Pedidos de vista atrasam aprovação do “Projeto Longo Prazo” da Samarco

    Proposta seria votada em reunião do Compat que foi tumultuada por atingidos

    Por: João B. N. Gonçalves

                Na última terça-feira, 3 de setembro de 2024, durante reunião ordinária do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Mariana (Compat), seria votado o licenciamento do “Projeto Longo Prazo” da Samarco. Além dos conselheiros da instituição, moradores das comunidades de Camargos e atingidos de Bento Rodrigues, que podem ser impactadas pela ampliação das atividades, estiveram presentes.

                A aprovação do projeto foi adiada após cinco pedidos de vista de representantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Mariana (Aciam), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além do Movimento Renovador e Casa de Cultura.

    O encontro foi marcado por tumulto, gritos e interrupções por parte dos representantes das comunidades, que protestaram contra a aprovação do “Projeto Longo Prazo”. A justificativa desses representantes é que os moradores e os atingidos não teriam sido devidamente ouvidos durante o processo de licenciamento.

    O Secretário de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico de Mariana, Gustavo Leite, afirmou que ao longo de um ano e meio foram realizadas reuniões abordando o tema, nas quais ocorreu a escuta das comunidades atingidas. Em parecer, a secretaria justificou que o voto pela aprovação foi embasado em conclusões em consultorias técnicas que prestam serviço para o município.

    O parecer também orienta as empresas em relação às adequações necessárias ao projeto e às ações de mitigação e correção para impactos no patrimônio material e imaterial, sendo destinados R$ 10 milhões para execução dessas medidas. Veja as ações compensatórias exigidas pelo Secretário de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico junto à Samarco:

    1. Manutenção, fomento e financiamento das festividades e manifestações culturais das localidades diretamente afetadas durante o período de vigência da licença de operação.
    2. Capacitação e contratação de mão de obra exclusiva das comunidades atingidas direta e indiretamente, com o intuito de manter preservados os traços culturais locais.
    3. Limpeza e manutenção (incluído pintura e conservação) das fachadas dos imóveis, vias e demais patrimônios acautelados, durante o período da licença de operação.
    4. Apresentação pela Samarco de formas de atenuação de sons e ruídos, mesmo que não ultrapassem os limites permitidos em lei, de modo que se tornem imperceptíveis às comunidades.
    5. Criação de programa de conservação das construções nas comunidades afetadas, uma vez que os imóveis tombados e históricos, incluindo aqueles construídos com técnicas de alvenarias pouco convencionais para os dias atuais podem sofrer recalques, abatimentos e trincas.
    6. Pode ocorrer aumento do número de pessoas em circulação nas comunidades afetadas para consumo em comércios, trânsito de deslocamento, prestadores de serviços, atividades de monitoramentos e afins, devendo ser realizadas medidas pela Samarco para corrigir eventuais impactos ao meio cultural.

    Os pedidos de vista

                Num geral, os conselheiros do Compat que pediram vista ao projeto alegaram a necessidade de mais tempo para o estudo do “Projeto Longo Prazo” da Samarco. A representante da Ufop, arquiteta e urbanista Flora d’El Rei justificou o pedido de vista, afirmando que não houve tempo hábil para estudar as mais de sete mil páginas do projeto, e que é necessário um novo parecer técnico para garantir a preservação do patrimônio de Bento Rodrigues e Camargos.

                A arquiteta também destacou que foi pedido pelos moradores que a Samarco apresentasse um local alternativo para a disposição das pilhas de rejeito, pois no projeto seria colocada próxima a Bento Rodrigues. “Um atingido de Bento solicitou apoio da Ufop para uma alternativa ao empilhamento. Precisamos garantir que não haja impacto no patrimônio cultural”, disse Flora d’El Rei.

                O chefe de escritório do Iphan de Mariana, Leandro Batista, também pediu vista ao projeto, alegando que, apesar da documentação disponibilizada pela empresa detalhar os impactos ambientais e patrimoniais, ela não deixa evidente quais seriam as medidas compensatórias.

                Os conselheiros que pediram vista ao projeto têm 72h para apresentar as justificativas por escrito. O Projeto Longo Prazo será aprovado caso tenha 50% ou mais dos votos. No total, foram cinco vistas, duas abstenções e nove votos favoráveis. Ao final do encontro, os conselheiros criticaram a postura dos atingidos, afirmando que eles não respeitam opiniões divergentes e que parecem não “quererem justiça, mas vingança”.

    O Projeto Longo Prazo

                O projeto Longo Prazo contempla a ampliação das atividades da Samarco no Complexo de Germano. A empresa planeja a continuidade de lavra nas minas já existentes, a disposição de estéril e rejeito arenoso em duas novas pilhas drenadas, a ampliação da pilha existente, a disposição de rejeito em cava confinada, além da execução de estruturas auxiliares como correias transportadoras e dutos de rejeito.

              Atualmente, a mineradora opera com apenas 26% da capacidade produtiva, estando em meio a um processo de reativação do Concentrador 2 (estrutura de beneficiamento do minério) e a instalação de uma nova planta de filtragem, que permitirá à mineradora alcançar 60% da capacidade produtiva até dezembro. A medida já gerou mais de dois mil postos de trabalho em Mariana e Ouro Preto. O objetivo da Samarco é alcançar os 100% até 2028.

    Em resposta ao jornal O Esperto, a Samarco explicou que a aprovação do licenciamento é fundamental para a continuidade das operações da empresa em Mariana. Apesar de permitir o aumento da capacidade, o Projeto Longo Prazo não prevê novas estruturas de mineração, a empresa utilizaria as minas e os ativos industriais já existentes.

    Em relação às reclamações de falta de escuta dos atingidos, a Samarco afirmou, em nota: “Além das audiências públicas realizadas em março de 2023, a empresa promoveu escuta e divulgação do projeto, discutindo seus impactos positivos e negativos durante todos estes anos, tanto em Mariana quanto em Ouro Preto. Todas as interferências foram mapeadas, cuidadosamente analisadas e apresentadas”.

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