“Nossa proposta é estar de acordo com os artistas contemporâneos, sem esquecer da nossa ancestralidade”
Por: Hynara Versiani e João B. N. Gonçalves
No último sábado, 24 de fevereiro de 2024, ocorreu no Museu Casa Alphonsus de Guimaraens o lançamento do vídeo documentário “Mariana, o livro dos minerais”. Além da produção audiovisual, também foi publicado um livro com o mesmo nome e a Cartilha do Reflorestamento Cultural.
O vídeo documentário foi roteirizado por Mo Maiê e Paula Teodoro, com direção e edição de Leandro Afrobool. A trilha sonora foi composta e produzida pelos artistas Bomblack, Liltim e Mo Maiê.
A diretora do museu, Ana Cláudia, expressa seu contentamento com a ocasião. “Ter um evento desses é muito bom, pois a nossa proposta é estar de acordo com os artistas contemporâneos, sem esquecer da nossa ancestralidade”, explica. De acordo com a diretora, uma exposição temporária intitulada “Mariana, o livro dos minerais” ficará no museu ao longo desta semana.
À frente do projeto, Mo Maiê conta que o trabalho foi feito desde 2022. “Na adolescência eu tinha o costume estranho de vir nessa casa, era um lugar aberto. Estar aqui hoje, ocupar esse espaço nesse momento, que é uma casa de um autor simbolista, para a gente foi uma quebra de barreiras”, relembra.
A artista fala um pouco sobre suas origens, que se chocam: “Tenho sangue originário, negro, europeu, árabe. Quando eu mergulhei nessa busca, a ancestralidade humana não me bastou, minha história está ligada à questão da mineração”, conta. Através da escrita e da arte, Mo Maiê busca organizar e transmitir suas ideias.
A produção literária faz parte da série “Árvores: memórias e reflorestamento”, iniciada em 2020, e foi inspirada em histórias de vida diversas. “Cada pessoa simboliza um poder irradiante. A colonização quis anular essas histórias de vida, e quer até hoje. Se a gente perder os territórios, se a gente não puder mais plantar, colher os peixes dos rios… o que sobrou?”, questiona Mo Maiê.
O evento também foi marcado pelas homenagens aos “griôs” de Mariana, que Mo Maiê explica serem pessoas que trabalham para preservar a cultura popular da cidade.
Geraldino Silva e Eduardo Campos receberam homenagens durante o evento
Um dos homenageados foi o artista plástico Eduardo Campos, dono do Museu Minas do Gogô, por ser uma pessoa que trabalha para preservar a memória dos africanos escravizados, e também por ter escrito um livro sobre Bento Rodrigues. Também foram homenageados: o artista plástico Geraldino Silva, a artista Jailda Freitas, o MC Bomblack, a artesã Mestre Dica e a dançarina Ingrid Ribeiro.
Mo Maiê explica que o livro trabalha com a escrita a partir de uma perspectiva de oralidades, resgatando a importância da ancestralidade oral. Paula Teodoro, que também participou ativamente da produção, conta um pouco sobre o processo da cartilha e do documentário: “A gente revive os momentos, como o da tragédia de Bento, para que eles não sejam esquecidos. É preciso explicar às pessoas o conceito do reflorestamento, para que elas entendam a importância de continuarem fazendo isso”, ressalta.
A Cartilha do Reflorestamento Cultural, concebida em agosto de 2023, foi usada como base para o roteiro do documentário. “Ela vai ser um fundamento para o nosso trabalho nas comunidades. Como as nossas ancestralidades, como povo diverso, se equilibram e se harmonizam? É isso que tentamos falar aqui, buscando referências das filosofias africanas para falar do reflorestamento cultural”, descreve.
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