Foto: Guilherme Dardanhan
Com causas variadas como genéticas, comportamentais e ambientais, problema de saúde pública deve ser enfrentado de forma prioritária e urgente, segundo especialistas.
As taxas de obesidade quase triplicaram nos últimos 50 anos, afetando pessoas de todas as idades e grupos sociais. Entre crianças e adolescentes a situação é ainda mais preocupante: o aumento foi de quase 500% nesse período segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). As causas da obesidade são variadas e entre elas estão questões genéticas, estilo de vida e o ambiente onde se vive.
Para receber notícias no seu WhatsApp clique aqui
E para receber notícias da nossa página no Facebook
Se inscreva no nosso canal do you tube para receber nossas reportagens, clique aqui
Esses dados preocupantes começaram a ser debatidos na tarde desta segunda-feira (2/10/23) no “Ciclo de Debates – Obesidade é doença: o desafio é de todos”, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A programação do evento prossegue nesta terça-feira (3/10/23), no Auditório José Alencar, com especialistas de diversas áreas para debater os desafios relacionados à obesidade.
Ao traçar um raio x do problema neste primeiro dia de debates foi lembrado que o panorama no Brasil e em Minas Gerais não é diferente.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os adultos, 60,3% apresentam excesso de peso, sendo 26,8% já com obesidade. E o Mapa da Obesidade em Minas Gerais, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), aponta que 61,9% dos mineiros têm sobrepeso e, desses, 28% estavam com algum grau de obesidade.
Autor do requerimento para a realização do ciclo de debates, o deputado Coronel Sandro (PL) coordenou os trabalhos. Segundo o parlamentar, os diagnósticos e propostas apresentados durante o debate poderão subsidiar o poder público, incluindo estado e municípios a fazer leis e políticas públicas de enfrentamento à obesidade.
“Há uma negligência geral com relação a obesidade, do poder público, dos meios de comunicação, da sociedade como um todo. Precisamos aceitar que é uma doença grave com consequências sérias. É preciso enfrentá-la de frente, com coragem, por isso o ciclo de debates. Vamos criar um comitê de representação para dar continuidade aos trabalhos, com a elaboração de medidas efetivas a serem implementadas por todos os segmentos da sociedade”.
Coronel Sandro
Dep. Coronel Sandro
A palestra de abertura “Obesidade como doença: um problema de saúde pública” foi conduzida remotamente pela coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Poliany de Souza Alves, e, presencialmente, pela professora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV, Helen Hermana Miranda Hermsdorff.
Esta última é também coordenadora do programa Rede para Enfrentamento da Obesidade em Minas Gerais (Renob-MG) e do Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular (Procardio) da UFV. Helen Hermsdorff explicou que a obesidade na população mineira tem aumentado ano a ano e, em pouco mais de uma década, de 2008 a 2021, segundo o estudo da UFV, mais que dobrou.
Segundo ela, isso aconteceu inclusive no semiárido, em locais como Vale do Jequitinhonha e Nordeste do Estado, o que mostra que não são apenas as regiões economicamente mais desenvolvidas que enfrentam o problema. Nessas regiões, a obesidade cresceu de 10% em 2008 para 25% em 2021 entre os adultos.
“É uma situação bastante preocupante. A análise do consumo alimentar pode nos dar uma explicação. Para ser uma ideia, descobrimos que entre crianças até 9 anos 88% delas já consomem alimentos ultraprocessados, com muito açúcar gordura e corante. É o caso dos salgadinhos, refrigerantes, biscoitos recheados. São alimentos não saudáveis reconhecidos como fator de risco para obesidade”, aponta Helen Hermsdorff. Dados do IBGE apontam que no País a obesidade já atinge cerca de 6,7% das crianças e adolescentes.
Mas, de acordo com a especialista, é preciso também enfrentar o estigma da obesidade. “Biologicamente a gente entende que a obesidade vem de um consumo excessivo de calorias frente a um gasto de energia insuficiente. Isso leva a gente a pensar que a pessoa com esse excesso de gordura é a única responsável por esse balanço energético positivo, o que nem sempre é verdade”, aponta.
Outra avaliação feita pelos especialistas é de que o poder público deve colaborar oferecendo condições para que haja mudança de hábitos, o que inclui condições para alimentação mais saudável e a prática de atividades físicas.
“Existem vários fatores que podem levar a essa ingestão maior de calorias. Será que essa pessoa tem condições de acesso a alimentos saudáveis? Será que ela tem segurança pública suficiente e espaços disponíveis para fazer uma caminhada, para se exercitar? A obesidade é uma doença complexa, de causa multifatorial, e por isso é preciso também políticas públicas abrangentes para enfrentá-la”.
Helen Hermsdorff
Nutricionista
“Antes de tudo é preciso orientar as pessoas que enfrentam a obesidade a buscar um atendimento médico. Isso já é complicado com todo o estigma que cerca o problema. E também precisamos de políticas públicas para, por exemplo, incentivar a prática regular de atividade física, promover uma alimentação mais saudável e garantir acesso ao tratamento mais adequado, inclusive com medicamentos. É um problema de saúde que precisa ser enfrentado como um problema de saúde”, explicou, ainda, a médica Flávia Coimbra Pontes Maia. Fonte: ALMG