Por: Beatriz Granha
Fotos: Lara Eliza Ferreira
Na noite de terça-feira, 05 de dezembro, o Museu de Mariana recebeu a quarta edição do projeto Sílabas e Sons, com a presença das ilustres convidadas Conceição Evaristo e Leila Maria, numa conversa com Júlio Diniz.
Conceição Evaristo, consagrada linguista, escritora e pesquisadora-docente aposentada, é uma figura de referência em literatura negra no Brasil, questões de gênero e etnia, crítica sócio-histórica e personagens marginalizados socialmente.
Leila Maria, cantora conhecida por ter participado do programa The Voice, traz nas músicas que interpreta a temática da mulher negra e o questionamento da posição de subalternidade da população preta na sociedade brasileira.
O evento foi marcado por músicas fortes interpretadas pela bela voz de Leila Maria e pelas falas emocionantes de Conceição Evaristo, em diálogo com Júlio Diniz. Conceição iniciou falando sobre sua infância numa favela em Belo Horizonte, sobre o contexto de pobreza e seu constante questionamento e observação do mundo ao seu redor.
Ela relata que desde criança estava sempre atenta ao que ouvia e às regras que eram impostas, e principalmente àquilo que não compreendia, e imaginava que encontraria na leitura e na escrita as respostas que buscava. Outro sonho era ser professora. Sua família foi expulsa da antiga favela Pindura Saia, que hoje não existe mais, o que a levou para o Rio de Janeiro, onde mora até hoje. Foi no Rio onde Conceição prestou concurso para o magistério, se tornou professora e fez graduação em literatura, e assim passou a enxergar a literatura como forma de transformação e emancipação social por meio das lutas étnicas.
Conceição Evaristo conta de sua graduação, mestrado e doutorado e fala de sua carreira com orgulho, mas frisa a importância de que sua história não seja usada como forma de justificar a meritocracia. Ela reforça que seu caso é uma exceção, e que não é certo que parte da população precise se esforçar tanto para conquistar algo que para outra parte da população é facilitado, citando um recorte racial. A escritora admite que os últimos anos representaram retrocessos em questões culturais, sociais e raciais, mas admite que os recuos fazem parte do processo. Segundo ela, recuar não é fugir da luta.
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Evaristo foi pioneira no estudo de literatura de matrizes africanas no país, e é criadora de conceitos como a Escrevivência, que descreve como a escrita que nasce do cotidiano, das lembranças e memórias, no qual baseia muitas de duas obras, relatando a condição da população negra de forma coletiva, indo além de uma escrita egóica e de uma experiência pessoal. Em suas obras, Conceição retrata as fortes desigualdades socioeconômicas e culturais que assolam a população brasileira no que diz respeito ao recorte racial e de gênero. Ela traz histórias reais e fictícias de famílias negras, de mães e avós negras, de mulheres serviçais, escravas e ex-escravas que carregam no corpo e na alma o peso do racismo.
Após o bate papo musical, Conceição Evaristo tirou fotos e fez sessão de autógrafos com os visitantes. A presença de uma convidada tão representativa é de grande importância para o Museu, para o público presente, para a cidade e para a educação e a cultura de Mariana.