Com amor, dedicação e gratidão, família retribui à segunda mãe os anos de carinho e cuidado
Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani
Dona Geralda do Nascimento, aos 105 anos, vive cercada de amor e atenção na casa de Ana Penha Félix, de 54 anos, uma das seis crianças que ela ajudou a criar como se fossem seus próprios filhos. A história de cuidado mútuo, construída ao longo de quase meio século, mostra como os laços de afeto podem transcender o sangue e atravessar gerações.
“Geralda apareceu na casa da minha mãe há 47 anos e disse: ‘Vou morar com vocês’. E ficou!”, relembra Ana Penha, hoje professora aposentada. Desde então, Dona Geralda tornou-se uma presença indispensável na vida da família. “Ela cuidava de nós como filhos, lavava nossas roupas, dobrava e deixava arrumado com muito carinho. Foi uma segunda mãe.”
Agora, os papéis se inverteram, e Ana Penha, junto com suas irmãs, retribui o cuidado à idosa com o mesmo amor. “Cuidar dela é uma forma de agradecimento. Ela plantou muito amor e agora colhe isso. Sempre digo: quem planta o bem, colhe o bem”, reflete.
Dona Geralda, de fala pausada e sorriso tímido, resume a troca com simplicidade. “Acho bom. É muito bom.” Embora as palavras sejam poucas, os olhos dela revelam a satisfação de ser cuidada por quem, um dia, precisou de seus cuidados.
A rotina é planejada com dedicação. Durante a semana, uma ajudadora auxilia nos banhos, enquanto Ana Penha e as irmãs se revezam para garantir que cada detalhe seja acompanhado com carinho. “Temos até uma escala colorida que chamamos de ‘abelinha’ para organizar os horários. Além disso, criamos um grupo chamado Quem Ama Cuida para anotar tudo sobre a saúde dela e compartilhar informações entre nós”, explica Penha.
Apesar de não ter laços de sangue com a família, Dona Geralda é considerada uma matriarca. “Ela sempre foi muito mais do que uma funcionária. Era nossa mãe quando a nossa não podia estar. O mínimo que podemos fazer é devolver a ela esse cuidado e amor”, destaca Ana Penha.
No fim do dia, há sempre um momento especial. “Antes de dormir, digo: ‘Geralda, fica com Deus’. E ela responde: ‘Com Deus também’”, conta Ana, emocionada. São esses pequenos gestos que mostram como o cuidado vai além das ações práticas e envolve a alma.
Para Ana Penha, o aprendizado é claro. “Cuidar de alguém requer dedicação, mas é muito gratificante. Quero deixar uma mensagem: cuidem bem dos seus pais e dos idosos que cruzarem seu caminho. Eles carregam sabedoria e merecem amor. Retribuir é mais do que um dever, é um privilégio.”
Dona Geralda, por sua vez, resume o que sente sobre essa troca em uma frase que carrega toda a simplicidade e profundidade de sua história: “Gosto muito”.
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