Você conhece os Marianenses que participaram desse momento de nossa história?
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Por Liriel A. Barbosa e Luiz R. R. Silva
Quando pensamos no processo da independência do Brasil, que se concretizou em 1822 – embora haja discordâncias em relação a isso, sobretudo em outras regiões do Brasil – nos vêm à mente os principais personagens desse processo. Ora nos aparece as caricaturas, como o rei português comendo as suas coxas de frango retiradas dos bolsos, ou a rainha Carlota com seus muitos amantes.
Ora as figuras heróicas, como D. Pedro montado em seu alazão e gritando a famosa frase: “Independência ou Morte!”, às margens do Ipiranga. Todavia, nossa cidade, Mariana, também contribuiu com personagens ilustres no processo de separação. Neste presente texto nós trataremos de três dessas personagens: o José Joaquim da Rocha, o Visconde de Barbacena e o Marquês de Queluz.
José Joaquim da Rocha, o primeiro ilustre que falaremos, nasceu em Mariana no ano de 1777, época em que a cidade era a capital de Minas Gerais. Era órfão, e muitos historiadores consideram que era de origem humilde. Aqui na cidade se formou, inicialmente no Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, atual ICHS, e depois seguiu carreira militar.
Seguir carreira militar era a forma dos indivíduos não nobres subirem socialmente, mas, Joaquim da Rocha tinha por paixão a advocacia.
Exerceu a função de rábula – uma espécie de advogado sem formação – na cidade de Mariana, porém fez sucesso de fato no Rio de Janeiro, quando se mudou para lá em 1808, em decorrência da mudança da corte portuguesa para o Brasil. Naquele período a Europa passava pelas guerras napoleônicas, quando o Imperador francês expandia seu Império.
Quando Napoleão Bonaparte foi invadir Portugal, o rei fugiu antes e veio para o Brasil. Isso trouxe grandes mudanças para a antiga colônia, que foi elevada à Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815.
No Rio de Janeiro fez parte da vida política e intelectual da região. Fundou, em 1812 uma loja maçônica na Praia Grande, atual Niterói, e também participou ativamente da loja maçônica do Rio de Janeiro, que inclusive tinha como membros o próprio príncipe D. Pedro e o patrono da independência, José Bonifácio.
A loja maçônica, essa organização secreta, de inspirações iluministas, teve papel fundamental na independência, pois diversos políticos e estadistas daquele momento eram maçons. No ano de 1821, Joaquim Rocha, de fato, entrou para a vida política, e foi eleito deputado suplente por Minas Gerais. Nesse mesmo ano, o rei de Portugal, D. João VI, foi intimado a retornar para Portugal.
Naquela conjuntura, Napoleão já havia sido derrotado pelas forças inglesas e pelo inverno russo, e não fazia mais sentido a permanência do rei no Brasil. E havia naquele momento um desejo de que o Brasil voltasse à posição de colônia (inferior) de Portugal.
José Joaquim da Rocha emerge ainda mais no cenário político, e passa a fazer parte do Conselho Pessoal do Príncipe D. Pedro I. D. João VI retornou a Portugal, em abril de 1821, todavia D. Pedro fica no Brasil, como governante. Depois, Portugal também íntima D. Pedro a retornar para Portugal, proposta que Joaquim da Rocha foi totalmente contra, e inclusive, diversos historiadores afirmam que ele foi o escritor do discurso lido por D. Pedro no Dia do Fico, dia em que ele decide ficar no Brasil: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto!”.
Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta, futuro Visconde de Barbacena, foi também um marianense primordial para a concretização da independência do Brasil. Aqui nasceu, em 1772, mas estudou em Portugal, no Colégio dos Nobres e no Rio de Janeiro, na Academia Militar. Ele trabalhava para D. João VI, e no ano de 1808 veio para o Brasil junto ao rei. Assim como serviu à D. João VI, também serviu ao filho do rei, D. Pedro. Inclusive foi Caldeira Brant quem negociou o casamento de D. Pedro com D. Maria Leopoldina. O que demonstrava a confiança que a coroa tinha em seus serviços.
Após o 7 de setembro de 1822, Barbacena teve função primordial na diplomacia. Pois, entenda, para uma nação ser independente é preciso que outras nações a reconheçam.
O primeiro país a reconhecer o Brasil foi os Estados Unidos da América, em 1824. Em 1825, depois do árduo trabalho diplomático de Caldeira Brant, a Inglaterra, principal potência naquele momento, reconhece a independência, e junto a ela, Portugal também. Além de ter sido um dos organizadores do governo de D. Pedro I, e forte incentivador do constitucionalismo – um governo que tem por base uma constituição.
João Severiano Maciel da Costa, futuro Marquês de Queluz, é o último ilustre que iremos tratar. Ele nasceu na cidade de Mariana, em 1760. Formou-se em Coimbra, em Portugal e seguiu a carreira judicial, e no ano da mudança da corte para o Rio de Janeiro já era desembargador. Era influente na vida política da capital, e por sua influência foi enviado para conquistar e depois governar a Guiana Francesa de 1809 a 1815.
A Guiana Francesa era uma colônia da França no continente Americano, e com a invasão de Napoleão Bonaparte à Portugal, e a fuga da família real, D. João organizou um exército e invadiu a região em represália, anexando-a ao Brasil de 1809 a 1817.
Quando intimaram D. João VI a voltar para Portugal, Queluz acompanhou o rei, mas, quando chegou a Portugal, o proibiram de descer da embarcação e ele teve que voltar, injuriado, ao Rio de Janeiro.
Desta forma, ele passou a ser um dos principais alicerces do governo de D. Pedro, que cada vez mais ia se distanciando contra os mandos de Portugal, e que em 1822, se separou definitivamente. Depois do 7 de setembro, o Brasil estava como um barril de pólvora, prestes a explodir. E uma das formas de conciliar toda aquela situação era através de uma constituição. Queluz foi primordial para isso. Ele foi eleito para a Constituinte de 1823, mas no final, D. Pedro I não estava gostando dos rumos daquela constituição e a extinguiu. Ele organiza um conselho pessoal, de pessoas íntimas, entre elas o Marquês de Queluz, e essas pessoas junto ao Imperador criam a constituição de 1824, a primeira do Brasil, que acalma os ânimos e estabiliza um pouco a situação revolta que imperava.
Essas personagens marianenses foram primordiais para a independência do Brasil, mas, por serem ilustres, é mais fácil o resgate de suas memórias e suas importâncias. Todavia, é preciso fazer uma reflexão, e os “não ilustres” da independência do Brasil? E os mortais, a população comum? Quantos marianenses humildes não devem ter lutado pela independência, nas várias guerras que se alastraram pelo Brasil depois de 1822?
A história é feita de personalidades, de ilustres, de imortais, mas é preciso entender que ela também é feita por nós, pessoas comuns, que trabalhamos, criamos família, vivemos. A história, muito mais que adoração do passado, deve ser também questionamento. Afinal, porque alguns são lembrados, e outros não? Como essa cobra mordaz que é o tempo, age sobre os indivíduos, os aplica glória? infortúnio? ou esquecimento?
Liriel A. Barbosa, capixaba, é graduanda em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.
Luiz R. R. Silva, mineiro, poeta e graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.