Por: Hynara Versiani e João B. N. Gonçalves
8 de março, o Dia Internacional da Mulher, é uma data comemorativa que relembra a luta de diversas mulheres ao longo da história para conquistarem seus direitos e terem suas condições equiparadas às dos homens. A data foi oficializada em 1970, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O Dia Internacional da Mulher não é um dia simplesmente para homenagear as mulheres, diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa sociedade as trata. Em comemoração à data, o Jornal O Espeto reuniu 10 histórias de diferentes mulheres de Mariana. Confira:
Sônia Azzi, tem 64 anos, atualmente é vereadora na Câmara Municipal de Mariana e, como única mulher no legislativo municipal, lida diariamente com falta de apoio, menor visibilidade nos debates políticos e discriminação. De acordo com a vereadora, “ser mulher hoje exige uma reflexão profunda e comprometida sobre o que significa conquistar um terreno que, muitas vezes, é dominado predominantemente por homens”.
Sônia passou por situações muito difíceis em sua vida, vencendo o câncer duas vezes e também a Covid. A mãe de 4 filhos acredita que ter sido eleita vereadora enquanto enfrentava seu maior desafio prova que nada é impossível, e que sua existência tem um propósito muito maior. “Para concluir, posso dizer que o lugar da mulher é onde ela quiser, com liberdade e autonomia.”
Patrícia Ramos, de 34 anos, é professora de Língua Portuguesa na rede estadual, em Antônio Pereira. Ramos desabafa que não têm sido tempos fáceis para as pessoas da classe trabalhadora: “A piora na condição de vida resulta em maiores violências, a que nós todos estamos sujeitos. Sendo mulher então, isso fica ainda mais problemático. Há um risco maior de andarmos nas ruas, mesmo na nossa cidade que não é grande. Não estamos e não nos sentimos seguras.”
Militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), filha de operário da mineração e dona de casa, Patrícia dedica sua vida para que todos possam ter vida digna e plena. “Em todas as lutas de direitos básicos da nossa classe, das mulheres, das pessoas negras, LGBTIs, dos jovens, faço questão de apresentar a estratégia revolucionária para que possamos continuar nas lutas visando a construção de algo maior, que é outra forma de sociedade, em que nós não sejamos mais explorados e nem oprimidos.”
Aida Anacleto, de 60 anos, é assessora parlamentar desde o ano de 2013, trabalhando atualmente na Câmara Federal como Assessora Regional, junto ao Deputado Rogério Correia. Aida diz ser um trabalho muito gratificante, pois além de poder estar em várias cidades, ela tem a chance de conhecer vários modos de viver e várias realidades culturais.
“Eu gosto desse contato próximo com pessoas potentes. A gente adquire diversidade e conhecimento, nessas relações.”
Mesmo aposentada, Aida continua participando ativamente de tudo que se propõe a fazer, e explica que as dificuldades pelas quais passa têm a ver com as regiões que possuem como base econômica, a mineração. “Hoje, esses são territórios adoecidos, como é o nosso caso. O meu trabalho permite que eu consiga estar em outros instrumentos de luta, outros conselhos na associação, em todos os espaços que eu possa contribuir com alguma coisa.”
Luiza Mazzarello do Nascimento, de 64 anos, começou a trabalhar na Escola Municipal Senhor Machado, em Santa Rita Durão, em 1988. Somente em 1996, após um concurso, veio trabalhar em Passagem, onde ficou até 2019, quando se aposentou. “Foram muitas lutas e muitas adversidades, mas no final deu tudo certo. Formei muitos alunos, que até hoje quando me vêem na rua, se lembram de mim. Isso é gratificante.”
Luiza conta que sofreu repressão política, e que seu salário já chegou a ser cortado por causa disso, em 1992. Em fevereiro de 2000, quando estava grávida, foi demitida por perseguição política. “Fui reintegrada depois que entrei na justiça, em março de 2001, depois de ficar mais de um ano fora da prefeitura”, conta. “Foi um processo longo, mas venci o caso e voltei para a prefeitura pela porta da frente.”
Maria Marta Guido, de 53 anos, hoje é Secretária de Segurança Pública em Mariana. Capitã Marta, como é conhecida, explica que está na área há mais de 34 anos, e que sua função como secretária é de grande importância, e muito desafiadora. “Os desafios nos fortalecem e nos fazem a cada dia ter a coragem de seguir em frente”, conta.
