Jarbas da Silva Motta Junior*
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A vacinação da Covid-19 avança no mundo, a morte de idosos diminui e aumenta a sensação de que o pior da pandemia já passou. Seja pela exaustão da população que se manteve até agora isolada, pela necessidade de sair para trabalhar ou por acreditar que nas pessoas mais jovens o vírus é menos agressivo. O fato é que os cuidados e, principalmente, o isolamento diminuíram. Mas, por mais desanimador que seja, ainda temos algum tempo até podermos afrouxar de vez o distanciamento, o uso de máscaras e de álcool em gel.
Muitos pensam que, pelos avós ou pais já estarem imunizados com as duas doses da vacinas, não tem problema o almoço de domingo com a família toda reunida, o filho adolescente ir na festinha do amigo e até mesmo tomar uma cervejinha enquanto curte o jogo do time do coração com a turma. Mas, infelizmente, não é isso que observamos nos hospitais. Os leitos das UTIs continuam lotados. O que mudou foi o perfil dos pacientes, mas a expressão de pavor diante do agravamento da doença e do medo de morrer é a mesma.
Agora os pacientes são mais jovens. Nós nos enxergamos cada vez mais neles, que estão com os filhos pequenos em casa e a família em prantos. O corpo mais sadio, muitas vezes sem nenhuma comorbidade, luta com um vírus cada vez mais agressivo, que algumas vezes deixa cada um de nós, os profissionais da saúde, com a impressão que ainda não aprendemos a lidar com as facetas do coronavírus no organismo e suas complicações. Mesmo que nós tenhamos aprendido e lutado muito, o comportamento sem responsabilidade de alguns faz com que o vírus seja mais rápido e nos surpreenda sempre. E o tempo de internação acaba sendo ainda maior. Vemos pacientes que ficam semanas e mais semanas em um leito de hospital.
Nesses 15 meses de pandemia, é difícil o profissional de saúde que ainda não tenha escutado a súplica pela promessa de melhora, da possibilidade de passar o próximo dia dos pais junto do seu filho, Natal com a família ou simplesmente para sair da intubação com vida. Nunca foi tão desafiador e exaustivo trabalhar em uma unidade de terapia intensiva.
Os casos são cada vez mais graves e complexos. Muitas vezes os pulmões parecem pedras, devido à rigidez causada pela quantidade de fibroses. O momento certo para a extubação é uma incógnita. Cada vez mais recorremos a tratamentos extremos, que consideramos a última chance de respiro de um paciente, quando nos deparamos com o triste “é tudo ou nada”.
E tudo na Covid-19 é muito difícil. Não ter a liberdade de ir e vir para cumprir a rotina diária é desgastante. Não poder encontrar os amigos é complicado. Trabalhar na saúde está pesado. Lembre-se disso, mesmo no momento de tomar um café com o colega que está de máscara diariamente trabalhando com você. Muitas vezes é nesses minutos que acontece o contágio.
É desafiador, mas precisamos ter um pouco mais de paciência. Porque, se por um lado, o número de atestados de óbitos que assinamos nos hospitais aumentou, por outro, continuamos presenciando os casos de superação da doença, de milagres que assistimos todos os dias. Essa pandemia vai acabar, mas, para isso, cada um precisa assumir a sua responsabilidade e fazer a sua parte.
*Jarbas da Silva Motta Junior é médico intensivista e coordenador da UTI Covid do Hospital Marcelino Champagnat