A Festa durou três dias, com teatro construído para ocasião onde foram apresentadas várias peças teatrais e musicais, além corridas de touro, banquetes e queima de fogos de artifícios, o que era um luxo para época. Isso é era só a amostra da ostentação e desperdício ao longo do seu reinado. E para homenagear sua rainha, nada melhor que mudar o nome da cidade onde vinha grande parte do ouro : Vila do Carmo passaria a se chamar Mariana. Leia o texto do prof. Iran F. Machado e conheça como um rei de Portugal gastou o ouro de Minas de forma maluca, sem pensar duas vezes em fazer projetos megalomaníacos, como a capela mais cara do mundo !
Por Prof. Iran F. Machado
Durante os 322 anos do Brasil Colonial, D. João V (1706-1750) foi o rei que mais se beneficiou das riquezas da sua colônia das Américas, em contraste com as colônias do Oriente, cujo comércio tinha sido iniciado em 1498, com a chegada de Vasco da Gama às Índias.
As especiarias mais valorizadas eram a pimenta e o cravo, secundariamente a canela, gengibre e noz moscada. Consta que, no auge, os portugueses chegaram a trazer dois milhões de toneladas de pimenta por ano para Lisboa. Porém, nada disso se compara com a euforia da Corte resultante da descoberta de ouro no Brasil, em fins do século 17.
D. João V passaria à História como o Magnânimo, título que ostentava fundamentado na riqueza que lhe proporcionou o ouro e os diamantes procedentes do Brasil, especialmente de Minas Gerais.
Seguem vários exemplos de sua ostentação e desperdício ao longo do seu reinado.
O casamento do rei D. João V com a arquiduquesa D. Maria Ana de Áustria, filha do imperador Leopoldo, revestiu-se de grande pompa. Foram várias as solenidades que se realizaram em Viena e depois em Lisboa, com a chegada da rainha. O conde de Vilar Maior, Fernando Teles da Silva, foi encarregado, como embaixador extraordinário, de ir pedir em casamento a arquiduquesa em Viena.
No dia 7 de junho de 1708 se realizou a imponente cerimônia da apresentação da futura rainha ao embaixador. O conde de Vilar Maior chegou a Viena com todo o aparato imaginável, em dois coches; ali o esperava o conde Waldstein, marechal da corte, o qual o conduziu com dois coches do imperador, e mais quarenta e dois, puxados a seis cavalos, mandados pelos cavalheiros principais da corte com os seus gentis-homens. Em 9 de julho efetuou-se a cerimônia nupcial, na qual foi celebrante o cardeal de Saxônia Zeits, a quem o conde presenteou com um dos seus coches, além de diversas dádivas a todos os demais capelães que assistiram à solenidade.
Na viagem para Portugal passaram em diversos portos, realizando-se sempre pomposas festas, até que em 26 de outubro chegaram a Lisboa, onde houve uma imponentíssima recepção. No paço da Ribeira houve serenatas e músicas. No Terreiro do Paço queimaram-se fogos de artifício, e armou-se um anfiteatro, onde em três tardes sucessivas se realizaram corridas de touros.
Durante o reinado de D. João V, entraram em Portugal incalculáveis riquezas, sob a forma de ouro e diamantes. Todavia, ao invés de empregar tais riquezas no desenvolvimento da indústria e da agricultura, foram elas esbanjadas em doações a igrejas e mosteiros, ou em prodigalidades insensatas.
A edificação do Palácio de Mafra (originalmente um convento), teve um custo de 120 milhões de cruzados; suas torres têm 114 sinos e, na sua construção, trabalharam 50 mil operários.
Quantias enviadas para Roma (Vaticano), em pagamento de indulgências, canonizações e outros, como embaixadas, passaram dos 200 milhões de cruzados.
O luxo da sua Corte era comparado na Europa à Corte francesa do Rei Sol, quando todos tinham conhecimento de que Portugal era mais pobre que a Espanha, França e Inglaterra.
Quando foi construída uma obra de utilidade pública, como o Aqueduto das Águas Livres (Lisboa), o povo teve de contribuir com um novo e pesado imposto.
A fundação da Academia Real de História, do Arsenal da Marinha, da Casa da Moeda e de umas poucas fábricas não bastaram para reabilitar este grande perdulário.
O aqueduto das Águas Livres tem 18.065 metros de comprimento, 127 arcos de cantaria, tendo sua construção durado 66 anos. Destinava-se a conduzir as águas para o abastecimento de Lisboa.
Por uma capela (S. João Baptista, na igreja de S. Roque), obra riquíssima que foi construída em Lisboa com o projeto de um arquiteto famoso (Luigi Vanvitelli), D. João mandava repetidas vezes elevadas quantias exigidas pelo papa Bento XIV. Em 1744, ficou pronta a capela, depois de sagrada em 15 de dezembro do referido ano, o papa a designou de pontifical. O rei, por esta distinção feita à sua devota capela, presenteou o pontífice com 100.000 cruzados.
As prodigalidades deste monarca eram extraordinárias; enriqueceu os conventos, ofereceu dinheiro ilimitado aos fidalgos; nos últimos anos da sua vida mandou rezar mais de 700 missas; por uma imagem de prata dourada que o papa benzeu, doou 120.000 cruzados; para Jerusalém mandou 1.377 cruzados; fundou o convento do Louriçal, dotando-o com 6.000 cruzados, além de muitas alfaias e pratas; criou dois bispados no Brasil; mandou para diferentes igrejas do estrangeiro adornos de incalculável valor; em indulgências e canonizações enviou para Roma perto de 1,38 milhão de cruzados; na missão que foi a Roma assistir a um conclave gastou-se para cima de dois milhões de cruzados; ao núncio Bichi, quando se retirou de Lisboa, mandou dar-lhe 1.000 moedas para ajuda da viagem.
Ao cardeal Oddi deu-lhe uma caixa de brilhantes no valor de 20.000 cruzados, etc. etc. É no Museu do Tesouro Real, inaugurado em 2023 no Palácio da Ajuda, que se guardam cerca de 900 joias da Coroa que ajudam a contar a história para onde foi parar a riqueza extraída de Minas. Protegida por uma das maiores caixas-fortes do mundo – tem 40 metros de comprimento, duas portas blindadas de 5 toneladas cada e vidros à prova de bala – a coleção conta com milhares de pedras preciosas e diamantes.
Em síntese, os recursos do quinto cobrado do ouro no Brasil foram predominantemente aplicados por D. João V em prodigalidades sem utilidade para os cidadãos portugueses. Seu comportamento, nos dias atuais, seria considerado típico de “nouveau riche”, alguém deslumbrado com uma riqueza imprevista procedente da melhor colônia do reino.
Sugestão do autor aos vereadores de Mariana : Seria recomendável que a cidade de Mariana tivesse uma praça com os bustos do rei Dom João e da rainha Maria Ana, pois foram eles que deram nome a cidade.
Fontes: História de Portugal (2013), Mullin (1992), Murteira (2004) e Maxwell (2003).
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