Dia de Passagem de Mariana e o início da mineração : 13 de julho de 1696

    Por Leandro Henrique dos Santos

    Os portugueses ao chegar no Brasil em 22 de abril de 1500 começaram uma tarefa muito difícil, a ocupação para manter a posse da nova colônia. Muitos queriam a nova terra, e até tentaram toma-la como franceses, holandeses.

    Claro que buscar por ouro e pedras preciosas esteve sempre como um dos objetivos.

    A Espanha encontrou ouro em Porto Rico, em 1508, na Jamaica 1509 e Cuba, em 1511. Depois a Espanha descobriu ouro na Colômbia 1540, na Bolívia em 1555 e no Peru descobriram prata em Potosí 1545.

    Os portugueses olhavam para a vizinha Espanha fazendo descobertas de ouro e prata e eles nada ! Os portugueses resolveram então fazer missas e pedir graças aos santos de sua devoção, e também a enviar expedições para vasculhar o território, das quais muitas nem voltaram, outras queriam apenas prender índios que eram escravizados em fazendas.

    Essas expedições tinham uma bandeira a frente e quem ia junto chamava-se de bandeirantes.

    Com índios capturados os portugueses acharam algumas vezes adornos de ouro, o que acendia o interesse pela procura da localização das minas.

    Muitas expedições foram feitas partindo de São Paulo em busca de ouro tendo como guia os índios.

    Desde 1693 Antônio Rodrigues Arzão, bandeirante, vivia pelos matos a procura de ouro. Primeiro encontrou ouro em São Paulo mesmo, região de Curitiba e Paranaguá, mas era pouco ouro e índios da região o expulsaram. Ele sem opção fugiu e teve que entrar cada vez mais para dentro da região do que hoje é Minas.

    Coube a Salvador Furtado de Mendonça, paulista de Taubaté, a frente de uma bandeira, seguia pelas terras inexploradas e fazia acampamentos pelo caminho.

    Em um desses acampamentos achou ouro ao fincar estacas, e batizou de o local com nome de  Santo Antônio, santo de sua devoção. Mais tarde virou Passagem, depois Passagem de Mariana, antiga Vila do Carmo, em homenagem a rainha Maria Ana.

    Ruínas de pedra de casas no Morro Santo Antônio em Passagem

    Depois de três dias Salvador Furtado de Mendonça com sua Bandeira seguiu o rio e criou outro acampamento numa praia mais ampla, era 16 de julho de 1696 quando os primeiros casebres de Mariana foram erguidas, no dia de Nossa Senhora do Carmo, 16 de julho, e foi feita uma missa em sua homenagem.

    Desde então a região começou a receber muitos aventureiros não só de São Paulo, mas do Brasil todo e de Portugal a procura de ouro. Vinha tanta gente que o rei Pedro II chegou a proibir vir pessoas para as Minas pois estava com medo de faltar braços para mão de obra. Até soldados desertaram para vir para Mariana e região.

    Em 1698 Antônio Dias de Oliveira, também de Taubaté, encontrou muito ouro no local que veio a se chamar inicialmente Vila Rica, depois Ouro Preto devido a cor do ouro.

    Pouco depois Antônio Pereira começou a explorar o atual distrito de Ouro Preto, que ganhou seu nome, como de costume.

    Entre esses primeiros aventureiros que chegaram na região na primeira década de 1700,  estavam os bandeirantes Miguel Garcia que exploraram o rio Gualaxo do Sul, Salvador Fernandez Albernaz no rio Gualaxo do Norte, criando o arraial de Nossa Senhora de Nazaré depois Santa Rita Durão, Manuel Garcia no Tripuí, João Pedroso em Cachoeira do Brumado, Caetano Pinto de Castro em São Caetano mais tarde Monsenhor Horta, Manoel da Costa em Nossa Senhora das Neves,  hoje Claudio Manoel.

    Casa no Morro Santo Antônio em Passagem : uma das ruínas mais bem conservadas

    Houveram muitos outros pioneiros. Sebastião Fagundes Varela descobriu ouro no arraial que deu nome de São Sebastião, hoje Bandeirantes.

    Matias da Silva Barbosa fundou o arraial com seu nome, depois virou Barra Longa.

