Jair Inácio, idealizador do primeiro curso técnico de conservação-restauração do país, será reverenciado por escola de samba de Ouro Preto. Homenagem acontece no mesmo momento em que avança as ações para tornar o samba como patrimônio cultural e imaterial do estado
Jair Afonso Inácio. Muitos podem não saber, mas esse ilustre ouro-pretano é responsável pelos primórdios da conservação-restauração no país. Seu pioneirismo também sustentou – e ainda sustenta – os pilares do ensino sobre o tema. Tendo a então recém-criada Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP) como cenário, Jair Inácio (1932 – 1982) dedicou sua última década de vida a também transmitir todo o seu conhecimento para os estudantes, futuros guardiões do patrimônio histórico e artístico.
Nada mais justo do que reverenciar e popularizar a história dele na maior festa de rua do planeta. A Escola de Samba União Recreativa do Santa Cruz, de Ouro Preto, assumiu para si a tarefa de homenageá-lo em seu desfile na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro, em seu desfile.
“Eu tinha 12 anos e já era jornaleiro. E sempre via o Jair Inácio frequentar a casa do artista Nello Nuno”, diz João Benício do Espírito Santo, um dos diretores da Escola de Samba do Santa Cruz. Ele conta ainda que a ideia de reverenciá-lo nasceu do fato de que muitos ouro-pretanos não conhecem a importância de Jair, sobretudo, para uma cidade histórica, patrimônio mundial.
Foram necessários pelo menos dois anos de imersão na história do artista, que nasceu no distrito de Antônio Pereira. O resultado está no samba-enredo, que vai para a avenida, composto por João Pedrosa. Uma frase icônica de Jair foi uma das inspirações para a música: “Acontece cada vida na coisa da gente”.
De acordo com João Benício, quatro carros alegóricos e dez alas farão parte do desfile. Cerca de 200 pessoas irão pular e cantar a história do restaurador na avenida. Dentre elas, Zenith Alves, viúva de Jair. Uma ala será reservada para servidores, colaboradores e alunos da FAOP, que também apoia o desfile ao confeccionar pelo menos cinco estandartes que irão ornamentar um dos carros alegóricos. Para este carnaval, a Escola de Samba do Santa Cruz, que alcança o seu 15º ano de história, teve também o apoio do Galpão Cultural Sinhá Olímpia para produzir as alegorias e adereços do desfile, como o busto de Jair Inácio.
Bianca Monticelli, coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauração da FAOP, afirma que desde as primeiras aulas do curso técnico na instituição, a história de Jair é destacada como referência importante para os estudantes. Para ela, a homenagem serve para conscientizar a população de Ouro Preto sobre uma de suas figuras históricas mais recentes que fazem a cidade ser ainda mais reconhecida. Além de oferecer maior visibilidade para a profissão do conservador-restaurador.
Quem foi Jair?
Nascido em 1932, no distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, Jair Afonso Inácio é nome fundamental na preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro. Sua dedicação e conhecimento foram fundamentais ao desenvolvimento das práticas de proteção da história e da memória de comunidades e à promoção da conservação do patrimônio artístico e histórico do Brasil.
Sua jornada começa como aprendiz de Estevão Souza, restaurador de igrejas em Ouro Preto. Estudou inglês, alemão, francês, italiano, flamengo e húngaro, o que lhe permitiu acessar a literatura internacional sobre o assunto.
Em 1956, foi convidado a se juntar ao Curso de Restauração de Obras de Arte da Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Depois de estudos na Bélgica, tornou-se restaurador-chefe do 3o Distrito da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), responsável por Minas Gerais e Goiás. Foi professor na Universidade de São Paulo e na UFMG, por meio do Centro de Conservação-Restauração de Bens Culturais (Cecor).
Integrou o Conselho Diretor da FAOP e foi o responsável pela criação do Curso de Restauração de Obras de Arte na instituição, que mais tarde seria chancelado como o primeiro a ser reconhecido pelo Ministério da Educação.
Samba como Patrimônio Cultural Imaterial
O samba é também o reconhecimento da identidade de um povo. Seu apelo democrático e popular alcança todas as camadas da sociedade. O Carnaval, sobretudo, por meio das escolas de samba, também cumpre o papel de reverenciar a nossa história e personagens que seguem inspirando o presente para produzirmos um futuro melhor.
A potência do samba está prestes a se tornar Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais. O Governo do Estado deu início às ações para esse reconhecimento. No último dia 02/02, foi assinado o termo de abertura do processo de registro no Palácio da Liberdade.
João Benício, um dos diretores da Escola de Samba do Santa Cruz, diz que isso está em sintonia com a escolha do homenageado pela escola. Jair Inácio foi um ativo defensor dos patrimônios culturais de Minas Gerais. “Esse reconhecimento também irá valorizar o carnaval mineiro e as suas escolas de samba”, diz.
Fonte : FAOP