Estudo da UFV aponta problemas na qualidade da água em Ouro Preto

    Praticamente todos os sistemas de abastecimento da Saneouro não cumprem as exigências mínimas de qualidade da água indica estudo. Porém Saneouro critica estudo científico e levanta suspeita sobre imparcialidade do autor,  Rafael Kopschitz, informando que ele faz parte do Observatório Nacional do Direito à Água e Saneamento (ONDAS), uma ONG que se posiciona contra a iniciativa privada na prestação de serviços públicos.

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    Por João B. N. Gonçalves

    No último mês de janeiro de 2023, o Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa (UFV) divulgou um estudo em que aponta os problemas relacionados à qualidade da água em Ouro Preto, especificamente, nos sistemas de abastecimento sob responsabilidade da Saneouro.

    O estudo foi produzido pelo professor Rafael Kopschitz, com base nos dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) relativos ao ano de 2022.

              A avaliação da água consumida no município de Ouro Preto é feita levando em consideração os parâmetros básicos de qualidade, que exigem que a água destinada ao consumo humano esteja isenta de coliformes (bactérias presentes no solo, na água e no intestino humano e animal) e protozoários. De acordo com o estudo, essas bactérias indicam a eficiência do tratamento realizado — quanto maior a presença, mais falho é o tratamento.

              A publicação aponta que a grande maioria dos sistemas de tratamento de água da Saneouro apresentam problemas relacionados à qualidade da água.

    “Em praticamente todos os sistemas foram encontrados problemas de não cumprimento das exigências mínimas de amostragem/monitoramento e, ou de qualidade da água”, consta o documento.

              Um dos principais problemas apontados são as amostragens disponibilizadas para a avaliação da qualidade da água, que estão muito abaixo da exigência do Ministério da Saúde.

     “Não são poucos os casos em que a amostragem, tanto na saída do tratamento quanto no sistema de distribuição, ficou muito aquém do exigido, ao ponto de ser considerada irrisória”, aponta o estudo. Além disso, o documento destaca que a sub-amostragem consiste num grave problema, pois pode resultar em riscos para os consumidores.

              A Estação de Tratamento (ETA) Itacolomi é o principal centro de abastecimento da cidade, possui capacidade para tratar 50 litros de água por segundo e abastece 13 bairros na cidade de Ouro Preto, e apresenta um dos casos mais preocupantes.

    Segundo a publicação, a ETA Itacolomi apresenta um percentual baixo de cumprimento do plano de amostragem mensal mínimo para verificação da turbidez da água filtrada, girando em torno de apenas 20% do padrão exigido.

              A ETA Itacolomi também apresenta os mesmos problemas em relação à verificação da turbidez, do teor de cloro e da presença de coliformes no sistema de distribuição, além de violações do padrão de potabilidade, turbidez da água filtrada e de coliformes na saída do tratamento.

    Nos gráficos abaixo, são mostrados, em barras azuis, quantas análises foram feitas na água (números à esquerda), em barras laranjas, quantas dessas análises saíram do padrão exigido pelo Ministério da Saúde (números à esquerda), e a porcentagem das análises que desviam do padrão, representada pela linha cinza (valores à direita). Confira:

              Outra estação de tratamento que apresentou problemas foi ETA Amarantina, que capta água do Córrego do Riacho para a distribuição, e registrou um descumprimento de 50% das exigências do plano de amostragem mensal mínimo para monitoramento de turbidez, cor, cloro e coliformes no sistema de distribuição, juntamente ao descumprimento esporádico do padrão de coliformes na saída do tratamento.

    Corroborando os problemas citados no estudo, no último sábado, 04/02/2023, Eduardo Evangelista, engenheiro da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),  denuncia que foram encontrados supostamente animais nas redes de água do local. “É uma questão de saúde pública. Cadê a fiscalização da prefeitura? Péssimos serviços prestados pela Saneouro”, explana, em tom de indignação em suas redes sociais.

    No total, a Saneouro possui 22 estações de tratamento no município, sendo que em 11 ETAs (Bocaina, Chapada, Doutor, Engenheiro Corrêa, Lavras Novas, Mota, Rodrigo Silva, Santo Antônio do Salto, São Bartolomeu, Taboões e, Serra Siqueira) apresentaram amostragens irrisórias para monitoramento de cloro e de cor na saída do tratamento, ou seja, muito abaixo do padrão mínimo exigido. Os dados registrados nestas estações giraram em torno de apenas 2% do padrão.

    Após a publicação do estudo citado nesta reportagem, a Saneouro enviou um informativo à imprensa, no qual afirmou que o estudo é enviesado, pois o autor,  Rafael Kopschitz, faria parte do Observatório Nacional do Direito à Água e Saneamento (ONDAS), uma ONG que se posiciona contra a iniciativa privada na prestação de serviços públicos. A empresa ainda afirmou que segue os padrões impostos pelo Ministério da Saúde, mas sem dar informações que contradizem o estudo da UFV.

    Opinião do jornal O Espeto :

    A acusação sem provas da Saneouro de imparcialidade sobre o autor na condução do estudo cientifico referido nesta reportagem por fazer parte da ONG Observatório Nacional do Direito à Água e Saneamento (ONDAS) é ridícula. Para mim, Leandro H. Santos, diretor do Jornal O Espeto, isso aumenta ainda mais a credibilidade dos autores pois estão envolvidos em discussões nacionais sobre o tema. Estudo científico se combate com dados não com opinião. Atacar o autor, se ele é atleticano ou cruzeirense, tira o foco da questão que são dos dados apresentados no estudo. Simples assim. Não concorda com os dados apresentados em qualquer estudo é só ter argumentos para contesta-los. Para isso se contrata consultoria. Apelar para atacar o autor e não o estudo é feio. Isso se chama comunicação violenta. È minha opinião. E-mail de contato: oespeto@gmail.com