    Alguns vieram com familiares como os irmãos Bento Rodrigues e Miguel Rodrigues, e fundaram Bento Rodrigues. Miguel Rodrigues depois foi também para região de Diogo de Vasconcelos, onde estabeleceu fazenda, e hoje o local tem seu nome até hoje : Miguel Rodrigues.

    A atual cidade de Diogo de Vasconcelos foi fundada pelo padre Domingos Pinto Coelho da Rocha, e adotou o nome de São Domingos, que é o padroeiro da cidade. Depois mudaram o nome para Diogo de Vasconcelos.

    Acaiaca é um dos poucos lugares que manteve o nome indígena, significa no tupi guarani ” árvore grande”. Isso se deve a grande resistência dos ferozes botocudos, que mais de uma vez expulsaram os bandeirantes portugueses daquela região e até incendiaram Furquim ! Foram derrotados pela gripe !

    Os irmãos Camargos ( Fernando Lopes Camargo, João Lopes Camargo e Thomaz Lopes Camargo) fundaram Camargos. Terra do ouro vermelho, onde o Tesoureiro da Capitania de Minas tinha uma fazenda cujas ruínas estão lá de testemunho da grandeza da época.

     Antonio Furquim da Luz fundou Furquim, que mantem o nome.

    Os Pires, inimigos mortais dos Camargos, fundaram Pires, subdistrito em Ouro Preto.

    Na região do Itacolomi exploraram ouro Bento Leite e Belchior da Cunha Barreto. Porém os dois abandonaram as lavras devido o fim prematuro do ouro. O nome Belchior batiza o ribeirão cristalino que desce do Itacolomi do lado das Cachoeira das Serrinha em Passagem de Mariana e se junta ao Rio Sibrão.

    A historiadora Laura Vergueiro  em seu livro “ Opulência e miséria das Minas Gerais” publicado em 1981, cita Belchior e Bento Leite como exploradores do ouro no Itacolomi. Bento Leite optou por explorar a região do Lagoão em Passagem, no pé do Itacolomi.

    Do local onde Belchior formou sua base de operações, logo depois descendo a Serrinha em Passagem, existe sua casa grande, muros de arrimo, parte de uma calçada. Toda área foi abandonada quando o ouro acabou. A mata alta e o difícil acesso protegeram o local de depredações.

    Enfim 196 anos após a descoberta do Brasil os portugueses tinham a sua vez da descoberta minas de ouro para alegria do rei Pedro II que governou Portugal de 1648-1706.

    Pedro II era muito devoto de Nossa Senhora do Carmo, e já há uma versão popular na história que sabendo das minas de ouro determinou que fosse oficializada a descoberta no dia certo, dia 16 de julho, assim celebraram festas em honra a Nossa Senhora do Carmo, e a fez padroeira da nova cidade, que passou a ser chamada de Vila do Carmo.

    Procissões, missas, festas, foram feitas durante um mês inteiro em comemoração a Nossa Senhora do Carmo em Lisboa pelo agradecimento de atender ao pedido do rei Pedro II de achar ouro no Brasil. Essa é uma das ocasiões onde podemos avaliar a relação entre politica, fé e a velha manipulação dos fatos.

    A data do distrito de Passagem por muito tempo foi comemorada na Escola Estadual Coronel Benjamim Guimarães no dia 13 de julho, onde relembrava-se a história da ocupação do Morro Santo Antônio. Depois retomaram essa festa com o Inverno na Passagem.

    Rua do Comércio em Passagem

    O nome Passagem se dava a um registro de controle policial de entrada e fiscalização de pessoas, que ficava próximo a ponte, ao lado do Restaurante Sinha Olímpia hoje. Era proibido circular ouro em pó, e cada cidade tinha que ter uma casa de fundição onde era retirado um quinto (20%) do peso para a coroa portuguesa como imposto. Daí o nome Passagem de Mariana.

    Sede do Sindicato Mútuo Socorro, depois Clube Sorriso da Infância

    Leandro Henrique dos Santos é formado em Letras e História pela UFOP e pós graduação em Preservação e Difusão de Sítios Históricos e Arqueológicos pela UFV .

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