Estabelecer paz com Israel passou a ser caminho para relação com EUA, avalia cientista político
    Marrocos é o quarto país árabe a normalizar relações com Israel neste semestre, após os Emirados Árabes Unidos, Sudão e Bahrein. Foto: Jack Guez, Jody Amiet/AFP

    O presidente americano Donald Trump anunciou ontem que Marrocos se junta ao rol dos países árabes que reconhecem Israel como estado legítimo. Assim, as duas nações normalizaram relações. Como parte do acordo, os EUA passam a reconhecer a soberania do Marrocos sobre a região do Saara ocidental com a abertura de um consulado americano na região. Da mesma forma como ocorreu com o Sudão, que foi retirado da Lista dos Estados Unidos de patrocinadores do terrorismo em troca da paz com Israel. “O estabelecimento da paz com Israel e a normalização das relações diplomáticas passou a ser a moeda de troca da administração americana para com os países árabes que desejam algo dos Estados Unidos”, afirma André Lajst, cientista político e diretor-executivo da ONG StandWithUs Brasil. 

    No Twitter, Trump declarou ser “outro avanço HISTÓRICO hoje! Nossos dois GRANDES amigos Israel e o Reino de Marrocos concordaram com relações diplomáticas plenas – um avanço massivo para a paz no Oriente Médio!” – em tradução livre.

    Segundo André, o acordo simboliza um avanço relevante em relação ao caminho para a paz entre Israel e os países árabes, já que por quase uma década, a maioria das prefeituras nas grandes cidades marroquinas foi ocupada por islâmicos que tinham uma visão sombria das relações com Israel.  Além disso, quase 10% da população israelense é composta de imigrantes marroquinos ou de origem marroquina, então para a população israelense em geral, isto é celebrado de modo especial. O Marrocos é o quarto país árabe a normalizar relações com Israel neste semestre,  após os Emirados Árabes Unidos, Sudão e Bahrein. 

    Marrocos e Israel retomam agora um contato oficial e restabelecem relações diplomáticas. O país árabe concederá “sobrevoos e voos diretos para Israel e todos os israelenses”, além de selarem o compromisso de uma cooperação econômica, diz a nota da Reuters. O genro do presidente Donald Trump, Jared Kushner, declarou que os dois países reabrirão os escritórios em Rabat e Tel Aviv, “com a intenção de abrir embaixadas”. 

    Um dos principais parceiros comerciais da Europa na África, o Marrocos possui um dos sistemas políticos mais estáveis e inclusivos do continente. Também tem tradição como um centro comercial internacional e mantém sua economia aberta para investimentos estrangeiros. 

    Judeus refugiados dos países árabes

    Antes de Israel declarar independência em 1948, o mundo árabe tinha uma população judaica de quase um milhão de judeus. No decorrer do processo da construção e fundação do Estado Judeu e consequentemente com as guerras árabe-israelense, essa população foi expulsa dos países árabes, sobrando poucos judeus apenas em alguns países. O Marrocos possuía 270 mil judeus antes de 1948, e hoje sua comunidade judaica possui 2.5 mil. Porém, o Rei Mohamed V e seu filho, o atual Rei Mohamed VI, possuem uma relação pessoal e íntima com a comunidade judaica, permitindo visitas de israelenses ao Marrocos. Um principais assessores do atual Rei é o André Azulay, judeu marroquino.

    *Fontes: Reuters e AFP, Oxford Business School e Besa Center.