Conrado estudou e se formou na Universidade Federal de Ouro Preto. Na mesma turma conheceu Antonella.
No primeiro dia ele já se apaixonou por ela, mas nunca teve coragem de declarar seu amor. Passou todo o período de estudos amando em silêncio. O motivo de nunca ter se declarado talvez tenha sido timidez, mas nem o próprio Conrado sabia como explicar essas coisas.
No tempo em que cursavam engenharia civil na UFOP, conversavam, saiam juntos, mas seu encanto por Antonella nunca esteve em pauta. Até que concluíram o curso.
O amor de Conrado se transformou em pesadelo. Os planos da recém-formada, era voltar para Florianópolis capital Catarinense, sua cidade natal. Seus pais já eram idosos, por isso queria viver pertinho deles, para matar a saudade que o tempo longe de casa fez crescer dentro dela.
Ele começou a sentir medo de perdê-la, e o que não disse durante os anos de curso, teria que dizer o mais rápido possível, antes que ela fosse embora.
Faltavam dez dias para Antonella partir, e pelas redes sociais onde interagiam frequentemente, combinaram um encontro para relembrarem toda a caminhada até a realização de seus sonhos.
Esse encontro na verdade poderia ser classificado como uma trama de amor, onde Conrado pretendia estar a sós com Antonella e dizer do amor que sentia.
E o local escolhido foi o mirante da UFOP, onde ela adorava ficar, mas para ele bom mesmo era a localização do lugar. Propício para a realização de suas pretensões.
Ela aceitou e deixou livre para o encontro, o dia que antecedia sua viagem para casa.
No dia marcado, se encontraram no mirante da UFOP e fotografaram o centro histórico, relembraram histórias marcantes e engraçadas, e tantos outros momentos inesquecíveis, e já se diziam saudosos. Ele estava amando a companhia de Antonella. O peito de Conrado ardia de vontade de se declarar, mas a voz não saia.
As horas iam passando e sem ter coragem, seguia entre risos e contemplação a viver os últimos momentos da Catarinense na cidade monumento mundial.
Antonella o chamou para irem embora. Seu coração começou a bater mais forte, e envolto por grande emoção disse:
— Eu vou sentir saudades de você!
Foi tudo que conseguiu falar para ela.
Ela também emocionada falou:
— Eu também vou sentir sua falta!
E prosseguiu:
Amanhã vou embora, irei trabalhar em Florianópolis e quando tiver um tempinho, volto para rever a cidade que aprendi a amar.
Após as despedidas, caminharam juntos até saírem do campus universitário. Ele estava sufocado, seu peito doía, de tanto que queria fazê-la saber do seu amor.
Já do lado de fora da portaria principal da UFOP, Conrado viu Antonella embarcar num táxi, deixando passar a oportunidade derradeira. Ele não mais a veria. Uma força inexplicável calou sua voz e não conseguiu dizer uma só palavra do que sentia.
Cinco anos se passaram e ele não se perdoava, não se conformava, sentiu-se covarde e minúsculo. Seguiu sua vida guardando oculto em sua face a tristeza de ter perdido a mulher que amou verdadeiramente.
Tomando como lição essa experiência de amor, ele se tornou um profissional conceituado na sua área de atuação. Não deixou que as oportunidades que surgiram posteriormente escapassem por entre os dedos, foi uma promessa que fizera a si mesmo. Convicto do pensamento de que tudo era sim e não passou a ousar mais. E assim foi dando dinâmica a vida.
Nas horas de descanso gostava de fazer suas caminhadas pelas ladeiras de Ouro Preto, entrava aqui saia ali, e na Praça Tiradentes parava um pouquinho para depois seguir para casa.
Numas dessas voltas que a vida dá, ele sentado e encostado no museu da Inconfidência, bem na esquina, onde a rua Antônio Pereira se encontrava com a Praça Tiradentes, uma mulher e uma criança conversando sorridentes prestes a adentrar a praça lhe chamou a atenção. Ele parecia conhecer a voz, porém não estava conseguindo de imediato saber de quem se tratava.
Em segundos elas passaram por ele, e já na Praça Tiradentes se viraram para contemplar a suntuosidade do museu. Ele se assustou, pois enquanto observava os trejeitos da mulher a sua frente, um insight de sua mente revelou Antonella.
