Trajetória de Zezé Motta é destaque em primeiro evento do Museu de Mariana

Bate-papo musical reuniu intenso público no jardim do museu para relembrar a trajetória da atriz e cantora de 79 anos

Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani

Nesta terça-feira, 10 de outubro de 2023, o Museu de Mariana abriu suas portas para um evento inaugural de destaque: o “Bate-papo Musical” com a renomada atriz e cantora brasileira Zezé Motta. A conversa, mediada pelo artista Júlio Diniz, abordou a trajetória e vida da cantora e temas pertinentes ao Brasil atual. Zezé entoou sucessos como “Muito prazer” e “Crioula”, animando o público presente.

Zezé Motta compartilhou os marcos de sua carreira. Desde o momento em que a música “chegou a ela”, até a realização do seu sonho de ser atriz e cantora, Zezé, como ela mesma se define, uma “cantriz”, deixou o destino guiar seus passos. A oportunidade na atuação surgiu antes, e foi o filme “Xica da Silva” (1976) que a projetou nacionalmente e que a impulsionou a também explorar o canto, embora naquele momento lhe faltasse repertório, empresário, e tivesse apenas uma vontade inabalável.

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Ela relembrou os primeiros passos na arte da atuação, agraciada com uma bolsa para o curso do Tablado, escola de atuação, à época ministrada por Maria Clara Machado, segundo ela, de importância ímpar na sua  formação da artista. Antes disso, trabalhava em um laboratório farmacêutico, numa fase que antecedeu sua carreira nas artes cênicas e na música.

No começo de sua carreira, Zezé conta ter enfrentado a hostilidade da Ditadura Militar ao participar de uma peça teatral considerada subversiva pelo regime. O grupo teatral foi alvo de perseguições brutais, inclusive por parte do chamado “comando de caça aos comunistas”, resultando em danos aos camarins e agressões físicas aos atores.  Zezé ressaltou a importância de lutar pela democracia.

Júlio Diniz destacou a perda de muitas figuras importantes das artes nos últimos anos, enfatizando que sua memória persiste no coração de todos. Em um apelo à união, ele ressaltou a transcendência da arte, que supera divergências partidárias, preferências esportivas, etc. Para Júlio, a inauguração do Museu é um símbolo da importância priorizar a paz e a alegria em um mundo conturbado. Zezé Motta, para ele, personifica a alegria de estar vivo.

Ao abordar seu papel em “Xica da Silva”, Zezé Motta destacou a relevância da personagem como uma protagonista negra, um marco em um cenário no qual as mulheres negras recebiam somente papéis com pouca relevância para as tramas. Ela criticou a limitação de oportunidades para artistas negros na mídia à época e lembrou a criação do Centro de Formação e Documentação do Artista Negro (CIDAN) como uma solução para esse obstáculo. O CIDAN se tornou um ponto de referência para diretores e escritores em busca de talentos negros, promovendo a visibilidade e representatividade na indústria.

O Museu de Mariana

Inaugurado em 28 de setembro, o Museu de Mariana convida os visitantes a explorar os aspectos sociais e históricos da cidade, culminando na emblemática Praça Minas Gerais, epicentro do centro histórico. Autoridades ligadas ao museu destacaram sua importância e ressaltaram o compromisso contínuo com a preservação da cultura. Cristiano Vilas Boas, vice-prefeito e secretário de Cultura e Turismo, enfatizou o protagonismo de Mariana, que lidera o ICMS Cultural entre os 853 municípios mineiros.

A responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, Anna Grammont, ressaltou a longa jornada para as restaurações e agradeceu o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) e do Governo Federal. Ela enfatizou a importância de criar memórias afetivas nas pessoas para fomentar o desejo de preservar o patrimônio e solicitou a colaboração da comunidade na manutenção e restauro, evitando perdas irreparáveis.

Na próxima terça-feira, 17 de outubro, o Museu de Mariana recebe mais uma atração: o ator e humorista Gregório Duvivier. O artista vem a Mariana dando sequência ao calendário cultural do município.