Por: Erenildo Euzébio
Em uma cidade disfuncional, a má gestão e a precariedade dos serviços públicos criam um ambiente propício para o desenvolvimento de pessoas desiludidas e desmotivadas. A ausência de infraestrutura adequada e políticas sociais efetivas gera desesperança e desamparo entre os habitantes, alimentando a disfuncionalidade humana. Nesse cenário, a cidade não apenas reflete, mas também contribui para a formação de indivíduos desajustados, tornando urgente a necessidade de uma gestão mais comprometida com o bem-estar e a qualidade de vida da população.
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Assim como no livro “O Homem que Plantava Árvores”, de Jean Giono, a situação de uma cidade mal gerida, a pelo menos 30 anos, assemelha-se à vida nas vilas descritas na obra. Em que a população não era mais uma comunidade, mas sim um amontoado de pessoas, como brilhantemente o autor descreve no trecho a seguir:
“…Inimizade irracional cresce além dos limites, alimentada pela luta contínua para escapar daquele lugar. Os homens levam seu carvão às cidades em seus caminhões e então retornam. As qualidades mais sólidas quebram debaixo dessa perpétua ducha escocesa. As mulheres tornam-se amargas. Há competição acerca de tudo, da venda do carvão aos bancos da igreja. As virtudes lutam entre si, os vícios lutam entre si e há um combate incessante entre os vícios e as virtudes. Acima de tudo o vento igualmente incessante irrita os nervos. Há epidemias de suicídios e numerosos casos de insanidade, quase sempre assassinos...” Trecho retirado do livro.
Nesse contexto, o transporte público surge como um exemplo emblemático dos problemas decorrentes da negligência e da falta de direcionamento dos gestores. Ao observar o estado caótico do transporte público, é possível perceber traços da selvageria descrita pelo autor. Usuários são tratados de forma desumana, obrigados a enfrentar ônibus superlotados, atrasos frequentes e condições degradantes nas estações de embarque e desembarque. Essas situações frustrantes incitam comportamentos hostis, brigas entre passageiros e até mesmo ofensas direcionadas aos motoristas, como se o cotidiano dos transportes fosse uma luta egoísta pela sobrevivência.
A insensibilidade dos políticos com esse tema é notória, justamente porque muitos deles não dependem do transporte público em seu dia a dia. Essa desconexão com a realidade vivenciada pela população comum os distancia das dificuldades enfrentadas diariamente por quem precisa se deslocar pela cidade de forma coletiva. Dessa forma, a falta de experiência direta acaba gerando decisões políticas que pouco consideram as reais necessidades dos cidadãos, perpetuando um serviço precário e desumanizado.
Além disso, a concessão de um contrato milionário a uma empresa prestadora do serviço de transporte público, mesmo diante de um serviço tão ruim, é um exemplo contundente da falta de comprometimento com o bem-estar da população. Enquanto os usuários são relegados a um serviço desqualificado, empresas são presenteadas com vantagens contratuais sem a devida avaliação de eficiência e qualidade dos serviços prestados. Essa prática reflete uma administração descompromissada com o interesse público, priorizando benefícios particulares em detrimento do coletivo.
Mas há luz no fim do túnel, assim como o protagonista do livro plantava árvores para transformar a paisagem desolada, é imperativo que nós assumamos a responsabilidade de melhorar o transporte público bem como toda a cidade. Investir em infraestrutura adequada, buscar soluções para tornar o serviço mais eficiente e acessível e promover uma gestão transparente são ações imprescindíveis para romper com a indiferença política, proporcionar uma mobilidade urbana digna e eficiente para todos. Somente assim será possível transformar o cenário da cidade e plantar sementes de uma administração comprometida com o bem-estar e a qualidade de vida de seus cidadãos. Assim como o vilarejo do livro ressurgiu, nós também ressurgiremos.