Por: Roberto Santos
Precisei ir a Mariana, mas não pude ir de carro, o pneu havia furado. Devido à escassez de tempo, me dirigi à rodoviária de Ouro Preto e embarquei no ônibus que seguia naquela direção. Era a opção mais accessível naquele momento.No alto da Cruz, bairro localizado na saída para Mariana, embarcou um grupo de pessoas. Algumas delas levavam máquinas fotográficas, usavam roupas leves e chapéus com flores bordadas, diferentes daqueles que vemos costumeiramente nas cabeças dos ouro-pretanos. Os assentos estavam quase todos ocupados, só restavam quatro lugares disponíveis, eram cinco pessoas, então a mais jovem do grupo ficou de pé. Enquanto isso a viagem prosseguia. Percebi que a jovem tinha enorme dificuldade em equilibrar-se ante os sacolejos do ônibus.Toda ação que motorista executava ao volante ela reproduzia no corredor daquele coletivo. As curvas da estrada Mariana/Ouro Preto, era para ela componente de uma coreografia não prevista em sua viagem. Não estava à vontade, cheguei a essa conclusão em mais ou menos três a quatro minutos após seu embarque, tempo em que observava seu esforço em permanecer de pé. Fiquei incomodado e levantei, dois passos foram suficientes para chegar até ela e oferecer o meu lugar. Fiz um sinal característico apontando em direção ao assento e disse: Por favor! Ela sorriu deu dois passos e sentou. A viagem prosseguia e eu de pé ao lado daquele grupo que na verdade nada parecia com ouro-pretanos ou pessoas aqui de perto.
Quando chegou a passagem de Mariana, o grupo pegou um mapa e começaram a conversar entre eles, então pude ver que não eram brasileiros, estavam procurando algum lugar, pois a toda hora olhavam pela janela do ônibus após consultar aquele papel que tinham na mão. Logo deduzi que procuravam a Mina da Passagem, alguns deles já até se encontravam de pé atentos ao que viam do lado de fora. Quando avistaram a ponte quase chegando ao lugar de desembarcarem, se olharam como que entendendo que era a hora de acionar o botão de parada. Apertaram a campainha e ela não funcionou. Ficaram ressabiados, pois não estavam seguros de terem dado o sinal, não perceberam nenhuma manifestação de dentro do ônibus que os fizessem acreditar nisso. Olharam para traz em direção a auxiliar de viagem, mas não diziam nada, então sinalizei para eles mostrando a cordinha ao mesmo tempo em que eu acionava a campainha, tudo isso aconteceu no percurso entre a ponte e o ponto do ônibus. Penso que a ponte era a referência que tinham. Nos minutos que seguiram seus semblantes mudaram, pois perceberam que o motorista do coletivo reduzia a velocidade. Haviam chegado ao seu destino, curiosamente olharam para traz bem na minha direção e disseram thank you. Eu sorri e sinalizei positivamente com a cabeça.A jovem que eu havia cedido o lugar além do agradecimento em Inglês, pronunciou mais algumas palavras que até hoje não sei o que significa, mas como sua cabeça tendeu levemente para o assento já vazio, presumi que fossem palavras de agradecimento.No coreto bem em frente ao ponto do ônibus alguém esperava por eles, penso que era o responsável por conduzi-los e apresentar as belezas daquele lugar.Instantaneamente pensei: Quando chegarem ao seu País de origem, vão dizer que os brasileiros são cordiais e educados, que quando estiveram em Ouro Preto um rapaz gentilmente cedeu o lugar para um deles que estava de pé no ônibus e ainda que os ajudara a chegar na Mina da Passagem.A linguagem que possibilitou essa comunicação em poucas palavras eu dei o nome “universalidade do bem querer” que se traduz na cordialidade e no desejo de que todos fiquem bem. Pronunciei apenas duas palavras (por favor) e nem sei se entenderam, a jovem falou mais de duas, mas só entendi “thank you” , mas o mais importante é que ao final tudo ficou bem. Tem momentos que representamos todo um povo, naquele momento eu era muito mais que Ouro Preto e/ou Mariana, eu representava um país inteiro. Penso que eles levaram de Ouro Preto e Mariana uma boa imagem do Brasil. Só espero que aquele que os recebera em Passagem de Mariana os tenha tratado bem.
Para receber notícias no seu WhatsApp clique aqui
E para receber notícias da nossa página no Facebook
Se inscreva no nosso canal do you tube para receber nossas reportagens, clique aqui