Fé e Tradição: Procissão das Almas encanta em Mariana


    Ao som da marcha fúnebre, procissão de almas penadas percorrem Centro Histórico

    Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani

    Ao som de uma marcha fúnebre, matraca e correntes, quase uma centena de fieis e curiosos saíram pelas ruas do Centro Histórico de Mariana para acompanhar a tradicional Procissão das Almas, realizada todos os anos na noite da Sexta-Feira Santa e na madrugada do Sábado de Aleluia.

    O evento, preservado pela população há 30 anos, é organizado pelo Movimento Renovador de Mariana e pela Casa de Cultura Academia Marianense de Letras e segue atraindo novos participantes.

    Organizadora da Procissão das Almas, a Sra. Hebe Rôla conta que a tradição surgiu a partir de duas lendas locais. A primeira lenda é de uma senhora chamada Maricota que passava seus dias na janela, fiscalizando a vida alheia. Como já estava com má fama devido ao seu comportamento, decidiu mudar de bairro e também alterou seus hábitos. Ao invés de ficar na janela durante o dia, Maricota passou a ser vigilante noturna.

    Numa noite de Sexta-Feira da Paixão, uma procissão se arrastava pelas ruas, mas as pessoas usavam capuz. Ouvia-se lamúrias, gemidos, som de tambores, correntes arrastando e uma canção:
    “Reza mais, reza mais, reza mais uma oração; reza mais, reza mais, pra alma que morreu sem confissão”.
    A tal Maricota seguia com seu olhar a procissão, e como ela não conseguia identificar quem estava ali, ficou intrigada sobre o cortejo que até então desconhecia.

    De repente, um dos integrantes veio em sua direção e a entregou uma vela, sem dizer nada. A vela foi guardada e no outro dia tinha virado em um osso de canela de defunto para o susto de Maricota que passou a ser tida como doida pois saiu contando essa história e ninguém acreditava ! Muitos membros da procissão das almas carregam uma canela de defunto em suas mãos !

    Outra lenda que figura na Procissão das Almas com balaio de penas :
    A segunda lenda se remete a uma senhora classificada como “beata de igreja” que é, na linguagem local, a mulher que está sempre bajulando o padre. Com a contratação de uma jovem moça para ajudar nas escrituras da paróquia de Sumidouro, essa senhora ficou muito enciumada. Ela, então, começou a espalhar o boato de que a nova funcionária era namorada do padre. Com o escândalo, a jovem perdeu o noivo, e morreu de desgosto com as falsas acusações.

    Arrependida, a mulher saiu correndo e decidiu que era hora de confessar seus pecados e pedir perdão ao padre. Como penitência, ficou incumbida de juntar um balaio cheio de penas e depois deveria espalhar as penas pelas ruas e voltar a procurar o padre. A fofoqueira fez isso e voltou a procurar o padre que disse a ela que agora era para ela recolher as penas de volta ao balaio ! A fofoqueira disse que isso era impossível pois o vento pode ter levado as penas para todos lados ! O padre respondeu que as penas são como as palavras, se espalham. A mulher seguiu tentado catas as penas, dia e noite, e mesmo depois de sua morte é vista uma figura alta com túnica branca procurando algo pelas ruas segurando um balaio: é a alma penada !
    Conta a lenda que ela continua procurando as penas até hoje em vários distritos de Mariana e sai na procissão das almas jogando penas !

    A Procissão das Almas continua a ser um momento de conexão com a história e a cultura de Mariana, mantendo viva a tradição e o legado dos antepassados. Elisabete da Silva, de 52 anos, participante da Procissão das Almas há três anos, revela que acompanhou o evento por cerca de cinco anos antes de decidir participar ativamente.

    Ela compartilha que começou a participar da tradição por influência de sua filha que já participava, mas ela mesma nunca havia se vestido para sair. Elisabete destaca que participar da Procissão das Almas, é uma mistura de sensações, descrevendo a tradição como divertida, porém, com uma ponta de medo. Segundo ela, há uma crença local de que é necessário sair durante sete anos consecutivos, senão, traria azar. Apesar disso, ela afirma estar firme em seu terceiro ano e pretende continuar participando.

    Gustavo Gabriel Caldeira, 23 anos, relata que este é seu segundo ano como parte da Procissão das Almas. Ele expressa seu fascínio pela tradição folclórica envolvida e que, para ele, é algo único de Mariana. Como alguém que se interessa pelo patrimônio cultural do município, Gustavo diz que fazer parte dessa tradição é uma maneira de contribuir para a preservação da cultura e história local, proporcionando-lhe uma sensação de pertencimento e continuidade ao longo do tempo.

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    Veja abaixo video reportagem do jornal O Espeto sobre a procissão das almas ( 2023)