Transporte e tratamento oncológico precisam andar juntos

    Participantes de audiência da Comissão de Prevenção e Enfrentamento ao Câncer relatam que dificuldades no deslocamento prejudicam efetividade do tratamento.

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    Garantir transporte a pacientes oncológicos é possibilitar acesso ao tratamento. Essa é a posição unânime defendida pelos participantes de audiência pública, realizada nesta quarta-feira (14/6/23), pela Comissão Extraordinária de Prevenção e Enfrentamento ao Câncer da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Eles defenderam a gratuidade desse transporte.

    Médica mastologista da Santa Casa de Belo Horizonte e secretária adjunta da Sociedade Brasileira de Mastologia, Annamaria Massahud Rodrigues, destacou que dificuldades com o deslocamento motivaram que um terço dos pacientes do hospital abandonassem o tratamento oncológico.

    “O abandono do tratamento é um desperdício de saúde e de dinheiro do Estado”, afirmou, defendendo que o mesmo seja feito em sua integralidade.

    Gerente adjunta de Controle de Avaliação da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Glauciane Magalhães Alves também afirmou que o transporte é fundamental para a garantia do tratamento oncológico.

    “Mesmo com os avanços e as melhorias alcançadas, as barreiras socioeconômicas trazem um desfecho pior para pacientes oncológicos, com maior taxa de mortalidade e risco de recidiva. O que mais pesa nisso é a dificuldade de acesso ao tratamento.”
    Glauciane Magalhães
    Integrante da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte
    Terceiro estado em incidência de câncer
    Representante regional da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Maryane Rodrigues Ferreira enfatizou que Minas é o terceiro estado em incidência de novos casos de câncer, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

    Ela salientou que, a despeito desse dado, ainda há em Minas inúmeras barreiras nos serviços de prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos. E uma demanda, apontada por diversas instituições que atuam na causa, como disse, diz respeito à necessidade de transporte gratuito para os pacientes.

    Maryane Ferreira contou que acompanha pacientes oncológicos pediátricos que, muitas vezes, moram em cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e se tratam na Capital.

    “Eles não têm acesso a esse transporte gratuito e precisam contar com a boa vontade de gestores municipais para se deslocar.”
    Maryane Ferreira
    Sistema precisa se organizar melhor, segundo médico
    Representante da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Regional Sudeste, Flávio Silva Brandão, destacou que o sistema de saúde precisa se organizar melhor para fazer frente aos casos de câncer, garantindo um atendimento mais ágil.

    Já a presidente da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher e Integrante da Comissão Minas Contra o Câncer (Asprecam), Mônica Bessa Reis, enfatizou que está passando da hora de resolver alguns problemas em relação a esse assunto em Minas.

    “Precisamos sair da palavra e ir para a ação. Minas está em atraso, comparando com outros estados, e Minas não merece isso”, falou.

    Legislação em BH
    Vereadora da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Marilda de Castro Portela (Cidadania) relatou que a defesa dos pacientes oncológicos sempre foi uma bandeira desde seu primeiro mandato.

    Nesse período, projeto para garantir gratuidade no transporte de pacientes foi vetado pelo então prefeito da Capital. No seu segundo mandato, como contou, destinou emenda impositiva à causa para contribuir com uma resposta à questão.

    O diretor de Planejamento e Monitoramento do Transporte da Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte, Gregório Luz, relatou que a Câmara Municipal aprovou, em 1º turno, nesta terça (13), projeto de lei do Executivo municipal que prevê o subsídio ao sistema de transporte público coletivo na Capital.

    Conforme contou, um dos pontos do projeto é a gratuidade do transporte para pacientes, sobretudo, oncológicos. “A política pública está se tornando realidade na Capital”, falou.

    Deputados apoiam gratuidade
    O presidente da comissão, deputado Elismar Prado (Pros), disse que a garantia ao transporte é fundamental para que o paciente tenha acesso ao tratamento. Ele destacou que, em Minas, dado o tamanho do estado, tem havido problemas.

    “Pacientes precisam se deslocar centenas e centenas de quilômetros para conseguir atendimento. Isso mostra como é dolorosa e cruel essa jornada do paciente oncológico.”
    Elismar Prado
    Dep. Elismar Prado
    Em sua opinião, tudo isso acontece porque Minas não tem plano para enfrentamento ao câncer. A deputada Ana Paula Siqueira (Rede) concordou com ele. “Minas tem sido omissa nisso”, falou.

    Corroborou a fala dos parlamentares a deputada Alê Portela (PL), que solicitou a reunião. Ela disse que é preciso unir esforços para a causa e salientou que o acesso à saúde deve ser garantido pelo Estado.

    Jornada exaustiva
    O deputado Doutor Wilson Batista (PSD) disse que o diagnóstico de câncer é muito sofrido para o paciente e sua família. “Ela sabe a jornada que vai enfrentar”, colocou.

    Médico que atua na área, ele contou que, no dia a dia, muitos pacientes iniciam tratamento cedo e são liberados, mas precisam aguardar o último paciente da sua cidade no fim do dia para pegar o transporte e voltar para a sua casa.

    Os deputados Grego da Fundação (PMN) e Mário Henrique Caixa (PV) também manifestaram apoio à causa. Fonte: ALMG.