Na programação, os participantes abordam a mineração na América Latina, os impactos nos territórios quilombolas e comunidades tradicionais, a atuação da assessoria técnica independente, entre outros.
Por: Hynara Versiani e João B. N. Gonçalves
Acontece no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas ( ICSA ) da Universidade Federal de Ouro Preto, desde a última segunda-feira, 18 de novembro de 2024, o 6º Encontro Regional por um Novo Modelo de Mineração e à 6ª Jornada Universitária de Debates na Mineração.
A abertura do evento foi um momento de reflexão sobre a trajetória da Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração (FLAMA), que coordena as jornadas.
Os eventos se estendem até sexta-feira, dia 22 de novembro de 2024, e reúnem pesquisadores, estudantes, movimentos sociais, trabalhadores da mineração e comunidades atingidas para discutir os impactos da atividade minerária, as lutas por justiça e a construção de um futuro mais justo e sustentável.
Na programação, os participantes abordam a mineração na América Latina, os impactos nos territórios quilombolas e comunidades tradicionais, a atuação da assessoria técnica independente, entre outros.
“Passamos para o ano de 2024 ocupando inúmeros espaços, e culminamos com este momento de compartilhar as lutas feitas, a fim de potencializar ainda mais nossa atuação coletiva”, disse a professora Kathiuça Bertollo, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
A professora destacou o histórico dos eventos e destacou o papel da Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração ( FLAMA ). “É uma frente ampla, um chamado coletivo para ações conjuntas em torno das lutas e resistências à mineração em Minas Gerais, à mineração na região do Quadrilátero ferrífero, que é tão assolada por este atual modelo de mineração.”, declara.
Para ela, a 5ª edição do Encontro e da Jornada foi histórica, pela ampla participação do público e pela densidade das denúncias feitas e articulações entre as entidades, os movimentos sociais e a universidade.
Letícia Bargas, estudante de Serviço Social da UFOP integrante da FLAMA
“Desde a sua fundação, a UFOP busca produzir conhecimento, em disputa pelos movimentos dos atingidos. É fundamental a realização de mais um desses encontros, para reforçar a necessidade dessa luta.”, afirma.
Maria Helena, integrante da Comissão dos Atingidos de Antônio Pereira, compartilha sua vivência:
“Essa é uma oportunidade que temos de transmitir a vocês um pouco das nossas dores. A luta das mulheres surgiu porque os homens nos apoiavam, mas não podiam das as caras para a luta, chegavam a ser demitidos. Por isso surgiu a necessidade de nós enfrentarmos a luta, a polícia, os desafios”.
O professor Davi, da ADUFOP, lembrou a impunidade das mineradoras e a urgência de um modelo de mineração que respeite trabalhadores e comunidades. “Lutamos por um novo modelo de mineração e de sociedade, um novo jeito de produzir e distribuir a riqueza. Precisamos refletir sobre a relação desse horizonte com o projeto de uma universidade socialmente referenciada e crítica”, pontua.
Bruno Teixeira, do Sindicato Metabase Inconfidentes, destaca as contradições do modelo atual.
“Quando se olha de um lado para o outro, tudo que se enxerga é essa mesma mineração. É necessário e urgente não só um novo modelo de mineração, mas também entender como isso vai acontecer, a que custo, e principalmente, como será o novo modelo de sociedade a partir de toda a riqueza que será gerada por essa mineração.”
Para Patrícia Ramos, militante do Movimento Mulheres em Luta, o evento é também um espaço de denúncia e articulação.
“Nesse mês, seguimos lutando para que aquilo que aconteceu seja reconhecido como o que é. Um crime. Se se apagam essas palavras dos jornais, todos os criminosos passam ilesos pela justiça. Temos que nos indignar, foi um crime sim”, reforça.
Patrícia ressalta que, além de continuar batalhando pelos direitos dos atingidos, é preciso reverter a situação: “Várias lutas estão sendo cravadas em nome da comunidade. Além de exigir a reparação, nós, do PSTU, acrescentamos a essas vocês que é preciso seguir essa luta com independência de classe”.
A programação dos próximos dias inclui mesas de debate sobre emergência climática, mineração extrativista e impactos territoriais, além de uma visita de campo à Serra de Antônio Pereira.
Na sexta-feira dia 29/11/2024, as atividades se encerram com a apresentação cultural da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia.