Evento contou com participação de profissionais da educação, da saúde e usuários do Caps
Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Na manhã da última quinta-feira, 16 de maio de 2024, aconteceu no Cine Teatro Municipal o debate “Sofrimento Psicossocial na Infância e Adolescência”. O evento, que faz parte do VII Seminário de Saúde Mental de Mariana, acontece em favor do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, no dia 18.
A mesa do encontro foi formada pela psicanalista Dr.ᵃ Paula Felix, pela especialista em saúde mental Dr.ᵃ Nádia Laguardia, pela enfermeira Dra. Belisa Vieira e pela usuária do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Dra. Maria Vitória. O debate envolveu temas como bullying, impacto das telas (celulares, computadores, tablets, etc.), conflito geracional e desafios da infância e adolescência.
Coordenadora do Caps Infanto Juvenil, a Dr.ᵃ Carla Santiago ressalta a oportunidade trazida pelo seminário: “É uma oportunidade para debatermos e ouvirmos sobre temas interessantes para nós. Discutir a articulação da rede e a importância do trabalho em saúde mental e a partir da escuta identificamos a trajetória de vida e todo o impacto que está por trás dela”.
Falando sobre o bullying, a psicanalista Dra. Paula Felix o destaca como um fenômeno social, que compreende atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação evidente. Ela define o bullying como uma intimidação sistemática com violência física e psicológica que ocorre entre pares semelhantes, por exemplo, entre alunos no ambiente escolar.
A Dr.ª Paula Felix identifica possíveis causas para o bullying, apontando a relação com a imagem e os objetos tecnológicos oferecidos pelo mercado como geradora de violência, especialmente em relação à manifestação da sexualidade e às diferenças na forma de se vestir e se relacionar com o corpo.
Ela explica que o comportamento violento é direcionado especialmente aos que são considerados “diferentes”, gerando ódio e zombaria. A falta de diálogo em casa e a abordagem punitiva nas escolas contribuem para a falta de oportunidade de expressar mal-estar e dor verbalmente, levando muitas vezes à manifestação desses sentimentos por meio de condutas agressivas.
Dra. Belisa Vieira disserta sobre conflitos intergeracionais, que não são exclusivos da adolescência, apesar de eclodirem nesse período, e que já existem há décadas. “O conflito não pode ser visto e interpretado como um problema, é a partir dele que podemos ter discussões, conversar sobre fenômenos. Ele tem um caráter praticamente pedagógico”, diz.
Para a Dr.ª Nádia, o confinamento que acompanhou a pandemia da COVID-19 foi marcado por um aumento do uso de celulares, causando insegurança e angústia. “Isso aconteceu principalmente através do uso extensivo das redes sociais. As pessoas ficavam sabendo de tratamentos sem eficácia e desinformação em geral”, conta, ressaltando a facilidade de disseminação dessas informações.
O grupo de pesquisa coordenado pela doutora, intitulado “Além da Tela – Psicanálise e Cultura Digital”, tem investigado as relações dos sujeitos com os dispositivos tecnológicos atuais. “Recebemos propostas de intervenções para adolescentes em sofrimento psíquico relacionado a esse uso. Depois da pandemia, professores relataram um aumento da dificuldade de socialização e do desinteresse pela aprendizagem”, relembra.
Usuária do Caps, a jovem Maria Vitória relata as vivências e os desafios enfrentados durante a adolescência. “Ser adolescente não é nada fácil. A transição de criança para adolescente é muito complexa, essa fase é muito difícil. Você está saindo de uma fase em que tudo parece ser mais fácil, para uma em que tudo passa a ser mais difícil. Os acontecimentos da adolescência, como a primeira menstruação, para as mulheres, são muito difíceis. Tem também a adaptação ao corpo, o primeiro namorado, entre outras coisas”.
Ela encerra com um pedido para o fortalecimento dos serviços do Caps e o aumento do número de profissionais, para poderem alcançar mais pessoas e auxiliar quem está na fila de espera: “Peçam para a prefeitura (por mais profissionais), para salvar mais vidas e ajudar a todos que estão sofrendo emocionalmente. São muitas demandas, muita gente na fila de espera. Então, eu peço em nome de todos os usuários do Caps, que mandem mais profissionais”.
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