Aluguel caro resulta em saída de estudantes universitários de Mariana
    Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), em Mariana / Foto: João B. N. Gonçalves

    Durante o segundo semestre de 2022, 198 estudantes deixaram os campi do ICHS e ICSA
    Por: João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani

    No último dia 15 de março, quarta-feira, representantes dos campi Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA) e Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS),   da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) apresentaram em ofício dados sobre evasão estudantil devido a alto custo de aluguel em Mariana.

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                No documento assinado pelo Diretor do ICHS, professor Mateus Pereira, a universidade confirma a preocupação com o tema e a necessidade de se discutir soluções para o problema. “No intuito de reforçar a necessidade dessa discussão e de contribuir para a busca de soluções, o ICHS e o ICSA vêm levantar novamente a discussão acerca do tema e salientar a nossa extrema preocupação com os aumentos expressivos dos valores nos últimos meses”.

    O estudante do curso de Jornalismo da UFOP, Pedro Henrique de Souza, 22 anos, fala sobre os valores dos locações na cidade: “Os aluguéis aqui (Mariana) são muito caros. Para nós que somos estudantes, o preço fica além do que podemos pagar”. O aluno ainda diz que são necessárias manobras no orçamento para conseguir se manter na universidade. “Se não controlar o que gastamos durante o mês, acaba passando alguns apertos em relação a outros custos”, diz.

    Também estudante do curso de Jornalismo da UFOP, Mariana Hermidas, 20 anos, acredita que os preços são elevados por Mariana ser uma atração turística do estado. “Mariana é uma cidade turística, tudo é caro aqui, inclusive os aluguéis. Para uma pessoa que não trabalha, não recebe bolsa ou ajuda da família, arcar com o custo de vida aqui pode ser complicado. Além de muitas pessoas oferecerem casas com uma estrutura ruim e preço absurdo”, explica.

    Os dados sobre a evasão dos alunos de graduação se mostram preocupantes. No ICHS, houve um abandono de 21% dos ingressantes no ano letivo de 2021. Já no ICSA, o número de estudantes caiu de 1.669 para 1.471 do primeiro para o segundo semestre letivo de 2022, uma queda de 198 estudantes. Os motivos relatados pelos alunos para as desistências têm a ver, em grande parte, com a dificuldade financeira de se manterem na cidade. Além da evasão, houve também queda no número de matrículas.

    Cerca de 20% dos alunos de graduação do ICHS e do ICSA são classificados como estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. A UFOP oferta bolsas e auxílios para aqueles que se encontram nessa situação, mas muitos alunos alegam não ser o suficiente para se manterem em Mariana em plenas condições, precisando, muitas vezes, abrir mão de ocasiões de lazer.

    Este é o caso de Caroline Vitória, 20 anos, moradora de Belo Horizonte, que em 2021 estava matriculada para cursar Jornalismo no ICSA/UFOP, mas precisou desistir da faculdade por conta dos custos com o aluguel. “Na época, eu não estava trabalhando e meus pais me sustentariam, mas os preços são totalmente fora da minha realidade”, conta.

    O ofício também apresenta dados levantados pelo Programa de Educação Tutorial (PET), do ICSA. Segundo a pesquisa, a comunidade da UFOP em Mariana movimenta cerca de R$30 milhões por ano, e entre 2012 e 2017, os estudantes colocaram para rodar por volta de R$167 milhões na cidade.

    Os dados disponibilizados pela UFOP ilustram o papel da instituição como polo educacional, visto que a presença de estudantes e acadêmicos geram movimentação econômica com retorno financeiro e comercial para o município, e evidenciam a necessidade de pensar em soluções para a moradia. Consta no documento: “Diante disso e do direito constitucional à moradia assegurado ao cidadão brasileiro, colocamo-nos disponíveis para, juntos, articularmos políticas públicas que consigam beneficiar a população marianense e a comunidade da UFOP que reside em Mariana”.

    No ofício, a universidade destaca que as soluções concretas para o problema não são fáceis, mas sugere a possibilidade da Prefeitura Municipal de Mariana intermediar alguma ação concreta junto à Fundação Renova. A proposta da UFOP é oferecer cerca de 400 vagas de moradia para os estudantes em Mariana na forma de repasse financeiro e/ou pagamento de aluguéis.

                Pedro Henrique de Souza acredita que é preciso que a UFOP trabalhe junto ao poder público buscando criar mais oportunidades para que os estudantes continuem na universidade. Tem que dar mais oportunidades, o poder público pode fazer parcerias com a UFOP, seja em auxílios estudantis ou mais oportunidades de emprego na prefeitura”, afirma o aluno.

    “Em nossa interpretação, se conseguirmos apresentar melhores condições de moradia para alunos, técnicos e professores na cidade de Mariana, todos nós seríamos beneficiados”, diz a instituição.