(Dr. Aquiles Gontijo, oftalmologista do Instituto de Olhos Minas Gerais e da Santa Casa BH, especialista em retina cirúrgica, catarata e uveíte)
As intensas flutuações hormonais na adolescência provocam diversas alterações físicas, cognitivas e emocionais. Nesse período, mudanças na estrutura, função e fisiologia dos olhos, como o crescimento do globo ocular, podem impactar a percepção e o desempenho visual.
Um dos problemas mais comuns que surgem na puberdade é a miopia, que se caracteriza por um globo ocular mais alongado, de modo que a imagem se forma antes que a luz chegue à retina, o que prejudica a capacidade de enxergar objetos distantes com clareza. As soluções mais indicadas para os adolescentes são os óculos e as lentes corretivas, mas existe a possibilidade do uso tópico do medicamento atropina, em uma concentração específica, para tentar conter a progressão da miopia.
Embora a miopia tenha como principal causa a genética, nos últimos anos sua prevalência tem aumentado entre crianças e adolescentes, especialmente devido ao uso excessivo de telas: estudos sugerem que em 2050 metade da população mundial terá miopia devido ao estilo de vida de crianças e adolescentes. Por isso, é fundamental evitar longos períodos na frente de smartphones e tablets, fazer pausas por alguns minutos a cada meia hora e, durante o uso, manter uma distância de pelos 30 cm do dispositivo.
A exposição intensa às telas pode influenciar o sistema visual de outra maneira, levando à síndrome do olho seco. Uma pessoa pisca em média 20 vezes por minuto, mas ao utilizar os aparelhos eletrônicos essa média cai para seis vezes por minuto. Os principais sintomas são sensação de fadiga, olhos irritados e vermelhos, coceira, sensibilidade à luz e visão embaçada. Além das recomendações mencionadas, o oftalmologista pode prescrever lágrimas artificiais sob a forma de colírio ou pomada para o manejo do desconforto.
Outra condição é o astigmatismo, que consiste na curvatura assimétrica da córnea. Isso faz com que a luz sofra desvios em pontos diferentes e forme a imagem em múltiplas regiões, resultando na visão distorcida ou borrada. A correção é feita por meio do uso de óculos ou lentes de contato.
A puberdade também é uma fase de risco para o ceratocone, uma doença progressiva da córnea que se afina e apresenta um formato prolado e tem causa multifatorial. As manifestações mais frequentes são coceira ocular, visão distorcida ou embaçada, grau de astigmatismo elevados e baixa acuidade visual e, em alguns casos, sensibilidade à luz. O correto diagnóstico é determinante para frear sua progressão.Dependendo do grau do ceratocone, pode ser indicado o crosslinking, uma cirurgia minimamente invasiva que visa estabilizar a condição. Para estágios leves e moderados, existem lentes de contato especiais, que se apoiam na esclera ou na córnea, ou o implante de anel intracorneano. Em situações mais graves, ou quando outras abordagens não se mostraram eficazes, o transplante de córnea pode ser considerado na fase adulta, mas ele tem sido empregado cada vez menos e como última alternativa
SAL : Serviço de atendimento ao leitor – para enviar mensagem, informar erro, elogiar, solicitar cobertura jornalística ou indicar pauta, entre em contato com o Serviço de atendimento ao leitor, via whatsapp, clique aqui