Depoimento do Caramelo Pipoca no Corpus Christi

    Por: William Santos

    Era uma noite e várias pessoas estavam na minha rua, invadindo os lugares que eu havia marcado. Havia muita movimentação e comunicação entre elas. Um estranho carregava algo chamado serragem seca e colorida. Sempre vejo alguns humanos supostamente enfeitando a rua para depois passarem por cima.

    Engraçado como a noite parecia uma festa para aqueles humanos. Eles estavam falando e cantando músicas. Eles até passavam a mão na minha cabeça, mas quando chegavam perto do suposto tapete, ficavam desesperados. Eu optava por deixar a barriga para cima, e eles achavam fofo e cuidavam de mim. Ser cachorro às vezes é muito bom, por exemplo, alguns me davam carne, que estava gostosa.

    Naquela noite, foi muito bom para mim. Latia para uns motoqueiros que passavam ali perto, claro que não queria que eles atrapalhassem a preparação para uma tal de procissão! Estranhei, pois os humanos ficaram a noite toda fazendo isso. Claro que quando os humanos foram embora, deitei em um desses tapetes que deixou um pouco quente, mas fiquei sujo! Então, optei por proteger e não deixar os pássaros estragarem e nem outros cachorros. Virei um guarda-costas.

    Era de manhã cedo e muitos humanos andavam pelas ruas de Ouro Preto. Ouvi muitos humanos falarem “Ave Maria Cheia de Graça”, “viva Jesus” e o padre levantar a Eucaristia para dar uma bênção. Eu não entendia nada, mas os humanos estavam completamente entendendo as coisas que falavam. Tinha umas pessoas que choravam e outras ficavam muito felizes. Também tinha uns dispersos, pois paravam para me dar atenção e conversavam comigo. Claro que eu não entendia nada. Então, optava por mostrar minha felicidade balançando o rabinho. A festa estava muito linda e nem tinha aqueles foguetes, graças a Deus, pois isso interfere muito na minha coordenação canina.

    Gostaria de mostrar que viver um “Corpus Christi” é muito importante para esses seres humanos queridos, pois, segundo eles, “Corpo de Cristo” refere-se à celebração da presença real de Jesus na Eucaristia. Alguns falaram que isso é uma tradição que passa de geração a geração. Acompanhei até o final da procissão e lá encontrei outros humanos e outros cachorros, alguns charmosos. O importante é que via que os humanos estavam fervorosamente entregando sua vida em oração. Queria entender mais sobre isso, mas optei por ir embora e deitar no meu território. Lógico que não consegui dormir, pois nunca vi uma cidade tão cheia.

    William Santos

    Texto e fotografia por William Santos, jornalista e assessor de imprensa. Entre em contato para trabalhos jornalísticos, edição, captura de vídeo e fotografia através do e-mail: jornalistawilliamsantos@gmail.com. Para WhatsApp, utilize o número: (31) 98313‑0962. Aproveite para conhecer meu Instagram: @wswillsantos