O SONHO DO CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL

    O governo federal escolheu o Banco Central como culpado da Taxa Selic de 13,75% (mantida pelo COPOM em junho de 2023) travar o crescimento, mas não faz o “dever de casa”.

                    Por  Gilson E. Fonseca. Consultor de empresas
    
    
    
     A primeira crise econômica depois da euforia do chamado “milagre brasileiro” nos anos 1970, aconteceu em 1982, seguidos 40 anos outra crise em 2008. Com vários solavancos na economia, o Brasil vem caminhando sem crescimento sustentável. Nossa expansão vegetativa é muito grande, daí a maior necessidade de expansão da economia. 
    No início de 1970 a população era de 90 milhões de habitantes, hoje já bate os 210 milhões, ou seja, mais do dobro. Até há pouco tempo perto de 2 milhões de pessoas se lançavam, por ano, ao mercado de trabalho. Hoje, diminuiu um pouco, como indicam estatísticas que o aumento populacional é de 0,83% ao ano.

    A indústria brasileira decresceu 20% na última década segundo o IBGE, fechando 800 mil postos de trabalho. É demasiadamente frustrante, pois, a tendência mundial é depositar na indústria a força econômica. Se não fosse o agronegócio que contribuiu com 30% do PIB em 2022, nossa economia estaria em frangalhos. Sabe-se que 1% de crescimento do PIB só gera cerca de 500 mil empregos formais, além do que a automação e a inteligência artificial, geram mais perdas de empregos que ganhos.
    Vários fatores têm atrapalhado ou, até mesmo impedido o crescimento econômico: política tributária anacrônica, falta de recursos para investir, corrupção endêmica, infraestrutura precária, etc. A dívida total do país ( externa e interna ) está na casa de 73% do PIB e só a federal beira 60% (RS 5,8 trilhões).

    Há comentaristas econômicos que tentam mitigar a preocupação da dívida brasileira, argumentando que a dos Estados Unidos ultrapassa 100% do PIB. Ora, é uma comparação tosca, já que esse país é o mais rico do planeta, e tem a infraestrutura toda pronta (saneamento, energia, estradas, aeroportos, etc.).
    O governo federal escolheu o Banco Central como culpado da Taxa Selic de 13,75% (mantida pelo COPOM em junho) travar o crescimento, mas não faz o “dever de casa”. Ninguém nega que ela é alta, sobretudo para o próprio governo que é o maior tomador de crédito. Entretanto, não se pode baixá-la com uma canetada, pois juros e inflação são irmãos siameses.

    O assunto é complexo, se a taxa de juros for baixa há fuga de capitais externos, onde o Brasil depende muito deles. Outro empecilho é o governo federal recorrer às atitudes ideológicas como mostrar-se contra a venda de estatais, mesmo as deficitárias. O motivo é porque elas servem como cabide de empregos.

    Não por acaso a criação de 37 ministérios para abrigar tantos “companheiros” em todos os órgãos da União, aumentando o custo da folha de pagamento.

    A gastança está aos olhos de todos: viagens sem critérios, número exagerado de pessoas nas delegações e despesas em acomodações de luxo, como se o Brasil fosse rico.

    Como ter superávit primário para investir?!
    A harmonia entre os três poderes da República, prevista na Constituição de 1988, está tão confusa, pela interferência entre eles, que merece um capítulo à parte e, é mais preocupante do que parece, porque além de outros desarranjos, gera a nociva insegurança jurídica. Essa contingência afugenta investimentos internos e externos.

    Nada pior para um país que o descumprimento das leis pelas próprias autoridades e a falta de bons exemplos por parte delas. Só nos resta esperançar ou continuar sonhando.