Leopoldina : a Atenas da Zona da Mata completa 169 anos de emancipação política

    Por Merania Oliveira *

    Leopoldina, cidade situada na Zona da Mata mineira, completou, no último 27 de abril, 169 anos de emancipação política. O topónimo Leopoldina é uma homenagem à segunda filha do Imperador D. Pedro II, que, em 1881, encerrou sua visita à Província de Minas Gerais naquela cidade. Para além do nome da cidade, a princesa Leopoldina é homenageada também por meio de uma bela estátua, colocada no centro da cidade, e que chama atenção de todos que por ela passam.

    A cidade foi, inicialmente, habitada por povos originários da tribo “Puris”. O município, enquanto organização administrativa, surgiu devido à generosidade de dois fazendeiros: Francisco Pinheiro de Lacerda e seu sogro Joaquim Ferreira de Brito. Os dois fizeram doações para a construção de uma capela e das terras em que se encontravam o pouso de “Feijão Cru”. Em torno destas terras, erigiu-se o povoado, que passou à categoria de Vila, em 27 de abril de 1854.

    O nome “Feijão Cru”, segundo a tradição oral local, tem motivação nos tropeiros que acamparam em uma clareira, ao lado de um córrego, onde foi aceso o fogo para fazer a comida da tropa. Na ocasião, o cozinheiro teria dormido e, portanto, não percebeu que as chamas haviam se apagado, deixando, assim, cru o feijão que estava sendo preparado – daí a origem do nome do ribeirão que corta a cidade.  

    A localidade possui terra fértil não só do ponto de vista agrícola, pois de lá saíram filhos inteligentes e empreendedores. O grande impulso econômico da região surgiu com a criação da Companhia Estrada de Ferro Leopoldina, ferrovia que nasceu da iniciativa de fazendeiros e comerciantes da Zona da Mata mineira, acostumados a transportar a produção de café da maneira tradicional – por tropas de mulas – até os portos do litoral. No retorno, os tropeiros aproveitavam para trazer diversos produtos manufaturados.

    Outro fator de destaque para a cidade de Leopoldina é o investimento no nível educacional feito, desde a metade do século XIX, com o funcionamento de boas escolas. Por essa razão, a cidade também ficou conhecida como Atenas da Zona da Mata – referência à cidade grega. O Ginásio Leopoldinense, fundado em 1906, ofertou, por um longo período, o ensino técnico na área agrícola e o ensino superior de farmácia e de odontologia. Com isso, as famílias podiam manter seus filhos na região, sobressaindo o espírito empreendedor deles, o que muito contribuiu para o desenvolvimento econômico regional. Não se pode esquecer também a importância da criação da Companhia Força e Luz Cataguases-Leopoldina (atual Grupo Energisa) feita, em 1905, por leopoldinenses.

    Leopoldina é sede de bispado e seu padroeiro é São Sebastião, cuja rica catedral foi construída em uma colina de onde se tem uma bela vista, que se tornou um dos mais belos cartões postais do lugar.

    A cidade possui relevantes equipamentos culturais, como o Museu-espaço dos Anjos, que foi instalado onde residiu o poeta Augusto dos Anjos; a Casa de Leitura Lia Botelho, que coloca em foco a literatura infantojuvenil permitindo que crianças e adolescentes busquem pela leitura. Práticas como essa permitem despertar na população o gosto pela leitura. Um reflexo disso é o fato de tantos leopoldinenses escreverem sobre sua cidade, como se pode comprovar na Biblioteca Municipal.

    O município é extenso e possui distritos com diversas peculiaridades. Em Tebas, por exemplo, há uma colônia de descendentes de italianos. Piacatuba é o distrito mais antigo que a sede da cidade. Há também outros como: Providência, Ribeiro Junqueira e Abaíba.

    Como escreveu Guimarães Rosa: “Minas são muitas”. Porém a mineiridade é um jeito forte em seu povo. Como escreveu a Professora Regina Almeida, em seu artigo, A INESQUECÍVEL VISITA A LEOPOLDINA-MG, em 2022: “Leopoldina nos faz refletir sobre os mistérios da mineiridade – um modo de “ser e estar no mundo”, uma hospitalidade acolhedora que não se faz grande pela ostentação, mas pela simplicidade e pela pura e verdadeira alegria que dá ritmo ao coração e calor”.


    [1] Jornalista e presidente do Instituto Roque Camêllo.