Por: João B. N. Gonçalves
A Casa de Cultura de Mariana recebe a partir desta semana a exposição “Com (ciências) – Mulheres, Saberes e Lugares”, que presta reverência às mulheres negras que fizeram parte da memória afetiva da cidade. As peças que compõem a exposição são imagens produzidas pela artista Anna Stoppani e bordadas pelas integrantes da Academia Marianense de Bordados.
A mostra faz homenagem a 13 mulheres negras que estão guardadas na memória coletiva da região. Dentre as homenageadas estão duas importantes figuras do distrito de Passagem de Mariana, a ex-vereadora Aida Anacleto, presidente do Conselho Municipal de Luta pela Igualdade Racial (Compir) e Maria Francisca, conhecida como “Dona Chiquita”, benzedeira que faleceu em março de 2020.
A ex-vereadora conta que uma exposição como esta tem grande representatividade para o povo negro de Mariana. “Essa exposição é de suma importância, principalmente para nós mulheres negras. É um importante resgate de memórias de mulheres que marcaram o século XX, trazendo à luz a história e a participação dessas mulheres na sociedade marianense”, disse.
Das 13 mulheres homenageadas, apenas duas ainda estão vivas: Aida Anacleto e a presidente da Academia Brasileira de Bordados, Raimunda Maria dos Anjos, mais conhecida como “Dica”. A coordenadora do evento, Daiane Azevedo afirma que há uma curiosidade envolvendo a “Dona Dica”: “Dona Dica não sabia que ela ia ser bordada, ela nem desconfiava. Mas uma professora negra na época dela é uma coisa muito relevante, então, a gente fez escondido. Foi muito legal, muito emocionante”.
O presidente da Academia Marianense de Bordados, José Benedito Donadon, destaca a importância da exposição “Com (ciências) – Mulheres, Saberes e Lugares” para a Casa de Cultura. “Essa exposição é bem atual, porque se trata de mulheres, ainda mais mulheres negras, mulheres que representaram ações fundamentais para a cidade de Mariana, no exercício do magistério, nas atividades culturais, no trabalho. São mulheres que honram Mariana e honram a própria mulher”.
Uma das organizadoras da exposição, Daiane Azevedo explica que as imagens foram criadas a partir de relatos orais e de arquivos de fotografias, quando existentes, pela artista Anna Stoppani. E com o trabalho realizado pelas integrantes da Academia Marianense de Bordados, essas imagens se transformaram em riscos e bordados.
A organizadora explica como foi a seleção das mulheres que fariam parte da mostra: “Desde a concepção da ideia, a gente quis pegar mulheres negras relevantes na cidade de Mariana, e que todo mundo, ao bater o olho, conhece. Então, a gente pegou pessoas de arquétipos que tem em todos os lugares: uma benzedeira, uma parteira, uma professora, etc. São figuras importantes dentro da cidade, que existiram aqui em Mariana”.
A artista Anna Stoppani fez alguns dos desenhos na base do retrato falado, pois muitas das mulheres tratadas não tinham registro fotográfico. “Algumas [homenageadas], a gente conseguiu fotografias e depois ela fez os desenhos preliminares, passou os riscos para o tecido, e cada pessoa que se prontificou da Academia Marianense de Bordados bordou a sua peça.
A exposição “Com (ciências) – Mulheres, Saberes e Lugares” permanecerá na Casa de Cultura até o dia 21 de fevereiro. A exposição é gratuita, mas também há a venda de cartões postais e bolsas com as imagens expostas. São produtos originais da autora dos desenhos, Anna Stoppani, feitos inicialmente à mão e coloridos digitalmente.
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