Pesquisa revela nível de infestação do Aedes aegypti em Minas 

    Lira de 2023 cobre 827 municípios e aponta risco em 38,8% deles; SES-MG alerta para combate ao mosquito transmissor da dengue e de outras doenças

    “Eu gosto muito de plantas e tenho o maior cuidado com elas. Aprendi com minha avó, que já está com 86 anos, mas continua com a mesma preocupação, verificando se não tem água nas folhas ou nas cascas de ovos que usamos para adubar, por exemplo”, conta Sabrina Souza, moradora de Santa Luzia. “Nós cuidamos da nossa casa, mas o problema é que os vizinhos não cuidam. Eu já tive dengue duas vezes e é terrível. O corpo fica ruim, dá muita dor no olho, febre alta e dor de cabeça”, lamenta.

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    A preocupação de Sabrina não é em vão. O primeiro Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (Lira) de 2023, divulgado terça-feira (28/2) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), aponta que, dos 827 municípios que participaram do estudo, 321 deles (38,8%) apresentam o Índice de Infestação Predial (IIP) igual ou maior que 4 – ou seja, estão em situação de risco para a transmissão das arboviroses. Outros 337 municípios (40,8%) estão em alerta e, em 169 (20,4%), o indicador foi classificado como satisfatório, pois o IIP é menor que 1.

    O IIP indica o percentual de imóveis que apresentaram recipientes infestados por larvas de mosquito Aedes aegypti em relação ao total de imóveis que foram vistoriados pelos agentes de combate a endemias (ACE).

    Monitoramento

    O Lira, realizado junto aos municípios mineiros quatro vezes ao ano, é parte da estratégia de monitoramento e controle do mosquito. Embora a Vigilância Estadual não considere apenas este levantamento para avaliar a situação epidemiológica quanto à dengue, chikungunya e zika, os dados apresentados pelo documento podem ser considerados como um indicativo de alerta para locais com possibilidade mais acentuada de aumento no número de casos dessas arboviroses.

    Como destaca a coordenadora da Vigilância Estadual das Arboviroses da SES-MG, Danielle Capistrano, a partir dos resultados do Lira, cada município pode otimizar e direcionar as ações de controle do vetor, delimitar as áreas de maior risco, avaliar as metodologias aplicadas no controle do mosquito e contribuir para as atividades de comunicação e mobilização, por meio da ampla divulgação dos resultados dos índices.

    “Em casos de municípios mais críticos, existe, ainda, o apoio da Força Estadual em todos os eixos envolvidos, como assistência, laboratório, controle do vetor, comunicação e mobilização, vigilância epidemiológica e gestão”, salienta a coordenadora.

    Recipientes infestados

    O Lira possibilita identificar também onde o mosquito está procriando, por meio do Índice por Tipo de Recipiente (ITR), que indica o percentual de cada recipiente encontrado com larvas de Aedes aegypti nos imóveis em relação a todos os recipientes encontrados infestados durante as visitas dos agentes de combates a endemias dos municípios.

    Em janeiro, a maioria (30,8%) dos recipientes infestados em Minas Gerais foram os depósitos móveis, como vasos ou frascos, pratos, bebedouros e materiais em depósitos de construção; seguidos dos depósitos passíveis de remoção/proteção, como lixo, sucata e entulho (23,8%); e dos depósitos utilizados no armazenamento de água para consumo humano ao nível do solo (15,8%), como tonel, tambor, barril e filtro.

    Os tipos de depósitos de água menos infestados pelo mosquito foram os pneus e outros materiais rodantes (9,9%), os depósitos fixos, como tanques em obras, calhas, lajes, piscinas e ralos (8,1%); os depósitos de água elevados ligados a sistema de captação (7,1%), como caixa d´água e tambor; e os depósitos naturais (bromélias, ocos de árvores e rochas (4,5%).

    “É importante ressaltar que este perfil de recipientes mais infestados em janeiro de 2023 é muito semelhante ao encontrado no mesmo período do ano passado”, afirma Danielle. “O ITR é mais um indicador que propicia o redirecionamento e a intensificação de algumas intervenções mais específicas de controle vetorial ou, ainda, a alteração de certas estratégias de controle já adotadas pelos municípios, melhorando o aproveitamento dos recursos humanos e dos recursos materiais, como o uso otimizado dos inseticidas”, explica Danielle.

    Domicílios

    Gisele Pena, supervisora de campo no controle de zoonoses, em Santa Luzia, explica que o trabalho dos ACE consiste em visitas domiciliares periódicas, com atuação em três frentes: conscientização; vistorias em áreas externas e eliminação de focos; e educação e saúde. “Nessas visitas, identificamos os criadouros e mostramos para as famílias a importância de eliminá-los no tempo oportuno, pois no período chuvoso a proliferação do mosquito é mais rápida. Mas o nosso principal desafio ainda é conscientizar a população”, afirma.

    Segundo Maxsuel Oliveira, agente de combate a endemias, a melhor forma de combater o mosquito é evitar que ele se prolifere. “O ciclo de vida do mosquito começa a partir do momento em que ele tem acesso a um recipiente em que possa botar os ovos. Esses ovos viram larvas, depois pupas e então mosquitos. Num intervalo de 35 a 45 dias, o mosquito fêmea do Aedes aegypti é capaz de transmitir a dengue para cerca de 90 pessoas. Em cada ciclo, é possível botar até 500 ovos, então são 500 novos mosquitos naquele local”, explica.

    “Por isso é muito importante que qualquer recipiente que acumule água seja descartado e que os moradores sempre verifiquem o quintal para eliminar qualquer coisa que esteja parando água, seja um pratinho, um copinho ou uma tampinha e também as calhas que podem encher com as chuvas ou entupir de folhas. Enfim, nos quintais há muitas coisas que não são percebidas diariamente e onde o mosquito consegue se reproduzir”, alerta o agente.

    “Outra medida essencial é a manutenção regular das caixas d’água, num período de até seis meses. Também é importante verificar as plantas que acumulam águas em suas folhas”, complementa Oliveira.

    Ações contínuas

    O Aedes aegypti circula durante todo o ano e seu monitoramento e controle ocorrem de forma contínua no estado de Minas Gerais, com intensificação das estratégias de combate no período sazonal das arboviroses, quando aumentam o calor e as chuvas.

    Entre as ações da Secretaria de Estado de Saúde, destacam-se o monitoramento semanal de casos, a elaboração de boletim epidemiológico e o planejamento de solicitação de inseticida junto ao Ministério da Saúde para o envio aos municípios, além de reuniões semanais com as Unidades Regionais de Saúde para discutir e orientar sobre as medidas de prevenção e controle dessas doenças.

    Cenário epidemiológico atual

    Até 27/2 deste ano, Minas Gerais registrou 50.101 casos prováveis (casos notificados exceto os descartados) de dengue. Desse total, 13.802 casos foram confirmados para a doença. Há quatro óbitos confirmados por dengue no estado e 21 óbitos em investigação.

    Em relação à febre chikungunya, foram registrados 18.371 casos prováveis da doença, dos quais 4.536 foram confirmados. Até o momento, não há nenhum óbito confirmado por chikungunya em Minas Gerais e um está em investigação.

    Quanto ao vírus zika, até o momento foram registrados 72 casos prováveis. Há um caso confirmado para a doença e não há óbitos por zika em Minas Gerais, até o momento.

    Os dados estão disponíveis no Boletim Epidemiológico de Arboviroses Urbanas.

    Para mais informações, acesse: www.saude.mg.gov.br/aedes.

    Crédito da imagem: Fábio Marchetto / SES-MG