Na contramão do mercado, empresas de TI seguem contratando, apesar da crise sanitária e econômica
Ainda durante o curso de Jornalismo, Tatiana Zilio se deu conta de que não tinha muita afinidade com a área da comunicação. No entanto, ela não queria renunciar a todo o esforço que fez para passar no vestibular e ter de começar do zero em uma nova profissão. Depois de formada e pouco mais de dois anos e meio de atuação como jornalista, Tatiana finalmente se convenceu de que não adiantava insistir em uma profissão na qual não se sentia confortável. “Depois de um tempo trabalhando na área, resolvi dar aulas de inglês para praticar algo que eu gostava muito e ter um pouco mais de flexibilidade na minha rotina”, conta.
Histórias como a de Tatiana não são exceções. Um levantamento divulgado pela Catho, em fevereiro do ano passado, mostrou que 90% dos trabalhadores ouvidos desejavam trocar de emprego. A vontade de mudar de segmento de atuação foi um dos principais motivos apontados. E então veio a crise sanitária e econômica e, o que era apenas um desejo, virou necessidade imediata para cerca de 14 milhões de brasileiros que terminaram 2020 desempregados, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na contramão de tantas demissões, uma área viu a demanda por profissionais qualificados crescer consideravelmente e seguiu contratando apesar e por conta da pandemia: a área de tecnologia. Um levantamento da Revelo, empresa de tecnologia para a área de recursos humanos, mostra que as oportunidades na área tiveram um crescimento de 25% em 2020. Além disso, o setor registrou um aumento de 20% a 30% nas médias salariais das profissões com maior demanda.
Especialistas acreditam que, em virtude da aceleração da transformação digital provocada pela pandemia da Covid-19, as carreiras digitais ainda devem se manter em destaque nos próximos anos. “Depois de um ano de pandemia e a necessidade de isolamento social, as pessoas desenvolveram uma série de novos hábitos e comportamentos que devem ser mantidos no futuro, como comprar mais no ambiente online, buscar chatbots para atendimento, além do próprio trabalho em home office. Do outro lado, também temos os investimentos feitos pelas empresas para se adequar à nova realidade. Então, seja por força dos novos hábitos dos consumidores, seja pela demanda das empresas que buscam retorno para o seu investimento, vamos precisar ainda mais de profissionais digitais”, avalia o diretor acadêmico da Digital House Brasil, Edney Souza.
Em meio ao desemprego e às incertezas do mercado para 2021 de um lado e uma área em constante crescimento do outro, as carreiras digitais se apresentam como alternativa para profissionais que buscam uma recolocação no mercado, mesmo que, para isso, precisem passar por um processo de transição de carreira. “A automação dos negócios criou novas profissões na área de tecnologia e as empresas estão cada vez contratando mais esses profissionais. Atualmente, existem mais vagas disponíveis do que profissionais qualificados e fazer a transição de carreira é praticamente a garantia de se manter empregado nesse novo mercado”, enfatiza Souza.
A agora ex-jornalista é um exemplo do aquecimento da área. Depois de ter iniciado e trancado uma segunda graduação, ela decidiu investir em um curso livre de Desenvolvimento Web Full Stack, bastante focado no aprendizado prático e, com isso, fazer uma transição de carreira para desenvolvedora. E, há cinco meses, bem no meio da pandemia, Tatiana conseguiu a sua primeira colocação na nova profissão. “Fazer uma transição de carreira para programação não era meu objetivo inicial, mas acabei me descobrindo nesse mundo. E a possibilidade de investir meu tempo em um curso focado na prática e na formação profissional me deixou muito mais tranquila com a minha decisão,” relata a desenvolvedora.
Assim como Tatiana, muitos profissionais têm apostado em cursos livres como forma de adquirir os conhecimentos técnicos necessários para uma transição de carreira ou mesmo para se lançar ao mercado de trabalho. Como são focados na formação para o mercado de trabalho, os cursos livres possuem duração menor, o que agiliza o processo de mudança de carreira.
O diretor acadêmico da Digital House Brasil conta que, no passado, a escola de habilidades digitais registrou um crescimento de 12,4% no número de alunos em seus cursos de Programação, Marketing, UX, Data Science e Negócios. “Como nossos cursos operacionais são pensados para quem não tem experiência na área, nós temos desde gente estudando para sua primeira profissão até pessoas que estão começando uma terceira carreira”, explica.Fonte:
Du Paulino
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