A capitã diz que gosta muito de exercer uma influência positiva em outras mulheres, que muitas vezes se espelham nela para se fortalecerem. “Ser mulher às vezes nos impõe vários obstáculos, como conseguir conciliar a maternidade com a vida profissional. Acredito ser um dos maiores desafios para toda mulher, e é importante reforçar, em todas as oportunidades, o quanto nós mulheres precisamos nos fortalecer para romper barreiras e conquistar nosso espaço.”
Danielly Cristina, de 46 anos, é Engenheira Agrônoma e Secretária de Desenvolvimento Social e Cidadania em Mariana, e conta que as dificuldades enfrentadas diariamente são comuns na vida de muitas mulheres.
“Precisamos cuidar da casa, dos filhos, dedicar ao trabalho e sempre nos capacitar para sermos competitivas no mercado de trabalho. Costumamos ser várias mulheres em uma para dar conta de tudo.”
Suas dificuldades se iniciaram na universidade, onde notou a predominância da presença masculina.
Em 2013, concorreu ao cargo de vereadora, sendo eleita após vencer muitas barreiras: a desigualdade entre homens e mulheres no processo eleitoral, a dificuldade de conquistar a confiança do eleitorado masculino e a conquista de parte do voto feminino. “Hoje, já é possível perceber que a mulher aos poucos vem construindo seu espaço na profissão, seja ela qual for”, afirma.
Nicolina Regina de Castro, de 40 anos, é motorista de ônibus na Transcotta, ama o que faz e tenta demonstrar isso todos os dias com seus passageiros. A motorista conta que sua vida nunca foi fácil e que criou seus filhos sozinha.
“Mas venci, graças a Deus. Sempre tive também minha família a me apoiar, sem meus pais eu não teria chegado até aqui.”
Nicolina já trabalhou na roça batendo pasto, plantando e capinando, além de ter trabalhado como gari na Prefeitura de Mariana e como faxineira. Hoje, também é bombeira civil e uma amante da natureza. “Amo defender as coisas belas que Deus fez pra nós, e ajudar a salvar vidas, que é o mais importante. Sou guerreira, sou mulher e sou pai e mãe do Matheus, do Andrey e do Kelvin, meus tesouros!”
Michelle Schiavoni, de 28 anos, é repórter na Rádio Mariana FM, professora e mentora do projeto social Redação em Ação. Nascida em Ribeirão Preto, de mãe mineira e pai paulista, Michelle sempre foi apaixonada pela área da comunicação. Formou-se em Administração e Recursos Humanos em São Paulo, e hoje, cursa Jornalismo em Minas Gerais.
A paulista é financeiramente independente, seu livro e filme preferido é Comer, Rezar e Amar, e ela se orgulha de trabalhar em um projeto que a permite colocar estudantes de baixa renda nas universidades federais do país, um curso social de redação do Enem.
Joana D’Arc, de 62 anos, trabalha na Escola Municipal de Passagem de Mariana, e diz ser um lugar desafiador, de muito aprendizado, com pessoas que buscam o mesmo objetivo: educar os alunos e fazer com que sintam prazer em estar na escola.
“Amo o que faço e sei que tenho muito a oferecer e aprender com a comunidade escolar de Passagem de Mariana”, conta, já trabalhando na escola há mais de 30 anos.
Joana acredita que hoje em dia, há muitas dificuldades no contexto pós-pandemia. A diretora acreditava que quando voltássemos ao ‘normal’, seríamos menos ansiosos e mais compreensivos.
“Como me enganei! Mas se cada um fizer a sua parte, e acreditar que podemos mudar sim, com pequenas atitudes, aceitando o outro como ele é, aí sim, veremos a mudança.”
Marinês Gonçalves, de 52 anos, é empreendedora do Recanto do Animal e do Recanto do Fazendeiro, além de um novo empreendimento que está sendo montado, o Recanto do Agricultor. Sendo uma pessoa que busca sempre oportunidades, ela se vê cercada de pessoas que ajudam o negócio a fluir e a fazer diferença.
“Não só na comunidade onde a gente tá inserido, mas também na vida das pessoas que são os nossos colaboradores, e na vida dos nossos clientes.”
Marinês diz que o que a motiva em sua profissão não é o dinheiro, e sim o resultado que ela busca: fazer diferença na comunidade e na vida de seus funcionários, que hoje são mais de 30. “É um grupo que eu considero forte e isso faz com que eu tenha motivação. Somos uma empresa honesta, que tem princípios muito dignos, e a gente tá fazendo a diferença através dos nossos produtos, através do que a gente traz para a comunidade.”
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