Martinho da Cunha Oliveira Pessoa: um ouropretano queimado em Lisboa pela Inquisição

    Morador do Salto, ele foi um dos 1.076 brasileiros enviados a Lisboa para serem julgados pelo Tribunal da Inquisição. Maioria morreu na prisão ou nas fogueiras !

    Gerson Barros é pesquisador da
    história dos
    cristãos novos-
    judeus em Mariana, Ouro Preto e
    Piranga.
    Assista no facebook do jornal O ESPETO e na radio web em nosso site a entrevista de
    Gerson Barros e
    Anderson de Jesus.

    Morador do Salto, ele foi um dos 1.076 brasileiros enviados a Lisboa para serem julgados pelo Tribunal da Inquisição. Maioria morreu na prisão ou nas fogueiras !

    Durante os 285 anos da Inquisição no Brasil foram presas 1.076 pessoas, e enviadas a Portugal para julgamento, pois aqui não foi instalado Tribunal da Inquisição.
    A intolerância religiosa era a regra, ainda mais quando a religião era imposta pelo Estado e cerimônias de batismo coletivo eram feitas a força, por exemplo Carlos Mangno no ano de 776 impôs o batismo aos povos conquistados da Germania, região hoje onde é a Alemanha. Muitos logo se rebelaram e se revoltaram, veio a contra-revolta e muito sangue foi derramado.
    Claro que muitos não concordavam como esse batismo forçado, como Ludgero que era bispo na região e teve que fugir para Roma devido a suas críticas. Virou santo depois.
    Isso só demonstra como fé e política caminhavam juntos.
    No ano de 1231 que o Papa Gregório IX autorizou a criação de órgão responsável pela investigação de heresia. A inquisição surgiu pela preocupação da igreja católica de combater o que chamava-se de desvios de fé, e o crescimento de outras religiões ou seitas.
    A Espanha que tinha expulsado os judeus na reconquista do seu território que por mil anos foi ocupado por reinos árabes, conseguiu recriar o tribunal de inquisição em 1478, e Portugal em 1536. Estava aberta a caça aos judeus, aos classificados na época com “desvios de comportamento” ( homossexualismo) e aos tidos como curandeiros, ou feiticeiros.
    A Espanha instalou tribunais da Inquisição em suas colônias, Cartagena, Lima e Cidade do México. Portugal instalou apenas em Goa, na Índia.
    Brasil era visto como solução para perseguição! Aqui não havia tanta vigilância. Logo milhares de judeus, cristãos novos preferiram sair de Portugal e vir para o Brasil
    Mas muitos foram presos e acabaram na fogueira. Seus bens eram divididos entre a Igreja e a Coroa Portuguesa para pagar as custas do processo.
    A inquisição durou até 1820 ! Mais de 40 mil pessoas foram denunciadas ! 1.076 enviadas a Portugal para julgamento.
    Hábitos como não comer carne de porco, varrer para dentro, contar estrelas, dar a benção impondo as mão aos familiares, repousar às sexta à noite até sábado, fritar cebolas com alho e carne, eram considerados atos de famílias com raízes judias, disse Sr, Gerson Barros estudioso do assunto que levanta um estudo histórico inédito sobre as famílias de cristão novos, como eram chamados os judeus, que moravam em Mariana, Ouro Preto, e Piranga.
    “Temos em Ouro Preto a república Sinagoga, com cores branco e azul, símbolo de Israel, onde aconteciam cerimônias secretas dos judeus. Há também a presença da estrela de Davi em pinturas dentro das igrejas. ” Disse Gerson Barros em entrevista ao jornal O Espeto, disponível em nossa página no facebook.
    OURO PRETANO NA INQUISIÇÃO
    Um caso famoso foi do Sr. Martinho da Cunha Oliveira Pessoa, inclusive antepassado da família do poeta Fernando Pessoa. Foi criado no Fundão do Cintra, localidade do Salto, em Ouro Preto, onde residiu por 25 anos, vivendo de comercializar ouro e pedras preciosas, tendo grande sucesso. Corria o ano de 1713 ele com 20 anos foi preso pela primeira vez pelos agentes da Inquisição, que apuravam os casos e decidiam se o acusado ia para Portugal ou não. Porém foi solto em agosto do mesmo ano. Desde então montou teatro, fábrica de tecidos, viajou comprando pedras preciosas e ouro, e participou da “sociedade secreta marrana” outro nome dado aos judeus onde se encontravam para praticar sua religião, nas esnogas, sinagogas escondidas.
    Novamente foi denunciado e se tornou alvo de investigações. Decidiu fugir com a família e contratou o dono de barco português Antônio da Silva, que o traiu, roubou e o entregou as autoridades no Rio de Janeiro.
    Em 2 de março de 1746 foi novamente levado a cadeia da Inquisição acusado de praticar judaísmo com atividades como de promover os jejuns e festas judias como Yom Kipur, onde deve-se lavar todo corpo, cortas as unhas e usar roupas novas.
    Seu julgamento durou um ano, um mês e 22 dias, nesse tempo ele confessou que praticava o judaísmo desde os 13 anos e assumiu ser membro da sociedade secreta dos marranos e ler livros clandestinos, que eram proibidos pela Coroa Portuguesa.
    A tortura era usada nos interrogatórios sendo comum um médico assistir as seções para garantir que o preso não morresse, antes da hora.
    Ele foi queimado em 24 de setembro de 1747 em praça pública em Lisboa. Todos seus bens foram confiscados e repartidos entre a Igreja e a Coroa Portuguesa. Bom lucro!
    Luís Mendes de Sá foi o amigo que denunciou Martinho para se salvar, e também foi queimado em 18 de outubro de 1739. A partir dele que diversas prisões posteriores foram feitas em Ouro Preto, Mariana, e região.
    Em breve convidaremos o Sr. Gerson Barros para falar da presença dos judeus na região e como nos herdamos muitos costumes e hábitos. É uma parte de nossa história que não pode ser esquecida.