Por: Hynara Versiani e João B. N. Gonçalves
Neste domingo, 9 de abril de 2023, integrantes da Associação Marianense de Artistas Plásticos (Amap), junto a diferentes grupos de moradores de Mariana, se reuniram para confeccionar os tradicionais tapetes devocionais. Os tapetes, comuns em celebrações religiosas, são feitos de serragem, farinha de trigo, pó de café, flores cal, e conduzem os fiéis durante a Procissão Luminosa da Ressurreição.
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Os preparativos para a festividade ocuparam o dia de muitos artistas e famílias, que passaram a manhã e a tarde de domingo limpando e enfeitando as ruas para o cortejo da noite. O Secretário da Amap, João Bosco, explica como é o processo de produção dos tapetes: “Não é somente colocar a serragem na rua. É sobre representar a vida pública de Cristo nos dias da Semana Santa. Antes de qualquer coisa, a gente se sacrifica um pouco.”
De acordo com João Bosco, o processo se inicia na busca por matéria-prima, que é a serragem, nas madeireiras e marcenarias. “Buscamos areia também, uma areia especial branquinha e de textura mais forte, que pega o pigmento com mais facilidade. Temos que ir nesses lugares, encher os sacos e trazer para cá,” continua.
O secretário revela que, até pouco tempo atrás, a pigmentação dos materiais era feita manualmente. Os envolvidos passaram a usar uma betoneira para que o processo fosse mais dinâmico. “Usamos cores mais ligadas ao barroco: vermelho, azul, amarelo, para não fugir da tradição da nossa região. Tudo tem um contexto cultural, e trabalhamos muito essa ideia de pertencimento.”
João Bosco conta que foi feito um convite para que a população pudesse estar junto à Amap durante o processo de produção, mas que esse ano, não houveram tantas pessoas, provavelmente por receio do tempo nublado. Apesar disso, os artistas não desanimaram. “Trabalhamos em equipes, cada artista faz sua equipe e monta o desenho, e qualquer pessoa pode participar.”
Quanto à ameaça do clima, o Presidente da Amap e artista plástico Geraldino Silva relembra uma ocasião em que a chuva caiu sobre as serragens. “Ficamos com medo da chuva lavar os tapetes, mas Deus foi tão bom que ela só deu um efeito bonito, porque a serragem entrou no meio das pedras. As bordas se desfizeram pela água que passa nos cantos das ruas, mas o centro ficou intacto, só compactou o tapete mesmo,” conta Geraldino.
O presidente reforça também que a confecção dos tapetes é um trabalho para preservar uma tradição do município e das cidades históricas de Minas Gerais e do Brasil. “Não queremos deixar morrer o que era feito no passado, queremos passar os ensinamentos de geração em geração,” afirma, lembrando que, na bíblia, é dito que as pessoas enfeitavam o caminho para que Jesus passasse. “Esse é um legado que carregamos de nossos antepassados, e a gente vai passando para a frente.”
A produção dos tapetes devocionais é realizada com o apoio da Prefeitura Municipal de Mariana, que cobre os custos e libera os valores necessários para a compra dos materiais necessários. Neste ano, o secretário da associação diz que houve um contratempo: “Há um pigmento específico que precisa ser importado, mas como demorou bastante para fechar o contrato de liberação da verba, não tivemos tempo para comprá-lo”, explica. Apesar disso, João Bosco acredita que da próxima vez, será possível fazer um trabalho mais ágil.
