Parabéns pelos realizadores que de forma voluntária mantem essa tradição viva, mantendo assim um atrativo histórico e cultural que não é aproveitado como produto para agregar para a rede turística em Mariana como vemos em outras cidades.
Veja abaixo reportagem :
Por João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Na madrugada desta Sexta-Feira da Paixão (8 de abril de 2023), cerce de quase uma centena de almas saíram ao som de uma marcha fúnebre, matracas, correntes, gemidos e canções.
Vestidos com túnicas brancas as almas percorreram as ruas do Centro Histórico de Mariana, entoando canções, sendo seguidas por uma pequena multidão que seguiu a procissão desde a Igreja da Confraria, na Rua Dom Silvério.
O cortejo já é realizado desde 1850, porém há 38 anos é organizado pelo Movimento Renovador de Mariana e pela Casa de Cultura e Academia Marianense de Letras.
Uma das organizadoras da Procissão das Almas, a Profa. Dona Hebe Maria Rola Santos, de 91 anos, conta que a procissão é para quem quiser aparecer, e por ser uma tradição, a presença do público é garantida.
Dona Hebe diz que não ocorrem grandes preparativos para a celebração. “É um trabalho folclórico, nós não temos um planejamento. Nós chamamos até de ‘vem quem quer’, mas é sempre cheio de gente. Já é uma tradição”, afirma.
Elisabete da Silva, 51 anos, participa pela segunda vez do cortejo e fala sobre a sua relação com a celebração.
“Comecei no ano passado, mas sempre acompanhei, via de casa. Resolvi vir no ano passado e estou aqui de novo”, brinca. A fiel ainda declara que seguirá participando da Procissão das Almas, pelo menos, nas próximas cinco edições, isso por conta de uma história que envolve o cortejo. “Eu pretendo continuar, reza uma lenda de que quem sai pela primeira vez, deve fazer por sete anos seguidos, senão dá azar”.
Origem
De acordo com a Sra. Hebe Rola, a lenda que inspira o cortejo, teve início em 1967, quando diretor da Casa de Cultura e Academia Marianense de Letras na época, o jornalista Waldemar de Moura Santos, publicou a história. Na Procissão das Almas, as pessoas se vestem de branco, escondendo seus rostos sob um capuz, enquanto carregam um osso e uma vela e entoam uma canção:
“Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; reza mais, reza mais, pra alma que morreu sem confissão”.
Há também no meio do grupo, um participante fantasiado de morte responsável por carregar uma foice. Já a organizadora, Dona Hebe Rola, vive uma personagem que carrega um cesto cheio de penas, que são jogadas para o alto em alguns momentos da procissão para assim relembrar a lenda de Dona Maricota.
Conta-se que uma pessoa passava as noites na janela de casa vigiando a vida alheia, até que em uma Sexta-feira Santa, ela teria visto uma procissão semelhante à encenada na procissão das almas. Então um dos integrantes da procissão pediu para que Dona Maricota guarde uma vela e promete que voltará para buscá-lo. Na manhã seguinte a vela havia se transformado em um osso humano, causando um susto na pessoa! Conforme a crença popular, o espírito dessa pessoa acompanha a procissão até hoje.
Outra história é que Dona Maricota tinha inventado que uma moça estava de caso com um padre no distrito de Sumidouro, atual Padre Viegas. O noivo desta moça acabou rompendo o noivado por causa dessa conversa fiada. Ao ir confessar Maricota disse ao Padre que tinha inventado a história e ele como penitência mandou que ela enchesse um cesto de penas e espalhasse pelas ruas do distrito e voltasse lá para ouvir a segunda parte da penitência. Assim Maricota fez. Depois que espalhou pelos quatro cantos as penas ela voltou ao padre que disse: Agora você deve recolher todas as penas de volta! Maricota desesperada disse que não tinha como, pois o vento tinha levado muitas pra longe, outras tinha caído no córrego, outras entraram pelo matagal. O Padre respondeu: Assim é a fofoca e a mentira, você nunca sabe aonde irão parar e não tem como pegar de volta a conversa fiada !
Maricota ficou entristecida e passou a tentar capturar as penas de volta, e muitos anos depois pessoas encontram na quaresma penas pelas ruas de Padre Viegas e um vulto com balaio.