Ele tinha certeza de que era ela, quanto a criança que a acompanhava imaginou que fosse filha dela.
Ficou feliz ao vê-la, mas permaneceu incógnito a comtemplar aquela linda mulher.
Uns dez minutos depois aproximou-se e a chamou pelo nome. Ela se virou e o reconheceu imediatamente.
Se abraçaram demostrando toda a alegria do reencontro. Depois Antonella apresentou a sua filha, a pequena Clarice.
Ele ficou contido, e tentado a perguntar mais detalhes sobre a vida dela, sobretudo do seu estado civil. Mas ela começou a sabatina-lo primeiro.
Quis saber o que ele fazia da vida, o que fez durante todos esses anos.
Ele calmamente explicou todos os caminhos que trilhou nesses anos que ficaram sem se verem. Depois fez a mesma pergunta a ela.
Antonella que havia perdido seu pai há quatro anos, quando Clarice estava com cinco meses de nascida, disse que sua carreira seguia bem graças a Deus, e que sua mãe e suas irmãs ajudavam na educação da sua filha.
Essa foi a deixa que Conrado precisava. Então perguntou se havia se casado. Ela silenciou -se por um instante enquanto deixava Clarice brincar próximo a ela. E depois respondeu:
— Não estou casada. Mas não quero falar sobre isso.
Ele estava satisfeito com as poucas palavras, encerrou a conversa respeitando o desejo manifesto por ela de não querer falar no assunto.
Enquanto Clarice observava pequenas peças artesanais expostas num pano estendido sobre as pedras que calçavam o chão tricentenário da histórica Praça Tiradentes, Conrado e Antonella colocavam o papo em dia.
Repentinamente ele desvia o assunto e começa a dizer:
Me perdoe por aquele dia no mirante, no nosso último encontro. Eu ia dizer que te amava, mas não tive coragem e até hoje não me perdoo por isso. Eu devia ter dito, mesmo que você não fosse ficar comigo.
E Antonella respondeu calmamente:
— Não se arrependa, tudo aconteceu como deveria acontecer.
Naquele dia estava esperando que me pedisse em namoro. Tudo que me disse agora, eu ansiava por ouvir naquele dia. Eu fui embora triste porque tinha certeza que você me chamou no mirante para dizer algo especial para mim.
E Conrado pôs a mão na cabeça e sussurrou baixinho:
— Nossa!
Tudo poderia ter sido diferente. Se eu pudesse voltar no tempo e mudar tudo!
E ela continuou calma a dizer:
— De minha parte não mudaria nada do que me aconteceu no passado. Se assim o fizesse, os caminhos percorridos até hoje seriam totalmente diferentes, e sendo assim eu não encontraria Clarice. A minha joia rara, minha força e alegria nos momentos difíceis. Eu não gostaria de viver outra vida se nela não tivesse a Clarice.
Conrado ficou triste, pois a tônica da conversa convergia para uma despedida.
Clarice continuava a brincar, e com a inocência de criança se divertia alheia aos acontecimentos.
Já sem assunto, pensando estar tudo sacramentado Conrado se calou.
Antonella se aproximou um pouco mais, e serenamente segurou seu rosto com as duas mãos, puxando-o na direção dela. O beija delicadamente deixando inerte o rapaz. Ele parecia confuso, pois as palavras e a ação fugiam a lógica.
Ela falou baixinho no ouvido dele:
O passado está sacramentado, já foi vivido, mas o futuro se você quiser podemos construí-lo juntos…o que acha?
Conrado respondeu com um sorriso e em seguida um interminável abraço, depois sugeriu que retornassem ao mirante da UFOP. Ele queria fazer o que a mais de uma década não conseguira.
Antonella comprou algumas peças escolhidas por Clarice, e foi para o hotel onde estava hospedada.
No dia seguinte se encontraram no mirante, fotografaram a cidade, conversaram muito, e dessa vez Conrado fez o tão esperado pedido:
— Você quer namorar comigo?
E depois de mais de uma década, ele ouviu o sim tão almejado.
Ele, Antonella e Clarice deixaram o campus universitário para iniciarem novo tempo em suas vidas.
O próximo passo era definir onde construiriam esse “para sempre”. Em Florianópolis ou em Ouro Preto?
Não importava mais, estavam dispostos a viverem juntos até em marte se necessário fosse.
E o táxi dessa vez partiu levando três pessoas.