Muito além do olhar

    Por: Roberto dos Santos

    Em decorrência de uma queda quando brincava no quintal de casa, Sara perdeu a visão aos três anos de idade. A única imagem que ficara nítida em sua mente foi uma lua brilhante que observava da varanda de sua casa. Tinha essa visão quando sua mãe a descansar, a colocava no colo e juntas desfrutava das mágicas noites ouro-pretana.

    Ela residia próximo ao largo Marília de Dirceu, onde fica a Escola Estadual Marília de Dirceu, antiga residência da musa inspiradora do poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, nas proximidades também estava ponte de Antônio Dias.

    Da varanda de sua casa via todos esses vultos históricos, ou melhor, sentia essa atmosfera carregada de maravilhas. Sara gostava de ficar na varanda sentindo a lua no céu a iluminar sua escuridão.

    Ela nem imaginava que sentado na famosa ponte de Antônio Dias, Leopoldo a observava.

    Um Marianense que residia em Ouro Preto e que aprendera a ama-la num silêncio contemplativo, assistido pela lua em tons brilhantes e convidativo ao amor.

     Quase todos os dias ele sentava num daqueles imensos blocos laterais percebidos na composição da ponte de Antônio Dias, e se rendia aos encantos da bela Sara na varanda a desfrutar das agradáveis noites ouro-pretana. Mas ambos tinham uma particularidade a destacar. Leopoldo não sabia que ela era cega, por outro lado Sara não sabia da presença do rapaz a corteja-la.

    Ele descobriu sobre a cegueira de sua amada quando ela caminhava acompanhada de sua irmã em direção à igreja do bairro, a famosa Matriz de Nossa Senhora da Conceição, assim chamada naquele tempo.

    Através de amigos da família ele fez com que Sara soubesse do seu interesse e arquitetou um encontro a acontecer na missa do domingo seguinte. Ao encontra-la após a missa no adro da famosa igreja, declarou seu amor e contou suas peripécias para vê-la quase todos os dias em seu reduto.

    Ela ficou feliz ao ver a grandeza dos gestos de Leopoldo e depois de conversarem por longos minutos decidiram namorar.

    Sempre que chegava a casa dela para namorar, ele lhe ofertava uma pétala de rosa, a tomava pela mão e a levava até a ponte. Lugar ideal para observar a lua de Ouro Preto.

    Lá ele a abraçava e com seu rosto colado ao dela descrevia ao pé do ouvido a beleza da lua a cada encontro. À medida que os dias iam passando, os laços de amor iam se estreitando a ponto de serem apenas um.

    Certo dia Leopoldo tomado por um amor extremo, disse a Sara:

    — Eu te amo!

    Ela extremamente emocionada não conseguiu dizer nada e chorou amparada por um silêncio apaixonado.  As lágrimas deslizavam sem cessar em sua face como que um rio a procura do mar.

    De repente ela disse:

    — Olhe a lua, ela está linda.

    Leopoldo inquietou-se e logo percebeu o milagre do amor. Sara instantaneamente começou a enxergar, era o efeito do amor no seu grau maior. Depois de extasiar-se com a beleza da lua, ela virou-se para Leopoldo e fixou seu olhar nele. Sem dizer nada um ao outro, se jogaram num abraço quase que interminável. Depois foram embora e deram a noticia a todos.

    Um ano depois se casaram tendo como testemunha e madrinha a Lua. Nesse dia as estrelas brilharam mais intensamente e a ponte de Antônio dias cenário dessa união, reluziu ainda mais, pois o amor de Sara e Leopoldo tinha um brilho fora do comum. Um brilho para sempre.

    Roberto dos Santos

    Apresentação: Roberto dos Santos, natural de Dores de Guanhães MG, 52 anos, casado com Márcia Aparecida da Silva Santos e pai de Antônio Roberto da Silva Santos. Morei em Antônio Pereira distrito de Ouro Preto de 1980 a 2003, após esse período mudei para a sede do município onde resido atualmente. Estou cursando Licenciatura em Geografia pelo IFMG – INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS – ( 5° PERÍODO).Gosto de ler e escrever , meus escritos giram em torno do romantismo, sobretudo misturando a ficção com a realidade. Ouro Preto é um cenário natural onde busco inspiração para construir tudo que escrevo, procuro  inserir dentro da história ouro-pretana contos variados com uma ênfase maior para  de natureza romântica.