Integração de disciplinas é o principal desafio dos professores com o novo Ensino Médio
    O novo Ensino Médio tem previsão de ser implementado na íntegra até 2024.
    Pixapopz/Pixabay

    Mesmo que a adaptação do currículo seja considerada essencial na formação acadêmica e na escolha de carreira dos estudantes, integração de disciplinas ainda é obstáculo para professores e alunos

    Para receber notícias no seu WhatsApp clique aqui

    E para receber notícias da nossa página no Facebook

    O novo Ensino Médio estabelece uma reforma na matriz curricular dos alunos nos três anos desta etapa escolar. A lei nº 13.415/2017, que institui as alterações, estabelece maior integração entre disciplinas e a oferta de itinerários formativos.

    De acordo com o levantamento realizado pelo portal Observatório, que monitora dados sobre a implementação do novo Ensino Médio em cada estado do país, 21 das 27 Unidades Federativas já enviaram seus currículos de referência ao CEE (Conselho Estadual e Distrital de Educação). Destes, 11 estados já tiveram seus currículos homologados pelos conselhos.

    A integração curricular será dividida em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. 

    Muitos professores ainda têm dificuldades com relação a maneira de como fazer a integração dos componentes curriculares. Além disso, consideram um desafio trabalhar em conjunto com outros profissionais que ministram aulas de disciplinas que compõem a mesma área que a sua matéria.

    Entretanto, há caminhos que podem ser percorridos e tornar esse processo mais fácil. O primeiro passo é entender como as áreas são separadas e qual é a principal função deste agrupamento de disciplinas.

    Áreas de conhecimento

    Na área de linguagens, por exemplo, os alunos aprenderão de forma integrada, conhecimentos ligados à língua portuguesa, língua inglesa, educação artística e educação física. Esta junção das quatro disciplinas tratando de um mesmo assunto com diferentes pontos de vista é o grande diferencial dessa nova maneira de ensinar e aprender.

    De acordo com a doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC – SP, Maria Tereza Arruda Campos, o conhecimento por áreas é uma forma de ensino mais fácil para o aprendizado dos alunos.  “Abordar assuntos por áreas é uma forma de ensino mais orgânica de construir o conhecimento, pois as disciplinas reúnem componentes que podem se completar sobre um determinado assunto. E no caso de linguagens, incentivar a capacidade de ler e se expressar no mundo.”

    Maria Tereza, com 35 anos de experiência como educadora, explica que o sucesso do aprendizado dos alunos está estreitamente ligado à organização dos professores com relação ao material que será oferecido aos estudantes. 

    “Os professores de cada área devem fazer um planejamento disciplinar abrangente. Desta maneira, os alunos poderão ampliar o repertório e ter contato com diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto, o que pode contribuir com a formação de um sujeito mais apto a ler criticamente a realidade.”

    Os benefícios do trabalho em equipe

    “A divisão das disciplinas por áreas causou um estranhamento inicial em muitos alunos e professores. A preocupação era de que essa organização do currículo tirasse um pouco da autonomia de cada matéria. Mas, ao entender o conhecimento de forma integrada, as novas orientações curriculares podem enriquecer o aprendizado.” É o que diz o mestre em Linguística pela Unicamp e doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Lucas Sanches Oda, que atua há mais de 20 anos como professor de língua portuguesa e autor de livros didáticos.

    “Nós, professores, tínhamos receio dessa mudança do Ensino Médio, pois acreditávamos que os alunos poderiam sair prejudicados. Após alguns estudos e discussões com colegas da classe, percebemos que, desta maneira, o conteúdo fica mais atrativo para os estudantes. Estes poderão aprender assuntos importantes com uma nova forma de ensino.”

    Caminhos mais fáceis

    De acordo com Maria Tereza e Lucas, há algumas sugestões que podem ser seguidas pelos professores para tornar o processo de ensino integrado mais fácil e conseguir atingir o objetivo de aprendizado dos alunos.

    Além de palestras e workshops ministrados por especialistas no assunto, a dica mais importante é o planejamento de ensino. Os professores de cada área têm que se reunir e planejar o que é relevante e como podem desenvolver assuntos que sejam de interesse dos alunos, utilizando todas as disciplinas que fazem parte de determinada área. 

    Outro ponto importante, segundo os especialistas, é que a implementação desta metodologia deve ser gradativa. Os professores precisam considerar o cenário em que a escola está inserida para não prejudicar o aprendizado dos discentes. 

    Maria Tereza e Lucas apontam também que, além das sugestões já mencionadas, pode ser proveitoso os docentes consultarem os estudantes para descobrir que interesses eles têm. Desta forma, conseguem alcançar o objetivo final de ensino e aprendizagem, reduzindo não apenas a evasão escolar como também contribuindo para a formação de bons cidadãos.  

    Sobre Maria Tereza Arruda Campos: 

    Formada em Letras – Português pela Universidade de São Paulo (USP), possui Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com estágio na Sorbonne Université – Paris VIII. Atua como professora, curadora e consultora em Educação.

    Sobre Lucas Kiyoharu Sanches Oda: 

    Formado em Letras pela Universidade de Campinas (Unicamp), possui Mestrado em Linguística pela Unicamp e Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atua como professor de Língua Portuguesa há mais de 20 anos e é autor de histórias em quadrinhos.

    Fonte: Nobre Press