O tombamento Estadual feito pelo IEPHA em 2018 impede que a comunidade realize as manutenções necessárias por conta própria e a situação da Igreja só piora com o passar do tempo. “Pedimos a intervenção antes que ela caia”, afirma Mônica que participou da missa e do abraço a Igreja dia 27 de maio de 2023 em prol da reforma da Igreja das Mercês.
Por João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Para receber notícias do jornal O Espeto em seu whatsapp clique aqui
No último sábado, 27 de maio de 2023, a Comissão dos Atingidos de Bento Rodrigues realizou um ato religioso em prol da restauração da Capela de Nossa Senhora das Mercês, localizada no território devastado pela lama.
O movimento reuniu cerca de 100 pessoas que querem maior rapidez no inicio das obras de reforma da Igreja das Mercês.
Mônica Santos, atingida de Bento Rodrigues e integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), relata que o ato religioso tem o objetivo de chamar atenção para que as obras de intervenção comecem o quanto antes.
“O que nos motiva é o estado que a capela se encontra. A cada final de semana que a gente chega para abrir para ela respirar e para limpar, infelizmente, é um pedaço no chão que a gente encontra”, diz.
A Capela de Nossa Senhora das Mercês recebeu o tombamento estadual em 2018, e por isso, a comunidade não pode realizar as manutenções necessárias por conta própria, necessitando de aprovação dos órgãos competentes: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), além da Secretaria de Obras e Fundação Renova, responsável pelas compensações ao rompimento da Barragem de Fundão. “Pedimos a intervenção antes que ela caia”, afirma Mônica.
As tratativas para o início das obras de restauração do templo religioso já iniciaram, houve a aprovação do IEPHA e da Secretaria de Obras de Mariana, porém, a Fundação Renova impôs o prazo de 180 dias para a licitação. Os antigos moradores pedem maior celeridade, pois receiam que a capela poderá cair, principalmente, caso venham chuvas fortes.
Mauro Marcos da Silva, de 53 anos, é descendente dos moradores que construíram Bento Rodrigues no século XVIII, e conta que o ato busca defender o patrimônio cultural e histórico dos territórios atingidos.
“Hoje é um ato em defesa do patrimônio histórico de Bento Rodrigues e de todas as áreas atingidas. A gente vem reivindicando há tempos a reforma da Capela das Mercês e a reforma das Ruínas São Bento, que é um patrimônio histórico pra gente, e a gente quer a preservação desse patrimônio”, afirma.
O ato reflete o pertencimento e a resistência da população do território, um esforço para que o patrimônio seja preservado para as futuras gerações e para aqueles que decidem ficar.
“Eu não sou nada sem Bento Rodrigues. Aqui, eu vinha comemorar minhas conquistas e lamentar minhas derrotas, e assim continuo”, exclama Mauro.
Fundada em 1710, a comunidade de Bento Rodrigues estaria comemorando seus 313 anos. “Várias pessoas que eram daqui e que tinham intenção de vir, não vieram, às vezes por causa do mal-estar que causa. Isso acaba abalando emocionalmente as pessoas”, explica Mauro. Desde 2015, essa luta vem acumulando defensores do patrimônio, e além de membros do povoado, também compareceram ao ato diversos simpatizantes da causa.
Mauro pede que a história de Bento Rodrigues seja preservada, e que o rompimento da barragem da Samarco tenha sido uma lição. “Que isso seja preservado para ficar um legado para a história de como a mineração, feita de forma irresponsável, é prejudicial para a sociedade.”