Museu Virtual e livro dos atingidos pela mineração são lançados em Mariana

    Por Carolina Gabrich

    Nesta sexta-feira (03/06/2022), a Cáritas (organização social responsável pela assessoria técnica independente dos atingidos pela mineração) em conjunto com os atingidos pelo crime ambiental que ocasionou o rompimento das barragens de Fundão, realizam o lançamento do museu virtual “Mariana Território Atingido” e do livro “O direito das comunidades atingidas pela mineração à assessoria técnica independente, em Mariana”, que são instrumentos de luta e registro histórico.

    O evento tem início com a passagem de um vídeo que retrata a vida rural das comunidades antes do rompimento da barragem e destaca a mudança violenta nos costumes e modo de vida pós crime ambiental.

     A história é cantada na voz de uma das atingidas, a adolescente Débora, de Bento Rodrigues, que teve a infância marcada pelo rompimento da barragem e se tornou uma lutadora ainda criança.  A música representa a luta pelo direito ao reassentamento e tem como refrão a frase “O tempo até pode apagar a lama mas não se esqueçam de Mariana”.

    Um discurso que gerou comoção entre as pessoas presentes foi o da lutadora pelos direitos dos atingidos pelo rompimento da barragem, Luzia Queiroz. Ela falou sobre a sensação de não pertencimento à cidade de Mariana que os atingidos sentem, como se os distritos de Paracatu e Bento fossem cidades a parte e não pertencentes a Mariana. Ela continua com um desabafo:

    Luzia Queiroz:  “Me entristece muito saber que hoje 40 pessoas deixam seus trabalhos. A gente não pode forçar, nem obrigar. Essas pessoas tem que seguir a vida delas. Quem puder continuar ajudando a gente, mesmo que a distância continue”, (fazendo referência às pessoas que abandonaram a luta). “São várias coisas que sofremos, retaliações. Nos respeitem, respeitem a nossa vida, respeitem o nosso trabalho, que foi feito com a pessoa mais humilde, que entende da terra, entende do lazer, respeita os mais velhos, honra pai e mãe e acredita em Deus´. Por fim, a ativista pede em prol da divulgação do museu virtual e do livro:

    “Sentem o dedo na internet, divulguem, façam chegar fora do Brasil, façam chegar aonde conseguir e peçam para ser replicado, temos que transformar isso numa rede e fazer com que os poderosos sintam vergonha de tudo que eles estão matando. Clamemos por Minas, parem com a exploração das barragens”.

    O evento foi transmitido por “live” no “Instagram” da Cáritas.

    O livro e o museu podem ser acessados através do site: lintr.ee/museuvirtual.

     O livro está disponível em pdf no site da Cáritas, de forma gratuita, e é um relato de experiência do que tem sido o acesso à assessoria técnica independente, visto que a Cáritas é a primeira assessoria técnica independente para atingidos por barragens, no Brasil, e foi resultado direto da luta dos atingidos.

    O objetivo é que esse livro chegue às bibliotecas públicas, por isso a gratuidade. A professora Carol, da UFOP, comenta: “Quem tem o direito de contar a história da queda da barragem de Fundão e das outras? Não são as empresas, são os atingidos. Vocês atingidos de Mariana estão construindo pilares para a sociedade brasileira. A partir da história de Fundão os atingidos por barragem passam a ter direito a assessoria técnica”.