Capitão Jack – contexto de época e história

    Por: Leandro Henrique dos Santos

    Uma lenda que originou de um capitão britânico ex-combatente das Guerras Napoleônicas que após dispensa veio trabalhar na mina inglesa de Passagem de Mariana. Sua vida de aventuras, tinha hábitos considerados excêntricos pelos moradores de Passagem, e sua trágica morte no interior da mina originou a lenda que até hoje povoa a imaginação das pessoas.

    Quando Napoleão estava em guerra na Europa, sua principal oposição era a Inglaterra apenas. Situação era crítica e os ingleses morriam de medo dos planos de Napoleão de invadir a ilha, como chamavam a Inglaterra.


    Em 1808 após o rei Dom João fugir de Portugal escoltado pelos ingleses, apenas quatro dias depois de sua chegada no Rio de Janeiro, em sua primeira ação ele assinou um decreto dia 26/01/1810 para ser feita a abertura dos portos as nações amigas, ou seja, abrir o Brasil ao comércio inglês, claro com vantagens para os ingleses e também permitiu a construção de Igrejas anglicanas em terras brasileiras, contanto que elas não tivessem a aparência de templos religiosos — não poderiam ter torres ou sinos — e não buscassem a conversão de cristãos católicos brasileiros.


    A partir daí o Brasil passou a ser como um protetorado inglês, sofrendo grande pressão, um exemplo disso foi que em 1810 Dom João assinou outro decreto sob influência inglesa, para acabar com a escravidão de forma gradual. Na Inglaterra a escravidão já tinha sido abolida e existia organizações civis e religiosas para acabar com a escravidão em todos países.

    A guerra de bloqueios representada como um jogo de xadrez entre Napoleão Bonaparte e
    o rei Jorge III, da Inglaterra. Nessa caricatura francesa, o rei britânico está prestes a perder o jogo.


    Com o Brasil sob domínio político inglês grande número de negociantes, aventureiros, exploradores, empreendedores, militares, fazendeiros, começaram a chegar para tentar a sorte numa terra desconhecida mas já famosa por suas riquezas.


    Em 1811 os ingleses já tinham construído uma Igreja Anglicana e um cemitério no Rio de Janeiro, no bairro Gamboa e em Salvador. Em 1814 fizeram o mesmo em Recife, em 1816 em São Luís do Maranhão.
    Em 1812 os ingleses já estavam em Nova Lima, e construíra um cemitério e um local de culto.
    Em 11 de fevereiro de 1814 foi instalado na atual Praça Tiradentes em Ouro Preto um escritório da “Geological Royal Society Corwall”, sendo representada pelo engenheiro Willian Jory F. R. S. Henwood, com a missão de ampliar os negócios, comprando novas minas de ouro.

    Capitão Jack fez parte da decoração do Carnaval de 2024 em Mariana


    Em 12 de março de 1819 foi feita a primeira sociedade de mineração do Brasil para comprar e explorar a Mina da Passagem, que passou a ser dirigida pelo engenheiro Barão Alemão Willian Ludwiig von Eschwegue.


    No mesmo ano com a chegada dos ingleses foi construída a Igreja Anglicana e o seu cemitério.
    Em 1835 a Mina da Passagem, chamada então de National Brazilian Mining Association , sociedade aberta, com muitos sócios resolveu ampliar os serviços de mineração, assim como trazer mão de obra especializada.


    Muitos experientes mineiros de carvão da Cornualha, que também eram faz tudo na mina, desde mecânicos, carpinteiros, fundidores, neste ano de 1835 a mina contava com 125 europeus ( maioria ingleses e alguns alemães) 450 escravos e apenas 50 brasileiros. ( dados quantitativos segundo cita Douglas Libby , em seu livro de 1988, página 274.


    Primeiro dado alarmante é a pequena quantidade de brasileiros na Mina ! Segundo relata o engenheiro Barão alemão Ludvig Willian Eschwegue e presidente da sociedade que dirigiu a mina, o motivo de ter poucos brasileiros é a aversão que na época tinham ao trabalho pesado. Durante muitos séculos o trabalho pesado, em mina, era tido como coisa de escravo ! Muitos repetiam “eu não sou escravo”, alguns trabalhavam apenas um dia ou uma semana e só voltavam quando o dinheiro acabava.


    Outro dado interessante é a presença de escravos em uma mina inglesa, pois uma lei proibia os ingleses de ter escravos. Um dos primeiros países da Europa a abolir a escravidão foi a Inglaterra. O jeitinho que os ingleses deram foi alugar os escravos nas mão de quem tinha, e contratos estão em processos de inventário, e tem muitas cláusulas, prevendo inclusive continuar pagando mesmo se o escravo morrer em serviço por cinco anos! Os escravos eram citados no contrato com sobrenome do dono.


