Educação emocional previne adoecimento mental de crianças
    Um dos pontos discutidos na reunião foi de que a ansiedade também atingiu os profissionais da educação na pandemia – Foto:Guilherme Bergamini

    Psicólogas defenderam, nesta terça (28), política educacional nesse sentido, tendo em vista impactos da pandemia.

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    A educação emocional integrada de crianças e adolescentes é uma ferramenta para se prevenir o adoecimento mental e deve nortear políticas públicas educacionais para esse público. A afirmação é de psicólogas que participaram, nesta terça-feira (28/9/21), de audiência de convidados da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

    A reunião abordou a saúde mental dos estudantes e a política educacional do Estado, principalmente, durante a pandemia de Covid-19 que, conforme relataram as participantes, potencializou os transtornos psíquicos.

    Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostra, por exemplo, que uma em cada quatro crianças apresentou sintomas de ansiedade e de depressão na pandemia dentre 7 mil que fizeram parte do estudo

    Para a psicóloga Fernanda Álvares Leite, fenomenóloga-existencial e psicossomática e integrante do Projeto para Elas do Mestrado da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pandemia trouxe muitos impactos e desafios para o sistema educacional.  Para Fernanda Leite, a pandemia ressaltou desigualdade e trouxe um sentimento descaso para alunos e professores – Foto:Guilherme Bergamini

    Conforme comentou, o contexto escancarou as desigualdades sociais com a inacessibilidade de grande parte da população aos meios remotos de ensino. “Com isso, há um sentimento de descaso e impotência por tamanha segregação que acomete professores, alunos e suas famílias”, disse.

    Além disso, lembrou que quem vive em vulnerabilidade teve ainda o quadro agravado pelo desemprego e pela escassez de recursos para a sobrevivência. 

    Como consequência de tudo isso, Fernanda Leite enfatizou que dados mostram o aumento do adoecimento por ansiedade e depressão, o que ocorre também com o corpo docente que sofre com a jornada exaustiva de trabalho somada à desvalorização profissional, o que leva a um esgotamento completo. 

    Reflexão – Em sua opinião, é preciso repensar o sistema educacional, considerando que a emoção norteia a vida do ser humano e que a qualidade de vida integra os eixos do corpo, da mente e do espírito. “Temos que lembrar a todo o momento que professores, alunos e famílias são pessoas e que precisam ser acolhidas”, afirmou.

    Ela defendeu que a escola seja um veículo da educação emocional integrada e que dinamize políticas de escuta, acolhimento e inclusão de todos os atores que a integram. 

    Prevenção também no campo das emoções

    A psicóloga Raquel Silva Ventura, logoterapeuta do Instituto de Educação Emocional Integrada (IEEI), corroborou as palavras de Fernanda Leite.

    Ela também defendeu a necessidade de se tratar a educação emocional como uma política pública. “Hoje falamos de depressão, fobia, pânico, automutilação. Mas, como prevenir tudo isso? Se fazemos prevenção de sintomas físicos, devemos fazer também uma prevenção psicológica”, argumentou.

    Raquel Ventura acrescentou: “Trabalhamos hoje com um conteúdo racional, com tecnologia avançada e temos uma economia mais disponibilizada. Contudo, não trabalhamos a emoção. Se aprendemos matemática e português, também precisamos aprender sobre o sentir para uma melhor qualidade de vida. A emoção faz toda diferença na vida do ser humano”.

    Deputados manifestam preocupação com falta de preparo para retorno às aulas 

    De acordo com o deputado Professor Cleiton (PSB), que solicitou a reunião, é importante discutir o assunto. “Me frustra saber que esse assunto não está em pauta na Secretaria de Estado de Educação. Em vários lugares do Estado, as aulas estão recomeçando, sem que alunos e professores passem por um preparo emocional diante do que vivemos e dos impactos da pandemia”, afirmou. 

    Em sua opinião, as sociedades sempre lidaram com a problemática da saúde mental, mas a crise da Covid-19 intensificou essa questão com todas as incertezas e o luto pelas mortes em decorrência da doença, o que afeta alunos, professores e toda a comunidade escolar. 

    “Quantos de nossos alunos voltarão para as escolas sob a dor do luto provocado pela Covid? Como a escola vai lidar com isso? A escola vai ter também que replanejar tempos e espaços de convívio”, disse. 

    Outro desafio que ele aponta para as escolas neste momento é guardar o distanciamento físico, em cumprimento aos protocolos sanitários, e, ao mesmo tempo, perceber que não se pode haver mais isolamento afetivo.

    Negação – A deputada Beatriz Cerqueira (PT), que preside a comissão, também manifestou preocupação com a forma como as escolas estão recebendo os alunos diretamente impactados pela pandemia. 

    “Muitas recebem os estudantes com emojis de alegria, mas algumas crianças perderam familiares. Então é uma espécie de negação do que aconteceu”, disse. 

    Ela também abordou o adoecimento dos professores na pandemia, sobretudo, as mulheres. “A sobrecarga de trabalho foi potencializada. As professoras precisaram fazer a tarefa dificílima de gestão da casa que se transformou também no trabalho e no ambiente escolar, sendo que essas casas, na maior parte das vezes, não tinham essa estrutura”, relatou. Fonte: ALMG.