Orientações da sociedade Brasileira de Pediatria para Pais e filhos em confinamento durante a pandemia de COVID-19
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    Diante da pandemia de COVID-19 é essencial o suporte das famílias na prevenção dos prejuízos à saúde e ao desenvolvimento das crianças.

    A necessidade de permanecer em casa foi uma medida extrema que modifica completamente o funcionamento da vida de todos e certamente essa situação surgiu como um fator adicional e muitas famílias ainda não conseguiram se organizar nessa nova modalidade no dia a dia.

     As crianças não estão indo às escolas, os avós não podem contribuir no monitoramento delas, os pais precisam trabalhar em esquema de home office e lidar, ao mesmo tempo, com os afazeres da casa, os cuidados com as crianças que agora passaram a ser em tempo integral, as compras e saídas restritas, as preocupações financeiras e também lidar com as informações sobre a pandemia que nem sempre chegam de forma clara.

    Os pilares da saúde e do desenvolvimento precisam ser respeitados e, quando existe uma situação de adversidade que aumenta muito o estresse como nessa situação de pandemia, onde ele é elevado e diário, ele pode ser tóxico: portanto, o conceito de estresse tóxico deve ser conhecido e as medidas tomadas para que ele seja prevenido, a fim de se evitar prejuízos maiores a longo prazo.

    Situações de adversidades determinam a resposta fisiológica de elevação dos hormônios do estresse na infância, como o cortisol e adrenalina, com consequências de sobrecarga do sistema cardiovascular e riscos à construção saudável da arquitetura cerebral das crianças.

    Isso pode acarretar várias consequências a curto prazo, como transtornos do sono, irritabilidade, piora da imunidade, medos, e a  médio e longo prazo, como maior prevalência de atrasos no desenvolvimento, de transtorno  de ansiedade, de depressão, queda no rendimento escolar e estilo de vida pouco  saudável na vida adulta.

    Assim sendo, a aplicação das práticas baseadas em evidências pode contribuir na preservação  do bem estar das nossas crianças e adolescentes e, de acordo com as pesquisas  das Neurociências e das publicações científicas recentes, o DC de Pediatria do Desenvolvimento  e Comportamento fornece algumas dicas importantes para os pais nesse  momento de pandemia:

    01. Os adultos devem realizar momentos de diálogo para discussão das atividades prioritárias  do dia a dia, das necessidades básicas da casa, da divisão de tarefas e obrigações.  Deve-se organizar os horários do trabalho de cada um dos pais, tentando intercalar os períodos para os demais afazeres da casa e das crianças.

    02. Discutir em família o papel que cada adulto possui em fornecer o suporte para que o estresse não se torne tóxico para as crianças e adolescentes.

    03. Ensinar como higienizar as mãos e que esse cuidado deve ser um hábito diário, mesmo após a pandemia acabar. Além disso, orientar como espirrar com proteção, como utilizar os seus utensílios, como evitar o contato físico e como se cuidar de forma lúdica, com músicas, leituras e brincadeiras.

    04. Conversar com os seus filhos sobre a situação atual, com linguagem simples e adequada  para cada idade da criança. As orientações devem ser transmitidas de forma tranquila a fim de evitar a elevação do estresse, do medo e da ansiedade no nível de chegar a comprometer a imunidade e saúde mental dos pequenos. Explicar que as medidas são de prevenção, mas que podemos esperar bons desfechos. Dar abertura para que eles possam expressar seus sentimentos e suas dúvidas em um ambiente acolhedor e de apoio mútuo.

    05. Realizar o planejamento de agenda dos filhos juntamente com eles, incentivando-os a organizar horários equilibrados para manter as atividades de brincadeiras, estudo, leitura, música, atividade física, sono e tempo de tela, respeitando os limites da rotina saudável, além dos intervalos de ócio criativo para que a própria criança faça reflexões e brincadeiras que irão ajudá-la a superar esse momento.

    06. Manter a dieta e a ingesta de líquidos adequada para cada idade. Os alimentos possuem  papel no crescimento, na prevenção de doenças e na formação da arquitetura cerebral. O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e mantido até os dois anos é de grande relevância. Chamar atenção para o sobrepeso e obesidade.

    07. Intercalar períodos de atividades físicas dentro do lar em mais de um horário do dia nos turnos da manhã e da tarde e, se possível, fazer as atividades em conjunto pais e filhos. Estimular a criança e o adolescente a ser criativo para realizar essas atividades em casa que podem ser de circuitos feitos com travesseiros e garrafas plásticas, pular corda, dançar, artes marciais dentre outros.

    08. Estimular atividades no quintal, na varanda ou próximo a locais mais arejados da casa ou apartamento.

    09. Usar a tecnologia a favor de todos. Definir com as crianças os horários para o uso saudável das telas, segundo as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, evitando ultrapassar os limites e o acesso sem supervisão a conteúdos inadequados.

    10. Definir horários para jogos online com os amigos e para videconferências com os avós (visualizar os avós em boa saúde pode tranquilizar as crianças). Estimular os avós a terem conversas alegres e momentos de descontração durante os contatos à distância.

    11. Inserir as crianças e adolescentes nas tarefas domésticas respeitando a capacidade de acordo com a idade de cada um. Incentivar o ensino colaborativo supervisionado enquanto realizar essas atividades e aproveitar para ensinar afazeres de forma alegre e prazerosa, pois isso pode trazer grande aprendizado para a criança e adolescente.

    12. Converse com as crianças e adolescentes para que eles respeitem os momentos que os adultos precisam trabalhar de forma mais concentrada. Tentar sincronizar o horário dessa necessidade com a agenda de um filme ou alguma atividade em que a criança não necessite de tanta supervisão.

    13. Reservar um a dois momentos do dia para que os adultos possam se atualizar em relação às informações, sem expor as crianças a conteúdos inadequados. A maioria das informações repassadas pelas mídias são direcionadas para o público adulto e cabe aos pais limitar o acesso das crianças, repassando o que for necessário com linguagem adequada.

    14. Incluir na agenda pausas durante o dia para que a família possa estar unida de forma alegre e prazerosa. Tente realizar as refeições junto com as crianças abordando temas construtivos. Praticar as técnicas de atenção plena e de relaxamento.

    15. Seja você o modelo de comportamento que espera de seus filhos. Portanto, os pais devem evitar excesso de tela, manter o lar harmonioso e demonstrar de forma assertiva e genuína como lidar com equilíbrio com essa situação adversa só traz benefícios na construção de um cérebro saudável na infância.

    16. Deixar claro para todos que o momento não é de férias e sim de uma situação emergencial  transitória de reorganização do formato em que as atividades cotidianas  devem ser cumpridas.

    A Sociedade Brasileira de Pediatria está empenhada em minimizar os impactos na saúde  das crianças e dos adolescentes e incentiva a divulgação de informações científicas para a comunidade.

    Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria : https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22420c-NAlerta_Pais_e_Filhos_em_confinamento_COVID-19.pdf