenta uma alta capacidade de mutação e duas diferentes apresentações: 1) a transmissão por pessoas assintomáticas e; 2) resultados positivos, após cura dos casos. Como estamos diante de uma emergência internacional e existem muitas dúvidas científicas sobre o vírus, torna-se importante adotarmos medidas de prevenção, as quais são efetivas. E incentivar o investimetnto governamental para desenvolver medidas efetivas como medicamentos antivirais para este novo coronavírus e o desenvolvimentode vacinas efetivas e seguras. Segundo dados da OMS, os sintomas surgem em torno de 2 dias, com mediana de 5 dias. Sendo assim, os casos sintomáticos — mais importantes na transmissão da doença — devem instituir medidas para limitar o contato com pessoas vulneráveis. Importante destacar, ainda, que a transmissão do novo coronavírus se dá por meio de gotículas espalhadas pelo ar durante tosse, fala ou espirro. O período de incubação, que vai do momento da infecção até o surgimento dos sintomas, dura entre três e sete dias, podendo chegar até a 14 dias. Os sintomas clássicos são febre, fraqueza muscular e tosse seca. Em alguns casos, pode haver coriza, obstrução nasal ou problemas gastrointestinais. É preciso ficar atento e, diante desses sintomas, procurar atendimento em uma unidade de saúde. Não temos ainda dados para definirmos com exatidão a quantidade de casos e óbitos ao redor do mundo, com efeito, faltam informações para que possamos ter um retrato mais exato da realidade. A inexistência, na maior parte dos países, de um sistema de informação de notificação compulsória e de diagnóstico, em nível nacional, comprometem a precisão dos números oficiais, vigorando a imprecisão e, em alguns casos, prejudicando a transparência necessária em casos de epidemias e pandemias. No Brasil, o Sistema Único de Saúde, construído ao longo de 31 anos, apresenta-se com uma virtuosa e forte capilaridade em Estados e Municípios, contando com uma rede de laboratórios estruturada e um sistema de dados reconhecidos mundialmente por sua capacidade de gerar informação qualificada para tomada de decisões baseadas em evidências. Graças a essa virtude característica do SUS, o Brasil pode, com medidas integradas, superar mais esse mal que a natureza nos trouxe. A experiência da China revela-se valiosa e merece análise, uma vez que conseguiu controlar a epidemia, logo após seus estágios iniciais, adotando algumas medidas, dentre elas: 1) Identificar os sintomáticos, isolá-los, realizar os testes para checar a presença do vírus, e só os liberar do isolamento se o resultado for negativo; 2) Identificar os comunicantes e colocá-los em quarentena, mesmo que tenham permanecido assintomáticos por 14 dias; 3) Estabelecer quarentena para toda uma região dependendo da velocidade de transmissão local; 4) Proteger os profissionais de saúde com equipamentos de proteção individual (EPI) adequados. No entanto, compreendemos, que casos de óbitos por doenças evitáveis, são uma tragédia que atinge toda a comunidade, que todos nós temos a responsabilidade para construir estratégias com vistas a impedir esses óbitos. No caso do COVID-19, a taxa de letalidade está entre 0,5 e 3%. Essa taxa de letalidade se aproxima à da gripe espanhola (2 a 3%), mas é mais elevada do que a da epidemia pela influenza pelo H1N1 (0,02%) ou da gripe sazonal (0,01%). Entretanto, 80% dos casos da doença são leves, podendo não ser reconhecidos e manter a cadeia de transmissão da doença. Por isso, é de extrema importância que medidas sejam adotadas para todas as instituições. As Universidades Federais, em consonância com as autoridades sanitárias, destacam que o mais importante é adotar medidas preventivas. Dentre elas, destacam-se: lavar e higienizar as mãos, principalmente antes de consumir algum alimento e após tossir ou espirrar. Nesses últimos casos (tosse e espirro), a pessoa deve utilizar lenço descartável para higiene nasal e jogar no lixo após o uso. Não tendo lenço descartável, deve-se cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir; lavar as mãos a cada duas horas e, principalmente, após passar por locais ou equipamentos de uso público (meios de transportes, laboratórios, academias de ginástica, bancos, corrimões, supermercados, computadores e mouses, entre outros); evitar tocar nas mucosas dos olhos, nariz e boca; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes bem ventilados e; sempre que possível, usar álcool em gel a 70% para higienizar as mãos. Nossos campi das universidades se encontram em locais estratégicos nas cidades, por isso, as medidas de prevenção se dividem em gerais e específicas. Ações