Segundo reportagem publicada no Jornal Laboratório Lampião da UFOP, a Serrinha sofre com uma grave degradação ambiental.
O Jornal Lampião é uma produção dos estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), realizada na disciplina obrigatória “Laboratório Integrado I”, ofertada no sexto período da graduação.
Criado no ano de 2011, o Jornal Lampião busca trazer à população da Região dos Inconfidentes, especialmente das cidades de Mariana e Ouro Preto, informações de qualidade, claras e produzidas com responsabilidade.
Foi publicado dia 11 de maio de 2022 uma matéria no site do jornal O Lampião ( link : https://lampiaodigital.ufop.br/index.php/cachoeira-da-serrinha-local-sofre-com-degradacao-ambiental-e-falta-de-fiscalizacao/) uma matéria muito interessante sobre a Serrinha em Passagem, que desejamos compartilhar com a comunidade. Parabenizamos os estudantes Sr. Pedro Olavo e Sr. Marcelo Gonçalves pela feitura da matéria esperamos que a mesma sirva para embasar ações de políticas públicas.
Agradecemos nosso amigo Prof. Pedro Peixe, de Passagem, que é um dos entrevistados na matéria do jornal O Lampião, por compartilhar a reportagem conosco. Prof. Pedro fez sua tese de mestrado sobre a Serrinha.
Confira abaixo a reportagem:
Por Pedro Olavo, Marcelo Gonçalves
A Cachoeira da Serrinha, localizada a 4,2 quilômetros de distância do centro de Mariana, é muito utilizada para o ecoturismo por possuir lugares para banho e também conta com trilhas a sua volta, utilizadas pelos visitantes para caminhadas e ciclismo. Além do turismo, a cachoeira é um importante espaço de convivência e obtenção de recursos naturais para as pessoas que moram em seus arredores. Ela é um dos principais pontos de captação de água para o abastecimento dos bairros centrais da cidade de Mariana, como São Gonçalo, Santo Antônio, Centro e São Pedro.
A poluição causada pelo lixo que é constantemente jogado nos arredores da cachoeira levou a uma grande degradação ao equilíbrio ecológico do lugar.
Segundo o biólogo e geógrafo Pedro Luiz Teixeira de Camargo, que possui um estudo acerca da cachoeira, muitos moradores de seus arredores usam a mata para coletar orquídeas que depois serão vendidas em feiras ou de porta em porta.
O pesquisador aponta outro problema: a utilização de candeias para a alimentação de fogões a lenha. Com o aumento do preço do gás de cozinha, moradores da região estão coletando lenha dos arredores da cachoeira para cozinhar, além de usar o fogo para aquecer a água do banho e, assim, também economizar energia.
Mas, qual é o caminho da água até as torneiras?
A cachoeira é formada por um complexo de quedas d’água que formam poços profundos, utilizados para o lazer. O primeiro poço, localizado na parte mais alta, possui um pequeno muro de concreto em meio a formação rochosa original que funciona como uma represa e transfere uma parte da água para as canaletas do sistema de captação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). Essas canaletas são ligadas a canos de metal que transportam, ao longo de quase seis quilômetros, cerca de quatro mil litros de água por minuto.
De acordo com o engenheiro químico responsável pelo Saae, Wisnner Márcio, os canos de transporte passam por partes subterrâneas e a céu aberto até chegar à estação de tratamento que se localiza próxima a antena de celulares em Passagem de Mariana.
Existente há mais de 20 anos, a Estação de Tratamento de Água (ETA) Sul é a maior estação de tratamento do Saae de Mariana. Ela é responsável pelo tratamento químico simples e pela redistribuição de 70 litros de água por segundo para os bairros centrais de Mariana, além da chamada Vila São Vicente, bairro que se localiza logo abaixo da ETA, em Passagem de Mariana.
Uma outra parte da água captada no córrego originário da Cachoeira da Serrinha vai para a ETA Santa Rita, que foi criada originalmente para distribuir 21 litros de água por segundo para o bairro Cabanas. Porém, com o surgimento de outros bairros dentro do grande Cabanas, a estação passou a ser responsável pela redistribuição da água no bairro Santa Rita e parte do Santa Clara. Os outros dois bairros do Cabanas recebem a água de outro ponto de captação.
Segundo o Saae, o que costuma acontecer em meio à distribuição da água nos bairros é a diminuição da vazão, que pode ser causada pela seca da cachoeira e pela degradação natural dos canos. Apesar do órgão alegar fiscalização constante, a manutenção da rede é demorada e cara, porque precisa ser inteiramente revista até que os problemas que causaram a interrupção sejam encontrados.
Além de tudo isso, a cachoeira tem uma importância afetiva gigantesca para os moradores dos seus arredores.
Jaqueline e Líliam, que nasceram e cresceram em Mariana, contam sobre a relação delas com a cachoeira — “é como se fosse o quintal da nossa casa” — e lembram da importância da conservação do lugar. Ingrid, nascida em São Paulo e moradora do bairro Santa Rita, em Mariana, também salientou a importância da Cachoeira da Serrinha, indicando que a água do seu bairro também vem da captação na cachoeira.
Líliam destaca que a Cachoeira Serrinha “é um local de grande valor, por possuir muitos animais e diversidade de plantas, além da grande beleza que enche os olhos de quem frequenta”.
Por meio da Secretaria de Esportes, a Prefeitura de Mariana possui um projeto chamado “Mariana Aventura”, que além de sinalizar toda a trilha até a cachoeira, promove caminhadas ecológicas, propiciando a ida guiada de moradores da cidade. Projetos assim são importantes para a manutenção local e para a coleta de lixo que pode existir na cachoeira. Mas somente isso não é o bastante para a conservação de toda a flora e a fauna local. Em relação à preservação ambiental, o Saae declara que a área de sua responsabilidade se limita aos locais onde se situam as estações de tratamento. Todo o restante da área é de encargo público e pertence ao Estado de Minas Gerais.
Além de todos os problemas apontados, a cachoeira está sendo negligenciada pelos órgãos públicos, já que, como aponta o biólogo Pedro Luís, há muito tempo não é realizada nenhuma fiscalização ambiental no local.
FIM
Nota do jornal O ESPETO: ressalta-se que de acordo com a diretora do parque do Itacolomi em audiência pública na Câmara de Mariana em 2021 solicitada pelo vereador Ricardo Oliveira, não há outorga pela exploração do uso da água retirada pelo SAAE Mariana, que desta forma faz captação irregular, ou seja suspostamente sem anuência do responsável pelo local e dos órgãos públicos competentes.