Mesas de piquenique em Passagem contam muitas histórias e devem ser tombadas como patrimônio histórico

    Mariana tem muitos locais que são considerados como patrimônio arqueológico, ainda que não reconhecidos oficialmente.
    Em Passagem de Mariana ao lado da Escola Estadual Coronel Benjamim Guimarães existem grande mesas de pedra, que foram construídas pelos ingleses no século XIX com lajes enormes!
    Ao explicar o que são aquelas grandes mesas temos que voltar a história mundial, lembrar do ano de 1808 quando o rei de Portugal fugiu das tropas de Napoleão para o Brasil, ele veio protegido pelos ingleses. A partir daí o Brasil abriu deu condições especiais aos ingleses, que lutavam contra os franceses de Portugal. O período de guerra contra Napoleão durou 17 anos !
    Claro que os ingleses aproveitaram a ocasião de protetor de Portugal para explorar as famosas minas de ouro de Minas, e em 1812 já tinham companhias em Passagem de Mariana, Nova Lima, Catas Altas.
    E ainda conseguiram autorização para professar sua religião anglicana, construindo igrejas e cemitérios. A Igreja anglicana de Passagem é a primeira Igreja protestante de Minas !
    Nesse contexto introduziram no Brasil novos esportes, como tênis, futebol, bilhar, boliche e clubes recreativos. Sem falar nas roupas, chapéus, porcelanas, máquinas, trem a vapor, ferramentas, culinária, garfos e facas. Sem falar no vocabulário, palavras foram adaptadas como o “sir” inglês que virou “sô”, também a palavra “guti-guti” vem do inglês “cute”, que significa gracinha. O bolo inglês, o “cake” virou “queca” receita até hoje muito apreciada, pois tem um furo no meio imitando a coroa da rainha! A palavra “uai” vem do “why” que significa “puxa”, “nossa” e também “por que”. Até o chulé vem de “shoes less”, sem sapato.
    Essas e outras expressões de outros povos foram se incorporando a linguagem. Quem nunca falou “obá”, nem sabe que é uma palavra de origem africana, nome de um orixá! Assim foi-se construindo nossa língua, com a convivência de diferentes culturas e costumes.
    O costume de fazer “pic-nic” também veio junto, de sentar ao ar livre e dividir o lanche. Era comum desde antes do descobrimento do Brasil os ingleses fazerem almoços em jardim públicos ou particulares. A palavra jardim vem de “garden”, jardim em inglês.
    Nesse contexto as mesas de piquenique de Passagem foram construídas e usadas por muitos anos. Os ingleses estabeleceram em Passagem em 1817 e venderam a mina em 1923, ou seja foram donos da mina por 116 anos ! E em outras regiões estão até hoje em Minas, com a companhia Anglo Gold Ashanti.
    Ou seja as mesas de piquenique tem uma história, e devem ser preservadas para que essa história não seja perdida! Por isso aquele local deve ser tombado como patrimônio arqueológico e histórico, e somos nós cidadãos que devemos provocar o poder público para isso, antes que destruam as mesas e se perca os registros do passado. Quem não tem passado não tem identidade.
    Urgente que nossos órgãos públicos façam o tombamento e reconhecimento das mesas de piquenique, que hoje estão tomadas pelo mato, em total abandono e descaso.
    Soubemos de um projeto para compra da área das mesas de piquenique da compania Minas da Passagem para construção de uma moderna praça, e a primeira coisa que farão é quebrar as mesas !
    O projeto da nova praça já existe e durante a eleição de 2020 foi mostrado para várias pessoas, eu vi inclusive. Resta saber se vamos considerar nosso passado, nossa herança cultural ou vamos passar borracha em tudo.