em universidades dos Estados Unidos e União Europeia já estão em curso, com suspensão de aulas. No entanto, podemos escalonar as medidas de acordo com o comportamento da epidemia: a) Por medidas de prevenção, viagens a países que decretaram estado de emergência ou que a epidemia está no pico de transmissão devem ser evitadas. b) Pessoas da comunidade acadêmica que tenham chegado de viagem de áreas de risco, no caso de assintomáticos, devem ficar em quarentena domiciliar por 7 dias e, no caso de sintomáticos, por 14 dias. c) Caso tenha ocorrido contato com caso confirmado, mesmo que a pessoa seja assintomática, a quarentena deve ser de 14 dias. Três cenários são possiveis, inclusive na mesma instituição, que podem ter seus campi em cidades diferentes, com situação epidemiológica 1) Em universidades onde nenhum caso de COVID-19 tenha sido detectado no município, as atividades devem seguir normalmente, sempre mantendo as medidas de lavagem de mãos e atenção a casos suspeitos. 2) Em universidades cujo a localidade possua casos confirmados: redobrar medidas de proteção nos locais de circulação, como por exemplo, museus, salas de cinema, teatro, dentre outros abertos à população interna ou externa eventos com mais de 100 pessoas devem ser evitados atividades que possam ser realizadas em plataformas digitais devem ser priorizadas 3) Em universidades em que haja casos confirmados: suspender atividades em locais em que haja aglomeração por 14 dias e reavaliar, após esse período, o retorno ou não das atividades; suspender aulas presenciais nos locais onde haja circulação de casos confirmados por 14 dias e reavaliar, após esse período, o retorno ou não das atividades; Em todos os cenários, é necessário que sejam redobradas as medidas de proteção nos locais de grande circulação de pessoas, como museus, salas de cinemas, dentre outros. Devido a situação de pandemia e emergência internacional, essas medidas poderão ser revistas a qualquer momento de acordo com novas evidências científicas. A pauta das Universidades Federais deve-se pautar por uma Política Informada por Evidência, onde visa incorporar resultados de pesquisas nos debates de políticas e nos processos internos do setor público a fim de aprimorar o processo decisório nesta pandemia. O conhecimento científico deve informar o processo de formulação e implementação de políticas tornando-as mais efetivas, e como consequência, pode haver repercussões na saúde em geral, na qualidade de vida da população e no uso eficiente dos recursos. Como apontou Bill Gates, num artigo em 20 de Fevereiro de 2020, Em qualquer crise, os líderes têm duas responsabilidades igualmente importantes: resolver o problema imediato e impedir que isso aconteça novamente. A pandemia de Covid-19 é um exemplo disso. Precisamos salvar vidas agora e, ao mesmo tempo, melhorar a maneira como reagimos aos surtos em geral. O primeiro ponto é mais premente, mas o segundo tem consequências cruciais a longo prazo. Referências: Coronavirus latest: global infections pass 100,000. Nature. 2020 Mar 10. doi: 10.1038/d41586-020-00154-w. [Epub ahead of print] No abstract available. Guan WJ, Ni ZY, Hu Y, Liang WH, Ou CQ, He JX, Liu L, Shan H, Lei CL, Hui DSC, Du B, Li LJ, Zeng G, Yuen KY, Chen RC, Tang CL, Wang T, Chen PY, Xiang J, Li SY, Wang JL, Liang ZJ, Peng YX, Wei L, Liu Y, Hu YH, Peng P, Wang JM, Liu JY, Chen Z, Li G, Zheng ZJ, Qiu SQ, Luo J, Ye CJ, Zhu SY, Zhong NS; China Medical Treatment Expert Group for Covid-19. Clinical Characteristics of Coronavirus Disease 2019 in China. N Engl J Med. 2020 Feb 28. doi: 10.1056/NEJMoa2002032. Lauer SA, Grantz KH, Bi Q, Jones FK, Zheng Q, Meredith HR, Azman AS, Reich NG, Lessler J. The Incubation Period of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) From Publicly Reported Confirmed Cases: Estimation and Application. Ann Intern Med. 2020 Mar 10. doi: 10.7326/M20-0504. WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19 – 3 March 2020. Disponível em https://www.who.int/dg/speeches/detail/whodirector-general-s-opening-remarks-at-the-mediabriefing-on-covid-19—3- march-2020 WHO. Report of the WHO-China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019 (COVID-19).Disponível em https://www.who.int/docs/defaultsource/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-finalreport.pdf Resolução do MS Grupo de Trabalho para orientação sobre o novo Coronavirus Cláudia Aparecida Marliére de Lima – Reitora da UFOP Denise Pires de Carvalho – Reitora da UFRJ Ethel Leonor Noia Maciel – Vice-Reitora da UFES Lucia Campos Pellanda – Reitora da UFCSPA Pedro Curi Hallal – Reitor da UFPel