    As condições de trabalho eram péssimas ! Muitos ingleses foram enterrados no cemitério anglicano em Passagem com pouca idade, devido a acidentes na mina, ou caso de brigas, bebedeiras.
    Os ingleses da Cornualha eram tidos como durões, teimosos, beberrões, muitas vezes violentos, alguns praticaram crimes, como assassinatos, que estão registrados nas atas da Câmara de Mariana. Como existia uma acordo entre Dom João, e depois seguiu inalterado pelos reinados de Dom Pedro I e Dom Pedro II, e reino da Inglaterra, que firmava que os ingleses só poderiam ser julgados pela lei inglesa e na Inglaterra, assim a impunidade era grande.


    As condições que esses homens viviam eram também lastimáveis, em grande barracões, chamados de Bom-Será que significa que morando juntos bom será que não se matem ! Eram barracões grandes, com um único banheiro de uma lado, e uma única pia do outros. Existiam os Bom-Serás para os solteiros e para os casados .Em cada quarto havia apenas a janela da frente e uma porta, assim para evitar roubos e menos gastos na construção.


    Em face a grande falta de mão de obra, cada vez mais ingleses vinham para Passagem e uma comunidade crescia.
    A Igreja pressionou contra a vinda de muitos ingleses, suíços, russos e alemães, estes ainda eram exímios mineradores, trazidos pelo Barão Eschewgue, que escreveu dois livros sobre mineração, Pluto Brasilienses I e II.
    A solução encontrada foi trazer portugueses, espanhóis, e italianos da região de Macugnama, onde a mina de ouro tinha sido desativada.
    Os italianos eram católicos e agradavam a Igreja, além da língua ser de fácil entendimento para os brasileiros, assim comparando com o alemão e o inglês.


    Com o final das guerras napoleônicas surgiu uma crise de fome na Europa, devastada por batalhas e por uma horda de soldados desempregados, transformados em indigentes!
    Demoraria mais 50 anos para a Europa recuperar-se da destruição da guerra e para logo depois entrar em outra !
    Além de italianos, começaram a chegar portugueses e espanhóis, que ganharam uma rua vila com casas com casas dos dois lados, chamadas até hoje de Vila Portuguesa, Vila Espanhola, somando-se a Vila Alemã ( hoje Vila São Vicente). O chamando Fundão era dos Italianos.
    Além destes vieram em menor quantidade russos, franceses, suecos, suíços. Passagem virou uma “Babel”, inclusive com direito a um consulado italiano.


    Vindo das guerras napoleônicas, apareceu em Passagem o Capitão Jack.
    Ele adorava usar seu uniforme branco em festas e dias de gala. Os ingleses construíram um clube de bilhar, campo de tênis, área para piquenic com grande mesas de pedra, e o primeiro campo de futebol de Minas, o Britannic football Club, que junto com mais três times, sendo mais um de ingleses, outro de italianos e outro de brasileiros, faziam alegria nos dias de folga!


    Capitão Jack arriscava sua vida conferindo o trabalho dos broqueiros, que fazim a buracos na rocha para inserir dinamite, e após a explosão havia a quebra e cata das pedras das quais extraiam-se o ouro.
    Muitas vezes aproveitava-se a parte do furo que não havia sido arrebentada, a chamada guia. Caso o dinamite ou pavio houvesse falhado em parte ao colocar a broca este explodia matando o broqueiro.
    Portanto contar os tiros, explosões, eram serviço do capitão da Mina, que colocava para detonar com certo tempo para poder contar! Ainda tinha que seguir a direção do “veio”, seguindo a inclinação da pedra cristal, onde existe mais ouro.


    Em suas folgas Capitão Jack patrulhava a cavalo, todo de branco os bares para ver se algum inglês, ou alguém havia se metido em confusão e tinha autoridade para prender, mesmo sem ser polícia !
    Lembrando que por muitos anos o presidente da Câmara de Mariana foi o Thomas Bawden, diretor da mina, que elegeu seu filho vereador, depois deputado e Senador do Império e depois senador da república. Os ingleses mandavam em Mariana. Só lembrando que não existia prefeitura, nem separação de poderes. Eram os vereadores o executivo, legislativo e judiciário! Isso durou até meados de 1920.
    Capitão Jack assim como outros 88 ingleses foi enterrado no cemitério inglês em Passagem.
    Muitos relatam tê-lo visto andando em seu cavalo branco pela área da mina ! Ou ainda escutam seus passos no interior da Mina!


    Muitas pessoas de Passagem já deram de cara com ele andando pela Mina.
    Uma vez um diretor sobrinho de Vicente Bispo viu o Capitão Jack a cavalo e perguntou quem era, ele respondeu em inglês e saiu galopando. Ele juntou uma turma mas não achou, depois descobriu que era o Capitão Jack.
    Muitas pessoas relatam que ele aparece e some num piscar de olhos !

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