Uma ode a Roque Camêllo : o criador do Dia de Minas

    Saulo Tete de Oliveira Camêllo.

    Mariana, berço da civilização mineira e guardiã de uma história que atravessa os séculos, deve muito de seu protagonismo contemporâneo à figura de Roque José de Oliveira Camêllo. Professor, advogado, historiador e político, ele foi um homem de seu tempo que soube moldar o presente para garantir que o passado jamais fosse esquecido. Sua vida foi uma ode ao patrimônio, à educação e à cultura, pilares que sustentam o legado que nos deixou.

    Nascido em 1942 no bucólico povoado de Bento Rodrigues, Roque despontou cedo como uma mente pródiga e apaixonada pela transmissão do saber. Formado em Letras e Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, sua trajetória acadêmica foi marcada por especializações em instituições de renome mundial, como a Universidade de Harvard. Mas foi em Mariana, sua terra natal, que ele dedicou o melhor de seus esforços, transformando a cidade em um modelo de valorização da memória histórica e cultural.

    Entre suas realizações mais memoráveis, destaca-se a idealização do Dia de Minas, instituído em 16 de julho de 1977, uma data em que a capital de Minas Gerais se transfere simbolicamente para Mariana. Nesse gesto, Roque uniu a poesia da história com a força do presente, resgatando o orgulho da cidade que foi a primeira vila, cidade e capital do estado. O Dia de Minas não é apenas uma comemoração; é um chamado ao coração mineiro para que se lembre de suas raízes, da memória de seus antepassados e do valor imensurável de sua história.

    Sob sua liderança à frente da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese de Mariana (FUNDARQ), Roque promoveu o restauro de monumentos históricos que são joias da arquitetura barroca, como o Órgão Arp Schnitger da Catedral de Mariana e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

    Criou ainda o Museu da Música, reconhecido internacionalmente e incorporado ao programa Memória do Mundo da UNESCO. Cada um desses feitos reafirma Mariana como um santuário da história nacional, um ponto de encontro entre o sagrado e o humano, entre o passado e o futuro.

    Mas Roque Camêllo não foi apenas um restaurador de patrimônios materiais; foi, sobretudo, um restaurador de vidas. Seu amor por Mariana transcendia o tangível. Ele via na cidade e em seus habitantes o reflexo de uma identidade que precisava ser cultivada e defendida.

    O Dia de Minas é, portanto, mais do que uma celebração; é o fruto do ideal de um homem que acreditava que a história é a raiz que sustenta o presente e projeta o futuro.

    Em sua notável trajetória como intelectual e líder cultural, exerceu a presidência da Academia Marianense de Letras com uma visão que ultrapassava as fronteiras da escrita, tornando-se um guardião da tradição literária e um elo entre as gerações de escritores marianenses.

    Sob sua direção, a Academia floresceu como um espaço de resistência à diluição da memória local, um refúgio onde a história e a arte se entrelaçavam. Seu trabalho acadêmico não se limitou ao campo das palavras; ele soube transformar o saber em ação. Ao longo de sua liderança, Roque renovou o espírito da Academia, dando-lhe um fôlego novo, ao mesmo tempo respeitando o legado dos que o antecederam. Sua dedicação incansável às letras marianenses, ao mesmo tempo literárias e humanas, o consolidou como uma referência imortal, capaz de transformar a escrita em um instrumento de perpetuação e ressignificação da memória da cidade.

    Roque faleceu em 2017, mas deixou um legado que ecoa em cada celebração do Dia de Minas, nas paredes centenárias de Mariana e na memória daqueles que reconhecem sua importância. Sua vida foi uma lição de como o amor à terra natal pode se traduzir em ações que transformam realidades.

    Hoje, ao recordar sua memória, Mariana o celebra não apenas como um cidadão ilustre, mas como um símbolo da resistência cultural e da preservação da história. Roque Camêllo é o guardião que, mesmo ausente, continua a guiar a lembrança de que o futuro se constrói com as mãos que cuidam do passado e com os corações que acreditam na força de sua história.

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