Por: Roberto Santos
Naomi era uma jovem que morava na minha rua, todo dia eu ficava de pé na varanda da minha casa para vê-la passar. O sol ainda dormia quando ela se dirigia a uma pracinha a poucos metros de sua casa, para colocar comida para os pássaros. De tanto olhar aquela linda moça, passei a conhecer cada centímetro daquele corpo sedutor. A cabeça estava sempre erguida, porém uma leve inclinação para a direita fazia vir à tona um charme só dela. Andava parecendo pisar em plumas, destacando a leveza com que se deslocava graciosa. Depois ia para o trabalho e eu também. Antes de sair do meu campo de visão, eu fazia uma leitura por inteiro da estonteante Naomi como que a apreciação de uma deliciosa página de um livro. Essa constância em vê-la fez com a imagem dela ficasse impregnada em mim.
Acho que minha insistência diária era descobrir o sorriso dela, pois nunca havia presenciado nem sentido tal manifestação.
Toda beleza se via, o sorriso ela escondia, por timidez ou inocência.
Passos diminutos nas pedras de Ouro Preto secular, Naomi a bela morena, sem sorrir me provocava, apenas um esboço eu tinha, seu sorriso guardava. O contido semblante privava-me de vislumbrar sua essência.
Eu devia ter provocado o sorriso de Naomi, feito palhaçadas, gracejos, contado piadas, ouvi-la gargalhar.
Eu não devia ter deixado o tempo leva-la de mim. Queria encontra-la de novo no chafariz do pilar, tomando sorvete na rua direita, ou fotografando o pôr do sol no adro da igreja das Mercês e misericórdia.
O tempo passou e Naomi foi embora, levou toda a sua beleza revelada, e o sorriso escondido.
Depois de muito tempo, eu vi Naomi de novo. Tomava chocolate quente na Rua Getúlio Vargas e observava atenta a torre da Basílica do Pilar.
Naomi estava linda, usava aparelho nos dentes e uma Tiara na cabeça. O sorriso que antes não via, fartava-se em seu rosto, era exuberante, e tinha nos lábios um batom em tons vermelho-amarronzados se harmonizando a sua morenice, isso definia em cores a linda mulher.