Instituição está instalada na casa do artista plástico marianense Eduardo Campos
João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Inaugurado em 16 de julho de 2021, em uma live durante a pandemia de Covid-19, o Museu Minas do Gogô é responsável por preservar a história dos negros escravizados que construíram Mariana durante o período colonial. O museu está hospedado na casa de seu fundador, o professor de história e artista plástico Eduardo Campos.
A sua exposição não é formada por obras de grandes artistas como Aleijadinho e Mestre Ataíde, mas por artefatos utilizados pelos negros escravizados que trabalharam na cidade durante o período colonial. De acordo com o professor, os itens que compõem o museu foram coletados, em sua maioria, por ele mesmo, no Parque Arqueológico do Gogô, no Morro Santana.
Eduardo Campos lista alguns dos itens que encontrou no parque arqueológico: “Há cachimbos de escravos, brunidores, artefatos de fundição, ferramentas utilizadas na mineração”. Além desses artefatos, o museu também possui algumas peças confeccionadas pelo próprio artista, como a imagem de Santana do Morro, a de Nossa Senhora do Rosário, esculpida em cedro, e um presépio que representa a vida cotidiana dessas pessoas.
O presépio é justamente a principal atração do Museu Minas do Gogô. Por ser mecânico, ele concede vida e chama atenção pelos detalhes. O presépio representa o cotidiano dos escravizados, as ruínas das casas da época, espaços de mineração e a Igreja de Santana do Morro.
Segundo Eduardo Campos, a sua motivação para criar o Museu Minas do Gogô está relacionada ao valor histórico e patrimonial que o sítio arqueológico do Gogô possui, ao lado da ausência de políticas públicas para a sua preservação. O artista plástico conta que depois de inúmeras audiências públicas relacionadas à questão do registro da vida dos africanos escravizados na região de Mariana, percebeu que não haveria nenhuma iniciativa do poder público, e isso o motivou a realizar um trabalho paralelo para a valorização dessa cultura.
Ele afirma que o Museu Minas junto ao Sítio Arqueológico do Gogô é uma oportunidade para se voltar ao passado e relembrar um momento triste da história brasileira. “Toda a informação sobre como era a vida dos africanos escravizados aqui na nossa região está no Museu Minas. Pode-se dizer que é o mais importante registro do Brasil, e talvez, da América Latina, no que se refere à questão da exploração do ouro na região”, diz.
O Museu Minas do Gogô é um valioso bem para a preservação da identidade cultural de Mariana e permite que as pessoas conheçam a história e voltem ao início do povoamento da cidade e do estado de Minas Gerais. “A importância do museu está na preservação, na conservação, e no fato de contar a história desse período. São 300 anos de escravidão no Brasil, de muito sofrimento, em que cometeram atrocidades contra o africano aqui, e uma parte desse registro está aqui no Museu Minas”, relata o professor.
O museu está localizado no Morro Santana, local onde de acordo com a história, iniciou-se a cidade de Mariana. E no Parque Arqueológico do Gogô, ainda é possível encontrar vestígios do início do povoamento da região, como as antigas minas de ouro, os buracos de Sari, brunidores, ruínas de casas e igrejas e fragmentos de artefatos e utensílios produzidos pelos escravizados nos séculos XVII e XVIII.