Trauma gerado pela reforma da praça Gomes Freire dominou as questões e impediu visão clara dos benefícios do alargamento da rua Dom Viçoso, como acessibilidade e mais espaço para pedestres.
Hoje, dia 26 de outubro de 2021 às 18 horas aconteceu nas dependências do Centro de Convenções de Mariana audiência pública para apresentação do projeto de alargamento da rua Dom Viçoso, ao longo da praça Gomes Freire. Participaram cerca de 100 pessoas. Estiveram presentes na audiência pública os vereadores Zezinho Salete, Ricardo Miranda, Pedrinho Salete, Manoel Douglas, Tikin Mateus, e Maurício da Saúde. Maioria dos presentes era moradores do entorno da rua Dom Viçoso e praça Gomes Freire.
O projeto muito bem feito apresentava uma proposta de acessibilidade, conforto em consonância com as edificações vizinhas. Muito bonito, elegante e prático. Sem ser espalhafatoso. Parabéns para o jovem e talentoso Sr. Thales.
Porém após a apresentação começaram as críticas, não em relação ao projeto mas nas consequências que poderia ter em relação ao trânsito com a mudança de sentido, instalação de mão e contra mão, uso de carro ao redor, e logo abordou-se a polêmica obra de reforma da praça Gomes Freire que dominou as questões.
A mudança de foco se deu depois de algumas pessoas presentes alegarem que foi aprovado o projeto da praça Gomes Freire de um jeito e foi feito de outra forma. O que impediria de novamente acontecer isso com o projeto de alargamento da rua Dom Viçoso ? Alegaram algumas pessoas .
O trauma gerado pela reforma a toque de caixa da praça Gomes Freire fez com que muitos se unissem também contra o alargamento da rua Dom Viçoso, já vista por alguns como outra forma de violência contra o patrimônio histórico, o que não é verdade.
Ou seja muitos já vieram com decisão tomada de ser contra, baseadas em experiências passadas. Freud explica.
A Prefeitura de Mariana errou ao querer apresentar, discutir e votar numa única discussão o projeto de alargamento da rua Dom Viçoso. Muita informação sem a participação dos interessados. Por isso o trabalho de nosso querido amigo saudoso Careca do PV era importante: “governo participativo”. Onde não apenas apresenta-se, mas antes ouve-se, propõem, dialoga. Como bem diz o lema da AVON cosméticos: “a gente conversa, a gente se entende”.
A prefeitura de Mariana errou também ao apresentar o projeto apenas na hora da audiência. O projeto, muito bem feito a primeira vista, deveria ter sido apresentado em uma audiência apenas para essa finalidade, seguida de outra audiência para sugestões, modificações e para dirimir dúvidas surgidas. Ai então outra audiência para votação, pois assim os interessados votariam com mais propriedade, e não com apenas expectativas de experiências passadas ou de problemas que poderiam acontecer.
A prefeitura errou também ao apresentar o projeto apenas no telão. A apresentação de um projeto para quem o fez ou participa dele é uma coisa. Agora apresentar um projeto para quem não conhece são outros quinhentos !
Com tantos recursos tecnológicos, como vídeos, animação, ou mesmo o velho papel ajudaria aos presentes a ter melhor ideia do que foi proposto.
A prefeitura errou ainda ao não comunicar de forma clara que podiam participar da audiência pública todos marianenses interessados, apesar de esforçar-se para isso. Não houve nem um vídeo de convocação explicativo com recursos midiáticos mostrando o projeto . A audiência ficou voltada aos moradores do entorno do rua Dom Viçoso, se identificando como os que mais “sofreriam as consequências.”
Ou seja, com a audiência pública se resumindo numa luta entre preservação e modernismo, novo x velho, razão e emoção, Mariana perde chance de avançar na acessibilidade e oferecer pelo menos no centro histórico um local mais aprazível para cadeirantes, idosos e crianças devido a resistência a mudanças ou falta de explicações ou falta de inclusão de possíveis modificações.
Todas as objeções ou dificuldades propostas pelos presentes na audiência pública poderiam ter sido resolvidas com espaço para discussão. Porém novamente o trauma causado pela obra da praça Gomes Freire fez os presentes reviverem um filme, muitos tocados pela emoção falaram de suas experiências durante a reforma da praça, da forma que foi apresentado o projeto e da forma que foi executado.
Para muitos ainda dói para muitos passar pelo Jardim. A ferida ainda não curou. “Acabaram com nosso jardim e agora querem acabar com o resto da rua ”, esse era o sentimento de alguns.
È possível conciliar alargamento de rua com acessibilidade com preservação, com trânsito, com descarga de cerveja em bares. Basta para isso apresentar as propostas de forma aberta a sugestões. Foram dados aos participantes da audiência apenas duas opões: sim ou não!
Quando vemos as escadas de acesso aos restaurantes, bares e comércios da Rua Dom Viçoso percebemos que estamos atrasados em relação a acessibilidade no Brasil. Acessibilidade não quer dizer só cadeirante, mas facilidade para caminhar para idosos e crianças .
Foi dito pelos presentes que em muitas ruas, bairros e distritos existem problemas de acessibilidade, também temos invasões, falta de saneamento básico, esgoto em cachoeira, mas nem por isso podemos deixar de melhorar onde pode-se !
Algum lugar tem que começar essas obras de acessibilidade e que sirvam de inspiração para outras obras. Imagine se deixamos de tampar um buraco porque existem muitos, sempre vai ter buracos !
O prefeito interino Sr. Juliano Gonçalves conduziu de forma apropriada a audiência pública, que mesmo com momentos acalorados serviu para dar voz as pessoas presentes. Disse que prevaleceria a democracia. Assim o fez. Juliano também falou sobre investimentos em reformas no patrimônio histórico, onde estão sendo aplicados cerca de 40 milhões de reais em diversas obras, como reformas de diversas Igrejas.
O jornal O ESPETO esteve presente durante as discussões do alargamento da rua São José em Ouro Preto, feito no mandato anterior de Angelo Oswaldo, e claro eu torcia para que a rua São José permanecesse sem mudanças. Hoje com as obras prontas reconheço que a rua São José ficou melhor, com mais espaço para pedestres. Preservação sim, mas com adequação na medida certa.
O futuro a Deus pertence, porém tanto as empresas privadas e órgãos públicos devem seguir a lei de acessibilidade adequando-se. Como se dará e quando não sabemos, mas a modernidade avança e as cidades devem dialogar em frente a novas necessidades.