Procissão das almas sai hoje à meia noite, na Sexta- feira da Paixão em Mariana

    A procissão das almas de mariana é uma atração turística e cultural e folclórica muito peculiar que só existe em mariana desde 1850 ela acontece durante a Semana Santa, na noite de sexta-feira da paixão e atrai diversos olhares de muitos lugares para presenciar a sua beleza.

    Feita por voluntários que se juntam pouco antes da meia noite. Uma curiosidade sobre a procissão das almas, por ter esse tema e ter um ar de mistério já foi protagonista de números histórias e causos de assombração quem nunca ouviu algum caso envolvendo a procissão das almas por aí.

    Você só vai ver isso em Mariana.

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    Sexta-feira da Paixão. Um dos dias mais solenes da Semana Santa. Até hoje muitos mudam seus comportamentos durante a quaresma, para tristeza dos donos de bares, restaurantes. Cada pessoa tem suas formas de passar a quaresma, alguns não bebem, outros não comem carne, outros se esforçam para ser mais caridosos, outros fazem serviços voluntários, rezam o terço durante o dia.

    Na Sexta-feira da Paixão então, não ouve-se rádio em muitos locais, claro que muita coisa muda com os tempos, relaxando os costumes que vão ficando mais ou menos esquecidos mas ainda resistem. Poucos desafiam a fazer um churrasco na quaresma. Conheço pinguços que ficam sem beber. Depois tomam todas para compensar. A religiosidade do povo é diferente de cidade em cidade, mas a procissão das almas é uma procissão que não tem nada a ver com a programação da Semana Santa oficialmente. È uma lembrança de um acontecimento real : existe a procissão das almas penadas. Várias testemunhas já viram. Eu também vi, há 15 anos. Uma longa fila de pessoas de branco, tarde da noite, desfilam pelas ruas, com gemidos, correntes, velas.

    Vamos ler abaixo uma publicação sobre a procissão das Almas :

    Dona Hebe e Didica

     Livro “Lendas Marianenses”, originalmente editado em 1966 pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais – 1967 – Editora Itatiaia.
    Pesquisa 1999 – Publicada pela Professora Hebe Maria Marques rola – ICHS/UFOP – Seminário de História Local.

    A tradicional Procissão das Almas ou, precisamente, Procissão do Miserere realiza-se anualmente em Mariana, aos cinco (5) minutos do sábado da Aleluia, pelas ruas de Mariana. Segundo o folclore marianense, encenam-se nessa procissão, duas lendas.

    A primeira, recolhida e publicada pelo jornalista Prof. Waldemar de Moura Santos, resume-se no seguinte.

    Lá pelos lados do bairro São Gonçalo, vivia Maricota de Todos os Santos, mulher de língua ferina que passava o dia falando da vida alheia. Por desentender-se com os moradores do referido bairro, mudou-se para a Rua Dom Silvério. Carregando má fama, fechava-se em casa durante o dia, e, à noite, tão logo ouvia o sino de correr ou de recolher tocado na Câmara, punha-se à janela, para no dia seguinte relatar aos quatros ventos tudo o que viu.

    Sexta-feira da Paixão, à noite, já com calos nos cotovelos de tanto ficar debruçada na janela, ouviu o soar de um bumbo: bum..bum…bum…Pendurou-se mais e aguçou olhos e ouvidos. De repente, soar de matraca e vozes esganiçadas cantando a canção:

    Reza mais {bis

    Reza novena e trezena

    Reza mais {bis

    Pra alma que morreu sem cumprir pena!

    Continuou observando e viu figuras sem rostos, vestidas de negro, carregando velas.

    Uma cruz negra, ladeada de véus da mesma cor, abria o cortejo. Ao centro, a morte com a foice.

    O cortejo chegou à janela, onde Maricota estava, e um dos participantes aproxima-se dela e lhe diz:

    –  Mulher, a noite é dos mortos. Guarde esta vela para mim. Maricota ficou felicíssima. Recuperara a confiança popular.

    Retornando a procissão, outro participante aproxima-se dela e diz:

    – Mulher, guarde a sua língua, amanhã estaremos juntos em outras paragens. Pegue a minha vela!

    Na manhã seguinte: quando Maricota procurou a vela, encontrou um osso de canela humana.

    Desmaiou! Chamaram o padre e o médico, mas Maricota havia morrido.

    A segunda lenda, recolhida pela Profª Hebe Rôla, em Padre Viegas – Mariana, “ Balaio de Penas” é a seguinte:

      Uma senhora cuidava de tudo na igreja local. Lá permanecia dia e noite; por isso apelidaram-na Barata de Igreja. Era secretária, faxineira, etc.

    Formou-se no Colégio Providência, uma jovem fazendeira, que além de linda e educada, era muito piedosa. Noiva de importante figura local, fora convidada pelo padre, a secretariar as reuniões pastorais e a ensinar catecismo às crianças.

    A velha “Barata de Igreja“ desesperou. Ninguém poderia substituí-la. Arquitetou, então, um plano para desmoralizar a honesta jovem.

    Divulgou na localidade que a moça era mula sem cabeça, ou seja, namorada do padre. O boato não fez efeito. Ela intensificou o ataque. Pegou os sapatos velhos do padre e colocou-os à noite sob a cama da moça. Conseguiu então seu intento. O pai da jovem escurraçou-a, expulsou de casa.  O noivo desfez o casamento. Desiludida a bela jovem transformou-se em peregrina.

    Acostumada à vida confortável, vivendo ao relento e mal alimentada voltou a padre Viegas, mas não fora reconhecida pelos que a viram. Bateu à porta de uma casa e pediu água. Ao retornar, trazendo-lhe o que foi pedido, a jovem estava morta. Como qualquer estranha, naquela época, ela foi velada na igreja.

    À noite, quando todos rezavam, chegou ao velório a Barata de Igreja. A Morta levantou-se, sentou-se sobre o caixão e disse:

    – Está aqui entre nós quem me caluniou. Quem me matou.

    – A velha caluniadeira saiu correndo e foi confessar-se.

    O padre lhe deu como penitência, recolher as penas de todas as aves abatidas pelos moradores do Município de Mariana. Pressurosa, a velha catou tudo e, sorridente, foi dizer ao padre que já cumprira a penitência.

    O padre lhe disse:

    – Carregue todos os balaios cheios para o alto do Morro do Galego. A velha obedeceu.

    – Agora to remida, né padre?

    – Aguarde, disse o padre, um vento forte para espalhar as penas.

    E quando a Barata de Igreja preparava-se para receber a absolvição, o padre lhe disse:

    – Cate pena por pena, quando acabar, procure-me.

    Por isso, na noite de sexta-feira da paixão ouve-se o caminhar de uma mulher resmungando:

    – Balaio de pena pesado.

    Assim, junto com a figura da morte, vai a Mulher da Pena, espalhando Pena pela cidade.

    Preserve a tradição e o folclore de Mariana, eles são parte da nossa identidade!

    Fotos : Casa de Cultura, Arquivo Jornal O Espeto